Simões Pereira regressa a Bissau para "resgatar o país"
20 de setembro de 2025
O presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, regressou esta sexta-feira (19.09) à Guiné-Bissau, após nove meses no estrangeiro. Simões Pereira diz que voltou para "resgatar" o país, onde é proibido manifestar há mais de um ano, com as eleições legislativas e presidenciais marcadas para 23 de novembro deste ano.
O também Presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP) diz que ter voltado para assumir a luta política, chegou a Bissau proveniente de Dakar, capital do Senegal, após ter estado um longo período em Lisboa.
Momentos antes da sua chegada, as forças policiais bloquearam o acesso ao interior e recinto do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira. Militantes do PAIGC e até jornalistas foram impedidos o acesso e, por isso, Simões Pereira não pôde prestar declarações num ambiente mais tranquilo.
Mas por insistência dos jornalistas, já fora do recinto do aeroporto e abafado por uma multidão, Domingos Simões Pereira falou sobre o seu regresso a Bissau.
"Estou de volta ao país para liderar uma revolução que nos vai levar ao poder, que vai levar ao resgate deste país e a promoção do nosso futuro", disse.
Oficialização da candidatura
Este sábado (20.09), o Presidente do PAIGC vai ser oficializado pelo seu partido como candidato às eleições presidenciais de novembro. E sobre os rumores em relação a um eventual bloqueio da sua candidatura pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ) da Guiné-Bissau, devido a um alegado processo judicial contra a sua pessoa, o líder político mostra-se tranquilo.
"Não conheço isso [os rumores], quando o conhecer vou reagir", afirmou dentro da viatura, rodeado por centenas de pessoas.
Sobre a candidatura presidencial de Simões Pereira, o jurista Mariano Pina esclareceu à DW que não há fundamento para impedir o Presidente do Parlamento guineense avançar para a corrida eleitoral.
"Se o engenheiro Domingos Simões Pereira não for condenado, não tem uma condenação transitada em julgado, não tem um processo no tribunal, e como ele próprio declara que não tem dívida com o Estado, não vejo como o tribunal pode barrar [a sua candidatura]. Fazer barramento político a um candidato, não sei se o tribunal vai cair nessa tentação".
O ambiente político pode ganhar mais ânimo com o regresso do presidente do PAIGC ao país. Domingos Simões Pereira vai acrescentar "muito" à luta política contra o regime guineense, defende o analista político Beto Infande.
"A chegada de Domingos Simões Pereira, juntando-se com os que cá estão, Nuno Nabiam, Fernando Dias e outros, podemos dizer que é a oportunidade para que esse sistema político que não tem Inter com a democracia mude. Mas isso tem que ser feito com responsabilidade e seriedade", defendeu o analista.
A Guiné-Bissau vai realizar em novembro, as oitavas eleições legislativas e sétimas presidenciais, desde 1994. Mas vários cidadãos ainda não acreditam na concretização do ato eleitoral, argumentando que a ida às urnas já tinha sido adiada sem "motivos fortes".
O analista político Beto Infande também tem dúvidas se as eleições terão lugar em novembro, mas segundo disse, para evitar um eventual adiamento, tem que haver uma posição forte dos partidos políticos.
"Eu estou muito séptico sobre isso, mas, de facto, quem pode fazer as eleições acontecerem são os partidos da oposição. Se eles mantiverem-se firmes nas suas posições, as eleições vão acontecer".
A deposição das candidaturas no Supremo Tribunal de Justiça termina na quinta-feira (25.09).