Serra Leoa: Tentativa de golpe eleva tensões na região
Lusa
28 de novembro de 2023
Autoridades da Serra Leoa consideram confrontos mortais em Freetown como uma tentativa de golpe. Com 21 vítimas, incluindo soldados e assaltantes, a CEDEAO se prepara para intervir.
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As autoridades da Serra Leoa declararam hoje que estão a tratar os confrontos que causaram a morte de 21 pessoas na capital, Freetown, no domingo, como uma "tentativa falhada de golpe de Estado".
"Abrimos uma investigação sobre uma tentativa de golpe [de Estado] falhada, pois um grupo de pessoas tentou derrubar o atual Governo recorrendo à força", disse o comissário da polícia William Fayia Sellu.
Segundo o comissário, continuam a perseguir aqueles que "tentaram derrubar uma autoridade legítima pela força".
Os acontecimentos provocaram a morte de 21 pessoas, entre as quais 14 soldados e três assaltantes.
"Os serviços de segurança dizem-me agora que os acontecimentos de 26 de novembro podem muito bem ter sido uma tentativa de golpe de Estado falhada (...) Estas pessoas podem ter tido a intenção de atacar ilegalmente e derrubar o Governo democraticamente eleito da Serra Leoa", afirmou o ministro da Informação, Chernor Bah.
Treze soldados e um civil suspeitos de envolvimento no atentado estão detidos, acrescentou o ministro.
A presidência da Serra Leoa publicou hoje (28.11) nas redes sociais imagens do Presidente Julius Maada Bio a receber uma delegação da CEDEAO e da Nigéria, que detém atualmente a presidência da comunidade.
"O Presidente da Autoridade (...) pediu-nos para sublinhar que a CEDEAO está pronta e empenhada em apoiar o povo da Serra Leoa nos seus esforços para reforçar a segurança nacional por todos os meios, incluindo o envio de elementos regionais, se necessário", afirmou o Presidente da Comissão da CEDEAO, Omar Alieu Touray, no vídeo, sem especificar a que "elementos" se referia.
Segundo o conselheiro de segurança nacional nigeriano, Malam Nuhu Ribadu, "a CEDEAO e a Nigéria não aceitarão qualquer interferência na democracia, na paz, na segurança e na estabilidade da Serra Leoa".
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Invasão ao arsenal militar
Freetown viveu várias horas de confrontos armados entre as forças de segurança e assaltantes desconhecidos, que tentaram invadir um arsenal militar.
A prisão central e outros estabelecimentos prisionais foram invadidos e dezenas de reclusos alegadamente fugiram, mas segundo o ministro da Informação, "mais de 100 dos reclusos regressaram às prisões devido a uma busca aos suspeitos em fuga".
Hoje, a polícia da Serra Leoa publicou as fotografias e as identidades de 34 homens e mulheres procurados no âmbito dos confrontos.
Os 32 homens e duas mulheres classificados como "fugitivos" incluem soldados no ativo e reformados, agentes da polícia e civis.
O comunicado da polícia publicado nas redes sociais promete uma "bela recompensa" a quem fornecer informações que levem à sua captura.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.