Angola: Jornalistas cancelam boicote à cobertura parlamentar
Lusa | ar
17 de janeiro de 2018
Sindicato dos Jornalistas Angolanos anunciou o levantamento ao boicote à cobertura da reunião plenária na Assembleia Nacional, na sequência de diligências junto do Parlamento.
Publicidade
O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) decidiu suspender o boicote à cobertura da reunião plenária de quinta-feira (18.01.) na Assembleia Nacional, na sequência de diligências junto do Parlamento, cuja direção "garantiu o acesso dos jornalistas" ao hemiciclo.
Em declarações à agência de notícias Lusa, o secretário-geral do SJA, Teixeira Cândido, argumentou que recebeu igualmente garantias da direção do parlamento angolano sobre a melhoria das condições de captação do áudio a partir do hemiciclo.
"Porque a partir da [sala] plenária não se consegue obter o áudio pelo que os colegas vão alternadamente ainda usar também a outra sala [até agora a única disponível, sem acesso ao hemiciclo] para a recolha do áudio. Eles estão a trabalhar para resolver esta situação, mas a presença no plenário está já garantida", disse.
Recorde-se que a 10 de janeiro, o secretário-geral do SJA disse à imprensa, em Luanda, que faltava apenas uma posição firme das direções dos órgãos públicos de informação de adesão ao boicote, convocado pelo sindicato, à cobertura da reunião plenária de 18 de janeiro, em protesto contra as limitações e condições de trabalho no edifício-sede do Parlamento.
Preocupações dos jornalistasO sindicato divulgou esta quarta-feira (17.01.), na capital angolana, em conferência de imprensa, o levantamento do boicote anteriormente convocado e acrescentou que vai continuar a trabalhar com a direção do Parlamento angolano para ver resolvidas as preocupações dos jornalistas.
"A Assembleia Nacional não avançou prazos para resolução definitiva das preocupações dos jornalistas, daí que continuamos a trabalhar com a direção do parlamento para podermos resolver a situação. Mas a presença dos colegas nos plenários está salvaguardada", referiu.
Até agora, os jornalistas que cobriam a atividade parlamentar estavam confinados a uma sala no edifício sede da Assembleia Nacional, com recurso a um ecrã de televisão para transmissão da atividade via canal interno, mas sem poderem ter acesso à sala ou sequer conferir os resultados das votações, apesar do rigoroso processo de credenciamento para entrar no perímetro.
Jornalistas nas galerias da ANNuma das sessões plenárias realizadas em dezembro, os jornalistas insurgiram-se mesmo contra a presença, na sala, de um agente da Polícia Nacional. Uma postura que, segundo o líder dos jornalistas angolanos, contraria o regimento da Assembleia Nacional.
Numa recente mensagem publicada nas redes sociais, o ministro da Comunicação Social de Angola, João Melo, anunciou que os jornalistas vão passar a poder sentar-se nas galerias da Assembleia Nacional para cobrirem as sessões abertas daquele órgão.
O Parlamento angolano discute e vota, na generalidade, esta quinta-feira, o Orçamento Geral do Estado de 2018.
"Este julgamento é uma palhaçada"
Presos desde junho de 2015, os 15 ativistas aguardam o desfecho do julgamento desde setembro. Recentemente, Nito Alves classificou o julgamento como uma "palhaçada", o que lhe valeu uma condenação a seis meses de prisão.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Juliao
"Este julgamento é uma palhaçada"
Depois de quase seis meses de julgamento, Manuel Nito Alves, um dos 15 ativistas detidos desde junho, afirmou que todo o processo era uma "palhaçada". A afirmação valeu-lhe uma condenação a seis meses de prisão. A Central Angola 7311 resolveu criar várias imagens, onde os ativistas surgem com maquilhagem de palhaço, para desmascarar o "circo" em que estão envolvidos.
Foto: Central Angola 7311
Reclusos do Zédu
No início do julgamento, a 16 de novembro do ano passado, os ativistas chegaram a tribunal com t-shirts onde tinham escritas frases de protesto. Luaty Beirão, um dos revus, afirmou na altura que "Vai acontecer o que o José Eduardo decidir. Tudo aqui é um teatro".
Foto: DW/P.B. Ndomba
#LiberdadeJa
Ao longo dos vários meses de processo, foram vários os protestos que aconteceram nas ruas de Luanda e de outras cidades. A Amnistia Internacional pede a liberdade dos prisioneiros de consciência, que se mostram bastante desgastados psicologicamente.
Foto: Reuters/H. Corarado
Prisão domiciliária desde dezembro
Em dezembro, o Tribunal Constitucional de Angola decretou o fim da prisão preventiva dos 15 ativistas. No acórdão era possível ler-se que "cabe ao juiz da causa determinar a medida de coação a aplicar nos termos da lei". A Procuradoria Geral da República propôs a alteração da medida de coação para prisão domiciliária.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Juliao
Prisão domiciliária sem fundamento
Em fevereiro, o Tribunal de Luanda decretou que os ativistas deveriam continuar em prisão domiciliária. Praticamente um mês depois, os revus continuam à espera das alegações finais. "Nós sabemos que não podemos esperar nada de bom disto, apenas uma condenação", disse António Kissanda, da Central Angola 7311, à DW.
Foto: Reuters/H. Corarado
"Os 15+2 estão a ser julgados por falar a verdade"
"Falar sobre as boas condições que José Eduardo dos Santos criou não é crime, mas dizer que não há luz, água potável, educação já é", diz António Kissanda. O 15+2 (Laurinda Gouveia, na foto, e Rosa Conde foram constituídas arguidas, mas aguardam julgamento em liberdade) estão a ser julgados porque "falaram a verdade".
Foto: Central Angola 7311
Ativistas usam greve de fome como forma de protesto
Em setembro, Domingos da Cruz, Inocêncio de Brito, Luaty Beirão (na imagem) e Sedrick de Carvalho declararam uma greve de fome contra a prisão preventiva, ilegal nessa altura, ao abrigo da Constituição angolana. Luaty Beirão manteve-se em greve de fome até ao final de outubro. Agora, é Nuno Dala quem usa a greve de fome como forma de protesto: tomou a decisão há seis dias (9.03).
Foto: Central Angola 7311
Julgamento sem fim à vista
Ontem (14.03), realizou-se mais uma sessão do julgamento dos 15+2. David Mendes (à esquerda na imagem), um dos advogados de defesa do grupo, recusa depor como declarante no processo. A sessão de ontem, prevista para as declarações finais, foi adiada para 21 de março, depois de o advogado ter sido impedido de exercer as suas funções como advogado de defesa.
Foto: DW/Nelson Sul d'Angola
"Isto é uma farsa que os levou à cadeia e os mantém na cadeia"
Para António Kissanda, da Central Angola 7311, este julgamento é uma farsa e lembra todos os outros ativistas que, ao longo dos 36 anos em que José Eduardo dos Santos está no poder, foram perseguidos e mortos. "Nós já estamos mortos, para dizer a verdade, só falta estarmos no caixão como prova disso", afirma. "Tal como em qualquer ditadura, é importante que não se criem mentalidades no povo".