Sinais de deterioração de relações entre Angola e RDC
Eric Topona | ar
3 de julho de 2017
As relações até há bem pouco tempo cordiais entre Kinshasa e Luanda parecem estar a deteriorar-se. Angola manifesta-se descontente face à degradação da situação de segurança na região limítrofe do Kasai.
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Depois do embaixador de Angola em Kinshasa ter sido chamado para Luanda para consultas, as autoridades angolanas lançaram recentemente um pedido de ajuda à comunidade internacional no sentido de apoiar o país a gerir de forma eficiente os cerca de 30 mil refugiados congoleses em solo angolano. Estes fogem do conflito armado e estão a obrigar o Governo angolano a fazer uma ginástica para conseguir abrigá-los. A situação está a criar uma tensão entre os dois vizinhos.
A deterioração nas relações entre Angola e a República Democrática do Congo (RDC) é também constatada pelo homem de negócios e colecionador de arte congolês Sindika Dokolo. Ele é marido de Isabel dos Santos, a mulher mais rica de África, de acordo com a revista Forbes, e filha do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.
Sindika Dokolo diz que há preocupação regional em relação à crise na RDC
Numa conversa com a DW África, Sindika Dokolo começou por dizer que "existem sinais muito claros" dessa deterioração nas relações entre os dois países.
Dokolo argumenta que "o facto de os angolanos terem retirado o seu cooperante militar de Kinshasa e de ter ouvido comentários no sentido de ser exigido à RDC esclarecimentos sobre a natureza exata das instabilidades que produziram esta vaga de refugiados, nomeadamente do Kasai para Angola, mostra de forma clara uma deterioração das relações entre as duas administrações."
Entretanto, o genro do Presidente Eduardo dos Santos esclarece que "não é somente o caso de Angola, mas também da maioria dos vizinhos do Congo. Existe uma perda de credibilidade e uma grande preocupação de todos os vizinhos face ao nível de responsabilidade sobre a forma como o Presidente [Joseph] Kabila está a gerir os equilíbrios da RDC que podem desestalibizar toda a sub-região".Sabe-se que durante muito tempo Angola foi um apoio de peso à RDC, desde a chegada ao poder, primeiro de Kabila pai e depois de Joseph, o filho. Questionado se esta forte ligação está em vias de chegar ao fim, Sindika Dokolo respondeu: "Penso que a visão angolana é que existem dois povos irmãos e vizinhos que partilham dois mil quilómetros de fronteira e que, portanto, deve haver uma relação fraterna, equilibrada e mutuamente respeitada. Não se trata de um apoio pessoal a Joseph Kabila nem a nenhum clã de congoleses."
OL/RDC - MP3-Mono
Dokolo nega ligações com general Fautin Munene
Segundo uma fonte de segurança em Kinshasa, os serviços que se ocupam de "atividades anti-patrióticas" investigou eventuais laços que Sindika Dokolo mantém com o general Faustin Munene, ex-chefe do Estado Maior do exército congolês.
Esta informação foi desmentida por Dokolo: "Não conheço este senhor e pessoalmente estou completamente contra qualquer solução violenta e o uso da força das armas para solucionar conflitos. Penso que não se acaba com o sofrimento de um povo acrescentando mais sofrimento a esse povo e não penso que a solução seja substituir o senhor Kabila por um outro senhor Kabila."
Face à insistência da DW África de que fontes deram conta, por diversas vezes, em Luanda, onde reside Sindika Dokolo, da presença do general Fautin Munene, Dokolo respondeu de forma categórica: "Luanda conta com sete milhões de habitantes e, portanto, há muita gente com quem que não me encontrei, mesmo que essa pessoa esteja em Luanda. Não tenho interesse em manter contactos com pessoas que têm planos para a desestabilização do Congo através das armas."
Kivu do Norte: província controlada por milícias
Cerca de 40 milícias estão ativas no Kivu do Norte e do Sul. Aproximadamente duas milhões de pessoas já foram deslocadas e muitas aldeias destruídas na RDC. O projeto online "Local Voices" dá voz às vítimas do conflito.
Foto: Alexis Bouvy
Histórias de terror cotidiano: as milícias da RDC
Cerca de 40 milícias estão ativas nas duas províncias Kivu do Norte e Kivu do Sul no leste da República Democrática do Congo (RDC). Aproximadamente duas milhões de pessoas já foram deslocadas e muitas aldeias destruídas. O projeto online "Local Voices" dá voz às vítimas do conflito. O projeto pode ser conhecido no www.localvoicesproject.com.
