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PolíticaSerra Leoa

Serra Leoa regressa à calma após detenção de atacantes

nn | com agências
27 de novembro de 2023

O Presidente de Serra Leoa garantiu que maioria dos perpetradores do ataque de domingo (26.11) ao principal quartel e prisão militar do país foram detidos. Toque de recolher obrigatório mantém-se no período da noite.

Homens armados encapuzados e vestidos com uniforme militar permaneciam no domingo numa rua de Freetown, depois de homens armados não identificados atacaram quartéis militares na capital da Serra Leoa
Homens armados encapuzados e vestidos com uniforme militar permaneciam no domingo numa rua de FreetownFoto: Umaru Fofana/REUTERS

O toque de recolher obrigatório foi levantado temporariamente na Serra Leoa ao amanhecer desta segunda-feira (27.11), após um domingo conturbado (26.11). Os ataques na manhã de ontem surpreenderam os civis e as forças de segurança daquele país da África Ocidental e levantaram o temor de um possível golpe de Estado numa região já por si afetada pela instabilidade democrática.

Mas "a maioria dos líderes" dos ataques foram, entretanto, detidos e "a calma foi restaurada", garantiu o Presidente Julius Maada Bio num discurso endereçado à nação ao início da noite de ontem.

Julius Maada Bio, Presidente da Serra LeoaFoto: Cooper Inveen/REUTERS

Tiroteios contra instalações militares

Os moradores da capital, Freetown, acordaram no domingo ao som de um pesado tiroteio quando homens armados tentavam invadir o maior quartel militar do país, localizado perto da sede presidencial.

O ataque visou ainda grandes centros de detenção, incluindo a prisão central que contém mais de 2.000 presos, tendo culminado na libertação e sequestro de um número não confirmado de pessoas, admitiram já as autoridades.

Os ataques aprofundaram a tensão política na África Ocidental e Central, regiões afetadas por golpes de estado recorrentes nos últimos anos, com oito tomadas militares desde 2020, incluindo no Níger e no Gabão este ano. 

O bloco económico regional da África Ocidental, a CEDEAO, do qual a Serra Leoa é membro, descreveu os ataques como uma conspiração "para adquirir armas e perturbar a paz e ordem constitucional" no país, e apelou à "detenção e acusação de todos os participantes neste ato ilegal". 

O bloco regional, que é composto por 15 países, reiterou em comunicado "tolerância zero relativamente a mudanças inconstitucionais de Governo". "Ações como esta não têm justificação. Apelamos à cooperação total com a operação em curso das forças de segurança do Governo para prender os responsáveis", sublinhou a missão da embaixada dos Estados Unidos em Freetown numa nota publicada na rede social X.

Também a União Europeia (UE) se posicionou rapidamente face ao ataque. "A UE está preocupada com as notícias da Serra Leoa e apela ao respeito pela ordem constitucional. Não há justificação para a tomada forçada de quartéis militares. A UE continuará a apoiar todos aqueles que se dedicam a uma Serra Leoa pacífica e democrática", afirmou a delegação dos 27 naquele país da África Ocidental numa declaração publicada nas redes sociais.

Operações em curso

No discurso à nação, Bio sustentou que os ataques foram "uma tentativa de minar a paz e a estabilidade que trabalhamos tanto para conseguir". "As operações e investigações de segurança estão em andamento (e) iremos garantir que os responsáveis sejam responsabilizados através do devido processo", acrescentou o Presidente serra-leonês.

Anteriormente, fontes do Governo citadas pelas agências de notícias internacionais tinham afirmado que as forças de segurança tinham repelido "soldados renegados" que tentaram invadir um quartel com arsenal militar em Freetown.

Às 21h00 desta segunda-feira, haverá um novo recolher obrigatório até às 06h00 do dia seguinte. Este toque de recolher interminente permanecerá em vigor até novo aviso prévio, disse o ministro da Informação, Chernor Bah.

"Enquanto incentivamos os cidadãos a retornarem às suas atividades normais, continuamos a exortar todos a permanecerem calmos, mas vigilantes, e a relatar qualquer atividade suspeita ou incomum à estação de polícia mais próxima", disse Bah.

Vista sobre Freetown, capital da Serra Leoa que terá de cumprir um recolher obrigatório noturno até novas ordensFoto: John Wessels/AFP

Mal-estar na sociedade desde junho

A 24 de junho, realizaram-se eleições na Serra Leoa, tendo Bio vencido com 56,17% dos votos, o que lhe conferiu um segundo mandato de cinco anos, apesar de a oposição ter contestado o resultado. 

As eleições foram as quintas realizadas na Serra Leoa desde o fim da sangrenta guerra civil (1991-2002), que devastou o país e causou mais de 50.000 mortos. 

A votação decorreu sob a sombra dos protestos de 10 de agosto de 2022 contra o elevado custo de vida, que foram duramente reprimidos pelas forças de segurança e nos quais foram mortos pelo menos 27 civis e seis polícias.

Antigo brigadeiro do exército da Serra Leoa, Bio governou o país como ditador durante dois meses e meio em 1996, na sequência de um golpe de Estado que deu início ao processo de realização de eleições democráticas e multipartidárias.