No Dia Mundial de Combate à SIDA, o Presidente Filipe Nyusi reconhece que é preciso reforçar as ações contra a doença. Moçambique é o segundo da África Austral e Oriental em número de infeções por ano.
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A SIDA vitimou 62 mil moçambicanos em idade economicamente ativa em 2016, conforme referiu nesta sexta-feria (01.12) o Presidente da República, Filipe Nyusi, em Maputo, durante evento em alusão ao Dia Mundial de Luta Contra o HIV/SIDA, assinalado hoje.
O Presidente disse que "existem cerca de 1,9 milhões de pessoas a viver com HIV no país”. Este total equivale a um em cada oito adultos, acrescentou Nyusi, que afirmou que o país tem uma meta para reduzir o número de vítimas.
"Queremos reduzir a taxa de mortalidade em 40% ate 2019", referiu o chefe de Estado. "A forma mais eficaz de inverter a atual situação é reforçar as ações de comunicação para a mudança social e de comportamento, produzindo mensagens claras, tendo em conta as especificidades dos diferentes grupos-alvo", sublinhou.
Doença preocupa autoridades
Dados da agência ONUSIDA demonstram que, em Moçambique, houve uma redução do número de casos da doença desde 2010 – de 120 mil para 83 mil infetados. Entretanto, a situação ainda preocupa as autoridades.
Na província da Zambézia, no centro do país, por exemplo, ao contrário da tendência nacional, o índice de contaminação subiu de 12% para 15% nos últimos anos, de acordo com o Governo provincial. Atualmente, a província tem 750 mil habitantes infetados.
O coordenador do Núcleo Provincial da Zambézia de Combate ao HIV/SIDA, Víctor Manuel, diz que intervenções para o combate da doença estão a ser reforçadas em dois municípios.
"São os distritos de Quelimane e Nicoadala que recebem a intervenção denominada DREAMS, que é centrada na raparigas. Os índices de incidência de HIV/SIDA são uma preocupação", revela Manuel.
Ativistas pedem mais reflexão
A ativista Angelina Saide, representante do núcleo municipal de combate à SIDA de Quelimane, capital da província da Zambézia, acusa as organizações de nada fazerem para mitigar a doença.
"Admiro-me quando aparecem novas organizações a investir em recursos humanos e o problema não é sanado. É de mais, de 12 para 15%, não estamos a fazer nada. Há muitas associações não-governamentais que estão a surgir, mas entretanto a contaminação ainda aumenta, afinal o que se está fazer?", questiona-se. Segundo Angela Saide, mais do que investir no combate, o importante agora é "procurar qual é a raiz deste aumento do HIV".
A também ativista comunitária Leonarda Varinde aponta a ignorância como uma das causas do aumento da transmissão da doença, que afeta sobretudo os mais jovens, na província da Zambézia.
"Os jovens podem ter ouvido os conselhos, mas não acatam a mensagem que são dadas, são ignorantes. Ultimamente tem sido difícil convencer os jovens, não te dão tempo estão mais ligados a bebedeira", lamenta.
O HIV/SIDA nos PALOP
Em termos nacionais, apesar dos progressos, Moçambique ainda tem um longo caminho a percorrer para atingir a meta de reduzir para 30 mil o número de casos anuais de HIV/SIDA até 2020. De acordo com dados da agência ONUSIDA de 2016, a três anos desta meta, o país continua a ser o segundo da África Austral e Oriental com maior número de infeções por ano, depois da África do Sul.
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Em Angola, foram registados mais de 22 mil novos casos de HIV/SIDA só no primeiro semestre deste ano. Deste total, pelo menos 1.300 são crianças. Em 2016, o país contabilizou quase 12 mil vítimas fatais da doença.
Dados do Instituto Nacional de Luta contra a SIDA em Angola revelam que a taxa de prevalência atual da doença no país é de 500 mil pessoas, o equivalente a 2% da população.
Na Guiné-Bissau, há pelo menos 36 mil portadores do vírus HIV, segundo dados das Nações Unidas. A doença representa a terceira causa de mortalidade e incapacidade no país, onde apenas um em cada quatro doente tem acesso aos medicamentos, conforme informou o Fundo Global.
Em Cabo Verde, a taxa de incidência de HIV na população é de 0,8%. O país atualmente tem uma cobertura de mais de 60% de tratamento com medicamentos anti-retrovirais, mas a meta, segundo o Ministério da Saúde, a meta é abranger 90% dos seropositivos.
Ainda de acordo com o Ministério da Saúde de Cabo Verde, as taxas de transmissão do vírus entre mãe e filho têm variado entre 0% a 3%, nos últimos sete anos. O desafio, porém, é reduzir as infeções na parcela da população com idades acima dos 25/30 anos.
