Sissoco elogia Cabral: "Devemos deixar um legado"
12 de setembro de 2024As autoridades da Guiné-Bissau decidiram requalificar o mausoléu onde estão os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros antigos combatentes, nas instalações da fortaleza de Amura.
No dia em que o país comemorou o centenário do nascimento do pai fundador das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, Umaro Sissoco Embaló qualificou Cabral como um filho digno de África.
"De recordar que Amílcar Cabral significa invocar a mais importante figura da história política da Guiné-Bissau. Um homem de pensamento, Amílcar Cabral é uma figura universal", referiu Sissoco Embaló.
Visitas à fortaleza de São José da Amura
Durante o seu discurso, o chefe de Estado anunciou ainda que, até 30 de setembro, qualquer organização ou cidadão comum poderá entrar no Quartel da Amura para visitar a sepultura de Amílcar Cabral.
Sissoco Embaló deixou também uma mensagem: "Quero dizer à nossa geração que Cabral precisaria hoje não da revolução, mas sim do desenvolvimento, por isso devemos deixar um legado", frisou.
"Hoje quem vier visitar a sepultura de Cabral e outros filhos dignos da Guiné-Bissau sentirá orgulho porque não somos aquela geração que diz apenas 'viva os combatentes' ou 'viva Cabral' e os abandonaram. Em apenas quatro anos, dignificámos as suas memórias."
Celebrações informais do centenário proibidas
Além deste ato oficial, várias outras atividades têm marcado o centenário de Cabral, apesar do Governo ter proibido atos relacionados à data que não sejam da sua iniciativa.
Em Bissau, decorre desde 11 de setembro, no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), um simpósio internacional sobre Amílcar Cabral, uma atividade que acontece também em Cabo Verde.
O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), fundado por Cabral, comemorou o centenário em Bafatá, a cidade natal do líder histórico, no leste da Guiné-Bissau.
Também em Bafatá, um grupo de jovens do coletivo "Nô Raiz" e o projeto de artes plásticas "Galeria Jovem" decidiram "eternizar" Cabral com um mural na casa onde ele nasceu.
Em declarações à DW, o líder do coletivo "Nô Raiz", Carlos Pereira, afirma que decidiram avançar com as suas atividades alusivas aos cem anos do Cabral - apesar da proibição das autoridades nacionais – porque "limitações da liberdade não devem ser toleradas".
"Só podemos honrar Cabral com os exemplos que ele nos deixou - de resistir face à limitação das liberdades e qualquer tipo de opressão", afirma Carlos Pereira.
O que resta dos ideais de Cabral?
Os 100 anos de Cabral são celebrados numa altura em que a Guiné-Bissau atravessa um momento político conturbado, com o Parlamento dissolvido e denúncias de desrespeito às normas democráticas e liberdades fundamentais.
Os guineenses também continuam a ter dificuldades no acesso a bens essenciais como a alimentação, saúde e educação.
Em resumo, a construção de um país verdadeiramente livre - projetado por Cabral - está longe de ser uma realidade na Guiné-Bissau, de acordo com Carlos Pereira, do coletivo "Nô Raiz".
"A estrutura política e governativa não é capaz de elaborar uma agenda própria para seguir o ideal de Cabral, de pensar com as nossas cabeças e marchar com os nossos pés", diz o ativista. "Isso está longe de ser executado com estas lideranças políticas que temos, longe de atender os desejos deste povo."
Carlos Pereira conclui dizendo que o legado de Cabral deve ser levado a sério e aponta que, para realizar os ideais do líder histórico, será preciso agir em prol do povo com medidas concretas.