Na província da Zambézia os cidadãos queixam-se da paralisia da função pública. A razão? Os funcionários públicos estão demasiado ocupados com a campanha eleitoral para atender os cidadãos.
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“Desde o começo da campanha na cidade de Quelimane, a função pública automaticamente parou, porque o diretor sai para missões da campanha ou o chefe de departamento não está para assinar certo documento”, queixa-se um cidadão. Muitos outros dizem que não está a ser dado andamento aos seus processos porque os responsáveis nas repartições públicas estão ocupados com a campanha política.
O analista político Ricardo Raboco esclarece que a lei só permite aos funcionários candidatos aos órgãos de representação política, nomeadamente a Assembleia Provincial, Assembleia da República e a Presidência, faltar ao trabalho por causa da campanha.
“Fora isso, não é permitido que gestores públicos se furtem de estar em seus gabinetes para fazer campanha. Infelizmente esta tem sido uma prática recorrente desde as primeiras eleições multipartidárias. É de tudo ilegal. Cabe a nós, como sociedade, como cidadãos, exigirmos a reposição da legalidade”, disse Raboco à DW África, explicando que a ausência de um gestor público tem necessariamente consequências na qualidade de prestação dos serviços públicos.
Partidos otimistas
Os responsáveis desmentem as alegações. O secretário permanente da província da Zambézia, Júlio Mendes Ambali, disse à DW África que as acusações carecem de fundamento: “Na verdade, nós como gestores dos recursos humanos gostamos de ter provas. Se existe um funcionário que não está a trabalhar, podemos ver em que condição está, mas se tivéssemos algumas provas aí seria fácil abordá-lo”.
Na Zambézia, a campanha vai de vento em popa. Na quinta-feira (03.10.), Luís Boa Vida, candidato a governador pelo segundo maior partido da oposição, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), disse à imprensa em Quelimane: “A Zambézia não existe. É triste como vive a população da Zambézia. As pessoas não estão a viver, estão a sobreviver na Zambézia. Temos a responsabilidade de alterar isto a partir do dia 15 [de Outubro, data das eleições gerais]”.
O partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO, dá seguimento à sua campanha de angariação de votos porta-a-porta nos bairros de Quelimane. O diretor da campanha, Camilo Inácio, mostra-se optimista: “Estamos a difundir a nossa mensagem, o manifesto da FRELIMO. Os nossos eleitores acompanham-nos atentamente. Conseguimos convencer mais eleitores e aqueles que estavam noutros partidos também aparecem para se juntar à FRELIMO. A campanha está a decorrer de forma positiva”, afirmou.
Um agente da polícia assassinado
Serviços públicos na Zambézia paralisados
O balanço de trinta dias apresentado pela polícia na Zambézia fez na quinta-feira (03.10.) aponta registo de numerosos acidentes de viação, ilícitos eleitorais e muitas agressões físicas. O caso mais grave foi contra um agente da polícia, morto à pancada por populares no distrito de Pebane, quando tentava dispersar uma briga entre membros de partidos rivais.
O porta-voz da polícia Sidner Lonzo explicou que se tratou do chefe do posto policial de Magiga: “Agrediram-no com paus e catanas, enquanto ele lutava pela sua vida. O nosso colega chegou a efetuar alguns disparos, mas não foi suficiente para intimidar a ação desses meliantes”, disse.
Esta semana o maior partido da oposição, Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) pretende apresentar ao público o seu programa eleitoral. Confiante, o candidato a governador da Zambézia, Manuel de Araújo, disse que só está à espera do dia 15 de outubro para confirmar a sua vitória: “Os banhos de multidão nos distritos e cidade de Quelimane (...) são uma expressão inequívoca da vontade popular em ter a 15 de outubro deste ano a mim próprio no cargo de governador da província da Zambézia”, disse.
Custo de vida aumenta em Inhambane
Em Moçambique, a crise económica afetou a vida de comerciantes e clientes, que reclamam dos altos preços. Saiba como os moçambicanos na província de Inhambane, no sul do país, sobrevivem apesar da crise.