Foto: Alexis Bouvy
Em nome de Deus
O auto-denominado General Janvier tem uma longa história de violência e crimes. "É a vontade de Deus", diz Janvier segurando uma Bíblia. Ele comanda uma milícia denominada Aliança de Patriotas por um Congo Livre e Soberano (APCLS). Há oito anos, ele construiu o seu quartel-general próximo a vila de Lukweti, uma colina que é desde então conhecida como Monte Sinai.
Foto: Alexis Bouvy
Buscando um sentido para a vida
O general ordenou um ataque e "Fidel Castro", como o integrante da milícia chama a si mesmo, prepara-se para lutar contra um inimigo, sob o comando de Ntabu Cheka. Para ele, isto é trabalho. A pobreza faz parte de Lukweti. A maioria dos jovens não sabe ler nem escrever. Alguns dizem: "a milícia dá sentido à minha vida".
Foto: Alexis Bouvy
Saíram para matar
Os combatentes avançam em direção a localidade de Pinga através da ponte da vila. Lá, eles vão matar os homens de Ntabu Cheka e talvez alguns civis. Eles não gostam de falar sobre estas coisas. A cidade de Pinga tem sido palco de vários combates entre as milícias ao longo dos anos. Muitos morreram e milhares fugiram.
Foto: Alexis Bouvy
Amizade com milicianos
Tanto civis como membros de milícias gostam de jogar futebol. Apesar da disparidade entre eles - uns levam armas enquanto outros são desarmados - as amizades se desenvolvem entre os habitantes da vila Lukweti e os rebeldes do APCLS. Alguns pertencem às mesmas famílias.
Foto: Alexis Bouvy
Solidariedade ou pragmatismo?
O conselho da aldeia, conhecido como "O Barza" toma todas as decisões importantes em Lukweti. Falando sobre a co-existencia entre a comunidade e a milícia APCLS, Mzee Massomo, só tem elogios. "Eles nos protegem de outras milícias que nos maltratariam. Nós lhes damos comida", diz. O APCLS, segundo Massomo, é mais disciplinado do que o exército oficial da República Democrática do Congo.
Foto: Alexis Bouvy
Ser uma mulher na milícia
Kahindo, de 22 anos, descansa em uma cabana ao lado da farinha de mandioca. O trabalho de Kahindo, a exemplo da tarefa de várias outras mulheres no APCLS, é coletar comida. Ela participa da colheita feita pelos agricultores, que já são bastante pobres. Muitos aceitam essa situação.
Foto: Alexis Bouvy
O dilema das mulheres
"Eu não quero me casar com um miliciano", diz a moradora de Lukweti, Neema Riziki, de 16 anos. "Muitas mulheres gostariam de se casar com um combatente porque eles supostamente tratam bem suas mulheres. Mas algumas das minhas amigas ficaram viúvas poucos dias após o casamento. Algumas delas tem que vender seus corpos para sobreviver."
Foto: Alexis Bouvy
Drogas para os combatentes
Mama Soleil (no centro) cultiva cannabis em frente às ruínas de uma fábrica do período colonial, na aldeia vizinha de Nyabiondo. Ela é uma mulher popular. Os seus clientes são milicianos e soldados. Atrás do muro, as tropas de paz da ONU instalaram o seu acampamento.
Foto: Alexis Bouvy
Não há desenvolvimento sem estradas
Este agricultor passa dificuldades nas vias da região. Leva mais de quatro horas para fazer o trajeto de Lukweti à cidade vizinha de Nyabiondo, onde quer vender seu liquor de banana no mercado. A maioria das pessoas em Lukweti vive da produção de banana.
Foto: Alexis Bouvy
A cooperação entre a polícia e as milícias
Na cabana, um líder de milícia tem um encontro com o chefe da Polícia de Nyabiondo. Uma pessoa de fora da localidade dificilmente saberia dizer quem é o miliciano e quem é o policial.
Foto: Alexis Bouvy
Com a ajuda de Deus
O pastor protestante de Lukweti reza fervorosamente com a congregação nos cultos de domingo. Devido à constante insegurança e ao medo do terror cotidiano, a comunidade encontra consolo e esperança na sua fé.
Foto: Alexis Bouvy
A esperança de paz
Os jovens que estão a dançar são da Aliança pela Paz. Eles cantam "acabem com a violencia!" Trata-se de uma atitude bastante corajosa porque as milícias estão a promover o ódio entre as etnias e jovens frequentemente têm se voltado uns contra os outros. Os jovens cantando pertencem a diferentes grupos e são prova que a coexistência pacífica é possível no leste da República Democrática do Congo.