Canais de televisão e estações de rádio favorecem alguns partidos em detrimento de outros durante a campanha eleitoral, segundo o sindicato e a ONG Handeka.
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O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Teixeira Cândido, revelou, em entrevista à DW África, que, no que diz respeito aos órgãos públicos, apenas o Jornal de Angola tem tido um desempenho exemplar.
"A Rádio Nacional de Angola e a Televisão Pública de Angola são os órgãos que não respeitam o tratamento igual", diz. O representante do sindicato afirma ainda que "esses órgãos têm espaços de análise de campanha eleitoral para os quais convidam maioritariamente pessoas com tendência favorável para o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola]."
Cobertura da imprensa privada
De acordo com com o SJA, não são apenas os órgãos públicos que favorecem o partido que sustenta o Governo desde 1975. A imprensa privada também dá maior cobertura às atividades do MPLA. "A [televisão privada] Zimbo não está a ser equilibrada nos seus principais espaços noticiosos", declara Teixeira Cândido. Na opinião do secretário-geral da organização, "os seus programas de análise também não são equilibrados na medida em que não não trazem para aquele espaço várias outras pessoas com tendências para outros partidos."
A preferência para o MPLA na imprensa angolana é confirmada também pelo primeiro relatório da recém-criada ONG Handeka. O documento indica que quase 85% do tempo dedicado pelas televisões e rádios do país, entre 23 de julho – data do arranque da campanha – e 27 do mesmo mês, foi ocupado pelo MPLA, com 332 minutos, num total de 500 minutos. A ONG está a observar a cobertura eleitoral com um grupo de voluntários que trabalha no projeto denominado "Jiku".
Mas o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas de Angola lembra que a Rádio Despertar, lançada em 2006 como parte dos acordos de paz entre o Governo e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), também obteve uma avaliação negativa no relatório do sindicato. Segundo Teixeira Cândido, a estação dedica mais tempo ao maior partido da oposição nos seus principais espaços noticiosos. "Está um fosso enorme favoravelmente ao partido UNITA, por exemplo, comparando com outros partidos", defende o secretário-geral.
Sindicato dos Jornalistas e ONG criticam imprensa angolana
Exceções
Apesar de favorecimento a partidos políticos feito pela maioria dos veículos de imprensa angolanos, também há bons exemplos. "O Novo Jornal está muito equilibrado, felizmente. A [rádio] LAC está equilibrada nos serviços noticiosos, porém tem um programa de análise para o qual convida maioritariamente pessoas com tendências favoráveis ao MPLA", sustenta Teixeira Cândido, que cita a Rádio Ecclesia como mais um modelo de equilíbrio.
Os angolanos vão às urnas no dia 23 de agosto, naquelas que serão as quartas eleições da história política e democrática do país. Os partidos concorrentes dispõem de tempo de antena na Rádio Nacional de Angola (RNA) e Televisão Pública de Angola (TPA) para transmitirem ao eleitor as suas propostas de governação. São 10 minutos nas rádios e cinco nos canais de televisão.
José Eduardo dos Santos deixará saudades?
Dos Santos anunciou no início de 2017 que deixará o poder ao fim de 38 anos. Será que os angolanos terão saudades? Os comícios e as manifestações no país e fora de Angola nos últimos anos não deixam chegar a um consenso.
Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli
Setembro de 2008 - Luanda
Este comício do MPLA em Kikolo, Luanda, foi assistido por milhares de pessoas durante a campanha para as eleições de 2008, as primeiras em 16 anos. O MPLA obteve 82% dos votos, tendo conquistado 191 dos 220 lugares da Assembleia Nacional de Angola.
Foto: picture-alliance/ dpa
Março de 2011 - Angola
No entanto, e apesar da maioria conseguida nas eleições de 2008, nos anos seguintes realizaram-se várias manifestações, em Angola, e não só, contra o Governo. A 7 de março de 2011, teve início no país uma onda de manifestações inspiradas na Primavera Árabe. Na organização destas manifestações estava o Movimento Revolucionário de Angola, também conhecido como "revús".
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011 - Londres
No mesmo dia (7 de março), cerca de 30 pessoas sairam às ruas em Londres para protestar contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os manifestantes exigiram a saída do pai de Isabel dos Santos gritando "Zédu fora!" e "Zé tira o pé".
