Setor industrial está a cortar empregos em Moçambique
kg | Lusa
29 de abril de 2018
Relatório da Universidade Eduardo Mondlane em parceria com universidades estrangeiras mostra que as indústrias transformadoras estão a perder empresas. Entre os motivos estão a crise da dívida e a desvalorização cambial.
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O setor das indústrias transformadoras em Moçambique está a perder empresas e as que resistem estão a cortar empregos, mostra um estudo realizado pela Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, em parceria com universidades estrangeiras.
A crise de dívida externa e uma forte desvalorização da moeda em 2015 fizeram o desempenho macroeconómico de Moçambique "atingir um ponto crítico", assinala o Inquérito às Indústrias Manufactureiras (IIM) 2017. O estudo foi conduzido pelo Centro de Estudos de Economia e Gestão (CEEG) de Maputo, o Grupo de Pesquisa em Economia do Desenvolvimento (DERG) da Universidade de Copenhaga, e a United Nations University World Institute for Development Economics Research (UNU-WIDER).
A dimensão média das empresas "diminuiu de 20 trabalhadores em 2012 para 14 em 2017", refere-se a pesquisa que abrangeu 523 firmas no último ano. A redução da massa laboral resultou numa perda total de 5.100 postos de trabalho nas 831 empresas entrevistadas - 28% delas, estudadas no mesmo trabalho em 2012, já tinham fechado portas em 2017, detalha o relatório.
Estes encerramentos ao longo de cinco anos terão arrastado outros 4.300 empregos, acrescenta o estudo. Ao todo, 9.400 postos de trabalho desapareceram. "As condições difíceis também se refletem nas perceções dos proprietários das empresas sobre o desempenho das suas empresas", refere-se nas conclusões.
Quase 20% dos proprietários das empresas "disseram que sofreram grandes perdas em 2016, quase três vezes mais do que em 2011". Além disso, elas têm dificuldade em receber matérias-primas, que "são muitas vezes de baixa qualidade ou em falta", obrigando a paragens na produção.
Poucas exportações
Ainda assim, há indicadores que mostram que "a procura pode estar a retornar lentamente para alguns produtos". A pesquisa conclui também que a produtividade "aumentou de 2015 para 2016 para pequenas e médias empresas, enquanto declinou para as microempresas".
As exportações são raras na amostra, com apenas 19 empresas a reportar produtos de exportação. A maioria dos proprietários "culpa os altos custos em obter uma licença de exportação como motivo para não o fazer", acrescenta o estudo.
Outra face do setor espelha a informalidade que ainda reina nas atividades económicas do país: "muitas empresas ainda operam sem uma licença de registo" e "quase metade das empresas tem medo de ser fechada pelas autoridades. O principal motivo para tal é a dificuldade em se adequar às leis".
"O acesso ao crédito é fortemente restringido, principalmente devido a falta de informação, elevadas garantias bancárias exigidas e taxas de juro também elas muito elevadas", acrescenta o estudo.
A recolha de dados ocorreu entre julho e setembro de 2017 nas principais áreas urbanas de sete províncias: Cidade de Maputo, Maputo Província, Gaza, Sofala, Manica, Tete e Nampula.
De roupa a peças de carro: Os mercados de Maputo
São muitos os mercados na capital moçambicana. Maior ainda é a variedade de produtos à disposição dos consumidores. Mas nem todos os mercados têm as infraestruturas necessárias para os comerciantes.
Foto: DW/R. da Silva
Mercado de Xikhelene
Oficialmente mercado da Praça dos Combatentes, é um dos maiores de Maputo e vende desde materiais de construção e peças de automóveis a refeições. Também serve de terminal para os semicoletivos (chapas). Devido à falta de espaço, muitos comerciantes recorrem aos passeios ou mesmo às estradas para vender os seus produtos. A polícia tem estado a travar uma guerra para os retirar de lá.
Foto: DW/R. da Silva
Negócio de lenha
A venda de lenha não é comum noutros mercados. Mas em Xikhelene, Carlota Tembe, de 57 anos, que não quis ser fotografada, disse que trabalha neste negócio desde os seus 28 anos e que foi assim que educou e alimentou os seus filhos. O espaço que ocupava no mercado era pequeno, mas com o passar do tempo foi alargando o seu negócio.
Foto: DW/R. da Silva
Esquina de tambores
No mercado de Xikhelene, todas as esquinas estão identificadas com uma marca. Neste local são vendidos estes tambores, cuja capacidade ronda entre os cinco a 200 litros. São maioritariamente senhoras que se dedicam a este comércio. A taxa diária paga por cada um dos vendedores é de 37 cêntimos de euro em todos os mercados.