Kasensero: local de origem da SIDA
Quando a primeira epidemia de SIDA global aconteceu na aldeia de Kasensero no Uganda, muitos acreditavam que se tratava de bruxaria. Médicos identificaram a doença como vírus. Hoje, 33% dos habitantes são seropositivos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma aldeia de pescadores
Kasensero é uma aldeia pequena e pobre situada na margem do Lago Vitória no distrito de Rakai no sul do Uganda na fronteira com a Tanzânia. Em 1982, a aldeia tornou-se famosa a nível mundial. Em apenas alguns dias morreram milhares de pessoas com uma doença desconhecida. O HIV já era conhecido nos EUA, na Tanzânia e no Congo. Mas uma epidemia com esta dimensão nunca tinha acontecido.
Foto: DW/S. Schlindwein
Milhares de pessoas morrem
Kasensero 1982: Thomas Migeero era a primeira vítima. Primeiro perdeu a fome e depois os cabelos. No fim ele só era pele e osso, se lembra o seu irmão Eddie: "Alguma coisa dentro dele comeu-lhe". Durante o funeral, o seu pai não se aproximou do caixão. Todo mundo acreditava numa maldição. Hoje sabemos: morreu de SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma cidade morta
Quando a doença começou a matar milhares de pessoas, os habitantes começaram a abandonar a cidade. As famílias que podiam partiram e deixaram os seus campos de milho, e os bovinos e caprinos. Até hoje, Kasensero parece uma cidade abandonada e morta. Só os mais pobres ficaram.
Foto: DW/S. Schlindwein
Como o vírus chegou a Kasensero
Presumivelmente o vírus chegou através das rodovias da África Oriental a Kasensero. Condutores de veículos pesados passam a noite nos postos fronteiriços de Kasensero. Muitos procuram prostitutas como esta mulher de 30 anos de vestido rosa, que gostaria não ser reconhecida. Conta que os homens pagam quatro vezes mais para o sexo sem preservativo. Ela não se importa, pois é seropositiva.
Foto: DW/S. Schlindwein
SIDA como normalidade
Joshua Katumba é seropositivo. O pescador de 23 anos nunca visitou uma escola e não sabe ler e escrever. Não tem uma perspetiva para um futuro melhor – como a maioria dos que vivem em Kasensero. Um terço dos habitantes estão infetados com o vírus da SIDA – um dos índices de contaminação pelo HIV mais altos do mundo.
Foto: DW/S. Schlindwein
Medicamentos grátis
Yoweri Museveni, o Presidente do Uganda, foi o primeiro presidente da África, que reconheceu a SIDA como uma doença. A seguir, o Uganda desenvolveu-se como modelo da luta contra a SIDA. Pesquisadores internacionais chegaram a Rakai. Subsídios foram distribuídos. No hospital da região, os doentes com HIV passam horas em fila para buscar os seus medicamentos: são grátis.
Foto: DW/S. Schlindwein
Violência sexual
Há cinco anos, que Judith Nakato é seropositiva. Provavelmente ela foi infetada quando foi estuprada e ficou grávida. Pouco antes do parto, os médicos perceberam que ela tinha o vírus e conseguiram evitar uma transmissão ao bebé. Todos os dias, Judith tem que tomar os seus medicamentos contra a SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Anti-retrovirais escassos
Desde que Judith Nakato começou a tomar os seus medicamentos, conseguiu voltar a trabalhar. Os comprimidos, chamados anti-retrovirais ou ARV, evitam que a SIDA se desenvolve totalmente. Os medicamentos são pagos pelo Fundo Global contra a SIDA. Mas Judith Nakato tem que deslocar-se a uma outra cidade a mais de cem quilómetros para receber a sua medicação, pois os medicamentos são escassos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Pacientes estão moribundos
Olive Hasal de 50 anos emagreceu a pele e ossos. Ela respira com muito esforço e os olhos parecem cansados. Ela mostra o comprimido que está embrulhado num pano. "Este é o último", diz ela. Hasal já viu morrer o seu marido e as suas duas crianças. Ela sabe que ela também vai morrer se ninguém for buscar os medicamentos na capital do distrito que fica a 140 quilómetros de distância.
Foto: DW/S. Schlindwein
Modelo contra a luta de SIDA?
Uganda foi considerado modelo da luta contra a SIDA: grandes somas de dinheiro foram doadas pela comunidade internacional. No início com sucesso: os casos de infeções diminuíram em cerca de dois terços a partir de 1990. Mas nos últimos dez anos, o número das infeções aumentou novamente.
Foto: DW/S. Schlindwein
Testes clínicos e pesquisas
Desde as primeiras tentativas de terapias em 1996, os habitantes foram usados para estudos de longo prazo. Kasensero é o laboratório das pesquisas globais da SIDA. O resultado da pesquisa mais recente: homens circuncidados reduzem o risco de infeção em 70 %. O Uganda aposta agora na circuncisão masculina para reduzir a propagação do HIV-SIDA.