Foto: DW/L. da Conceição
"Estamos cansados"
Os moçambicanos e, em particular, os residentes da província de Inhambane, estão ansiosos para ver o fim da crise financeira que o país atravessa, também relacionada com a desvalorização do metical, a moeda local. Manuel Santos, um vendedor de chinelos femininos nas ruas da cidade de Maxixe, conta-nos que está cansado de passar horas a trabalhar debaixo do sol, exposto a vários perigos.
Foto: DW/L. da Conceição
Buscar sustento para a família
António Macicame, residente de Inhambane, fabrica cestos de palha para conseguir algum dinheiro que o permita sustentar a sua família. São ao todo cinco pessoas. Ele diz que não tem sido fácil conseguir vender os seus cestos e por isso circula nas ruas e avenidas para conquistar os clientes.
Foto: DW/L. da Conceição
Onde estão os clientes dos supermercados?
Os clientes desapareceram das lojas e supermercados nestes últimos anos devido ao elevado custo de vida. As compras diminuíram consideralvemente e os supermercados são apenas frequentados pelas famílias quando fazem compras para cerimónias especiais. Muitos preferem comprar nas ruas.
Foto: DW/L. da Conceição
Roupas em segunda mão
Em várias partes da cidade, nos passeios e nas calçadas, há roupas em segunda mão à venda. Por causa do aumento dos preços das roupas importadas da Europa e Ásia, os habitantes de Inhambane passaram a frequentar menos as boutiques modernas, comprando mais roupas usadas. Uma peça usada pode ser vendida por menos de um euro. Já nas boutiques, o preço mínimo é de 10 euros.
Foto: DW/L. da Conceição
Menos pão na mesa
Também várias padarias estão vazias e sem clientes nos balcões. Muitas famílias têm optado por consumir produtos mais frescos e nutritivos, como a mandioca e a batata doce, substituindo o pão na mesa, por estar cada vez mais caro.
Foto: DW/L. da Conceição
Os vários preços do frango
O frango ainda é o prato preferido de muitas pessoas na província de Inhambane, mas os preços variam. O preço mínimo é de cerca de 280 meticais e nas zonas rurais chega a custar 400 meticais, ainda vivo. Preparado nos restaurantes, um prato de frango custa no mínimo 500 meticais. Jovens e senhoras viram uma oportunidade de negócio em vender frangos vivos para terceiros nas ruas e quintais.
Foto: DW/L. da Conceição
Compra-se menos
Devido à crise, compra-se menos produtos de primeira necessidade nas várias comunidades circunvizinhas às cidades. Antes, as viaturas que partiam voltavam cheias, mas atualmente poucos comerciantes vão até às cidades para fazer grandes compras.
Foto: DW/L. da Conceição
Crise na hotelaria e turismo
A hotelaria e o turismo têm sido fundamentais para o desenvolvimento. O Governo moçambicano afirma que houve melhoras nos últimos dois anos. Mas, na realidade, o cenário que se nota é de um fraco número de clientes. Há hotéis que não recebem mais de dez hóspedes no período de um mês - mesmo oferecendo preços promocionais. Por isso, acabam por demitir muitos dos seus trabalhadores.
Foto: DW/L. da Conceição
Crise nos transportes
Muitas pessoas já não viajam com regularidade. Hoje, delega-se alguém de confiança até mesmo para se receber os salários nos distritos onde não há bancos. O objetivo é poupar o dinheiro dos transportes. Os transportadores, por sua vez, dizem que as suas receitas diárias baixaram em 50%.
Foto: DW/L. da Conceição
Salões de beleza vazios
Salões de beleza tem sido caraterizados pelo fraco movimento de clientes. O aumento do custo de vida - e também dos preços de produtos de beleza - afetou a vida de muitas mulheres. Elas poupam dinheiro para comprar produtos da primeira necessidade e já não frequentam salões de beleza como antes. Para essas mulheres o dilema é: comer ou viver de beleza?
Foto: DW/L. da Conceição
"Não é tempo de cruzar os braços"
Cecília Jasse vende bolinhos e pão, juntamente com outras senhoras no mercado central na cidade de Maxixe. Enquanto o seu marido é trabalhador sazonal numa empresa, ela compra pão numa das padarias locais para revender. Acorda de madrugada para fritar bolinhos e diz que não quer ficar em casa à espera do marido. Para ela, "não é tempo de cruzar os braços".