Foto: Huck
Fevereiro de 2012 - Benguela
Em 2012, ano de eleições no país, o número de manifestações organizadas pelos não apoiantes de José Eduardo dos Santos continuou a crescer. O protesto retratado na fotografia teve lugar em Benguela, a 13 de fevereiro. "O povo não te quer", gritaram os manifestantes.
Foto: DW
Junho de 2012 - Luanda
A 23 de maio de 2012, o presidente angolano anuncia que as eleições legislativas se irão realizar a 31 de agosto. Sensivelmente um mês depois, a 23 de junho, o Estádio 11 de Novembro, em Luanda, encheu-se de militantes e simpatizantes do MPLA para aplaudir José Eduardo dos Santos e apoiar a sua candidatura.
Foto: Quintiliano dos Santos
Julho de 2012 - Viana
Cartazes a favor de dos Santos num comício da campanha para as eleições de 2012 em Viana, arredores de Luanda. A 31 de agosto, o MPLA vence as eleições com mais de dois terços dos votos. Depois de uma mudança da Constituição, o Presidente já não é eleito diretamente, mas sim indiretamente nas legislativas. Como cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos é eleito Presidente de Angola.
Foto: Quintiliano dos Santos
Maio de 2015 - Benguela
Nos anos seguintes continuaram os protestos contra o Presidente. Foram-se somando episódios de violência e detenções. 2015 torna-se-ia um ano complicado no que às críticas a JES diz respeito. No aniversário do "27 de maio", em Benguela, por exemplo, 13 ativistas foram detidos minutos depois de começarem um protesto. No mesmo dia, também houve detenções em Luanda.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Junho de 2015 - Luanda
Em junho de 2015, tem início um dos episódios da governação de José Eduardo dos Santos mais criticados. 15 ativistas angolanos, entre eles Luaty Beirão, foram detidos sob acusação de planeaream um golpe de Estado. Para além de terem despoletado muitas manifestações, estas detenções tiveram mediatismo um pouco por todo o mundo devido às greves de fome levadas a cabo por muitos dos detidos.
Foto: DW/P. Borralho
Julho de 2015 - Lisboa
No dia 17 de julho realizou-se, em Lisboa, a primeira manifestação em Portugal a favor da libertação destes jovens. "Basta de repressão em Angola", ouviu-se na capital portuguesa. Dias mais tarde, em Luanda, a polícia reagiu violentamente contra algumas dezenas de manifestantes que protestaram no Largo da Independência.
Foto: DW/J. Carlos
Agosto de 2015 - Luanda
A 2 de agosto e sob o lema "liberdade já", cerca de 200 pessoas, entre as quais vários artistas angolanos - poetas, políticos, atores e artistas plásticos - juntaram-se, em Luanda, para pedir a libertação dos 15 ativistas angolanos detidos. Sanguinário, Flagelo Urbano, Toti, Jack Nkanga, Sábio Louco, Zwela Hungo, Mona Diakidi, Dinameni, Fat Soldie e MCK foram alguns dos artistas presentes.
Foto: DW
Agosto de 2015 - Luanda
Dias mais tarde foi a vez das mães dos ativistas se fazerem ouvir. Nas ruas de Luanda, pediram a libertação dos seus filhos, mesmo depois da manifestação ter sido proibida pelo Governo.
Foto: DW/P. Ndomba
Agosto de 2015 - Lisboa
Nem no dia do seu aniversário (28 de agosto), José Eduardo dos Santos teve "descanso". Cidadãos descontentes, quer em Lisboa, quer em Angola, voltaram às ruas. Na capital portuguesa, voltou a pedir-se liberdade para os ativistas. Exigiu-se ainda liberdade de movimento, de pensamento, de expressão e de imprensa em Angola.
Foto: DW/J. Carlos
Novembro de 2015 - Luanda
No dia em que se celebraram os 40 anos da independência de Angola, proclamada a 11 de novembro de 1975, pelo então Presidente António Agostinho Neto, vários jovens voltaram a fazer ouvir-se. 12 manifestantes foram detidos.
Foto: DW/M. Luamba
Março de 2017 - Cazenga
No início de 2017, José Eduardo dos Santos anunciou a saída da Presidência. O cabeça-de-lista do MPLA às eleições gerais deste ano será o atual ministro de Defesa João Lourenço. O candidato foi recebido por centenas de apoiantes naquele que foi o seu primeiro ato de massas da pré-campanha, no município do Cazenga, em Luanda, a 4 de março.