Foto: DW/R. da Silva
Mercado de construção
Localizado na parte mais a norte de Maputo, e também conhecido como Praça da Juventude, o mercado de Magoanine especializa-se na venda de areia grossa e fina, pedra, cimento e blocos para a construção. No local é possível ver camionetas carregando ou descarregando esses produtos.
Foto: DW/R. da Silva
Os trabalhadores do estaleiro
No mercado de Magoanine, os trabalhadores destes estaleiros são maioritariamente jovens com idades entre os 17 e os 30 anos. Com este trabalho muitos deles alimentam as suas famílias, alguns pagam propinas e outros constroem as suas próprias casas. Além de blocos, este mercado oferece igualmente tanques para lavar a roupa.
Foto: DW/R. da Silva
Mercado George Dimitrov ou Benfica
É outro grande mercado de Maputo. A foto mostra vendedores a fazer comércio nas bermas da Estrada Nacional 1 (EN1), devido à falta de espaço. O local é ainda um dos terminais rodoviários mais movimentados da capital e é alvo da ação de bandidos nas horas de ponta. Já houve várias operações policiais no sentido de retirar os vendedores dos passeios, sem sucesso.
Foto: DW/R. da Silva
Madeira do centro do país
Muita madeira vinda do centro de Moçambique chega ao mercado George Dimitrov, onde trabalha muita gente especializada na arte de fazer portas, aros para portas e janelas e mobiliário. Os camiões que estacionam no local para o descarregamento da madeira muitas vezes dificultam o tráfego, criando enormes filas de carros nas primeiras horas da manhã.
Foto: DW/R. da Silva
Monumental: O mercado da mecânica
Com o piso negro e escorregadio, por causa de lubrificantes que frequentemente são despejados no local, este é o maior mercado de peças de viaturas. Por causa do serviço realizado ali, diariamente uma quantidade de óleo queimado é drenada para o solo - um perigo para a saúde pública. O espaço circular ocupado pelos vendedores e mecânicos era utilizado para as touradas na era colonial.
Foto: DW/R. da Silva
Arranjos e artigos de automóvel
Augusto Sitoe, de 27 anos, é mecânico no mercado Monumental há sete anos. Ele conta que muitas viaturas aparecem para ser reparadas. De facto, quando um carro chega ao local já é rodeado por mecânicos para os primeiros diagnósticos. E não só: também aparecem jovens que vendem alguns artigos para enfeitar o veículo, bem como outros especializados em bate-chapa e pintura.
Foto: DW/R. da Silva
Vestuário
O mercado Compone está situado no fim da cidade de cimento e no início do bairro Polana Caniço. É especializado na venda de roupa e calçado em segunda mão. Antes da expansão de outros mercados, foi uma grande referência. Mas dada a exiguidade do espaço para o exercício da atividade, muitos preferiram instalar-se no vizinho mercado de Xikhelene.
Foto: DW/R. da Silva
"Estrela Vermelha"
O Estrela Vermelha é o mercado informal do centro de Maputo. Há aqui muitos produtos são de origem duvidosa - eletrodomésticos, telefones, máquinas fotográficas, além de bebidas alcoólicas contrabandeadas. Os cidadãos que são vítimas de roubo costumam ir a este mercado para procurar os seus pertences. Além disto, a falta de higiene também preocupa as autoridades.
Foto: DW/R. da Silva
De tudo um pouco
O mercado CMC é o mais novo dos mercados aqui mencionados e ganhou em pouco tempo o estatuto de um dos maiores de Maputo. Localiza-se mais a norte da cidade. Tal como outros mercados, exceto o Estrela Vermelha e a Praça da Paz, é também um terminal rodoviário dos chapas. Aqui há quase todos os produtos, destacando-se boutiques que vendem roupa nova a preços baixos, que variam de cinco a 15 euros.
Foto: DW/R. da Silva
Mercado da Junta
É um dos mais antigos mercados, localizado no maior terminal rodoviário de Maputo e no histórico bairro de Chamanculo, na parte ocidental da capital. Ao longo da avenida Gago Coutinho pode-se ver gente a vender madeira, que é a bandeira deste mercado. São madeiras adaptadas para ser base para assentar congeladores, geleiras ou fogões. A ideia é não danificar a estrutura dos aparelhos.
Foto: DW/R. da Silva
Bases de madeira
Jordão Macuvele tem 27 anos e trabalha neste negócio desde os seus 16 anos. Diz ele que, em média, consegue 15 euros por dia. O vendedor sustenta, assim, a sua família composta por sete pessoas. Segundo Macuvele, as bases de madeira também são adaptadas por artistas para servirem de sofás, mesinhas de centro e outro tipo de mobiliário.