Sete anos de salários em atraso nos Correios de Bissau
Adrian Kriesch | ms
16 de maio de 2017
Bernardino Santos Manu, funcionário dos Correios na capital guineense, continua a ir para o trabalho todos os dias, apesar de não receber há 90 meses. E a longa crise política na Guiné-Bissau parece não ter fim à vista.
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A crise política na Guiné-Bissau parece não ter fim à vista e afeta cada vez mais a população. Os professores das escolas públicas estão em greve desde segunda-feira (15.05) para reivindicar melhores condições de trabalho.
Situação difícil vivem também os funcionários dos Correios de Bissau, que não recebem os seus salários há mais de sete anos. O sindicato que representa os trabalhadores responsabiliza os sucessivos governos pela "morte lenta" dos Correios.
Ainda assim, todas as manhãs, às 7h30 em ponto, Bernardino Santos Manu, de 56 anos, apresenta-se ao trabalho no principal posto dos Correios, na capital. E todos os dias cumprimenta os seus colegas na entrada do edifício, no centro de Bissau. Este é o momento mais emocionante do dia, porque os 137 funcionários que aqui trabalham não têm muito para fazer.
Guiné-Bissau: Correio sem dinheiro
02:31
Por causa da revolução digital e tecnológica, chegam cada vez menos cartas. Antes, recorda Bernardino Santos Manu, com um brilho nos olhos, "havia muitos clientes, milhares de cartas para enviar" para o estrangeiro. "Outrora era bom", desabafa, recordando os tempos em que as estações de correio guineenses funcionavam "no seu pleno", não como agora.
Correios em "queda livre"
Antigamente, os habitantes de Bissau iam aos Correios para telefonar para o estrangeiro. Mas depois vieram os aparelhos de fax, os telemóveis, os smartphones - e com eles o fim dos Correios, lamenta Manu, que trabalha aqui há 16 anos. "É este o grande entrave. O Estado não subvencionou os Correios e deixou-os em queda livre", critica.
Mas o pior de tudo é que os funcionários dos Correios não recebem os seus salários há sete anos e meio, sublinha Bernardino Santos Manu, que também representa os seus colegas no comité sindical.
O funcionário sobrevive graças à ajuda dos familiares e de alguns amigos. "Quando lhes falo da minha situação financeira, alguns têm pena de mim e dão-me alguma coisa para sustentar a família. É o que nos sustém até à data presente", conta.
Sete anos de salários em atraso nos Correios de Bissau
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Sem salários nem subsídios
Há anos que os correios e os seus funcionários são negligenciados na Guiné-Bissau, um dos países mais pobres do mundo. Não recebem salários nem subsídios. Seis trabalhadores morreram enquanto esperavam pelos ordenados. Não tinham como pagar os cuidados médicos.
A situação nos Correios é cada vez mais difícil, lamenta uma funcionária ouvida pela DW África. "Os nossos filhos não podem ir para uma boa escola. Não conseguimos pagar qualquer formação. Outros perderam as suas casas porque não as podiam pagar", conta. "Estamos muito mal".
E enquanto a crise na Guiné-Bissau não se resolve, Bernardino Santos Manu e os seus colegas dos Correios vão continuar a ir trabalhar todos os dias. Dizem que é esse o seu dever.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.