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Sissoco elogia Cabral: "Devemos deixar um legado"

Djariatú Baldé (Bissau)
12 de setembro de 2024

Em plena crise política, Presidente guineense recorda Amílcar Cabral como "importante figura da história" do país. Garante ainda que a sua geração tem dignificado a memória de Cabral.

Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, em janeiro de 2023
Sissoco Embaló discursou no Quartel-General das Forças Armadas, em Bissau, nas celebrações do centenário de Amílcar Cabral Foto: Iancuba Dansó/DW

As autoridades da Guiné-Bissau decidiram requalificar o mausoléu onde estão os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros antigos combatentes, nas instalações da fortaleza de Amura.

No dia em que o país comemorou o centenário do nascimento do pai fundador das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, Umaro Sissoco Embaló qualificou Cabral como um filho digno de África.

"De recordar que Amílcar Cabral significa invocar a mais importante figura da história política da Guiné-Bissau. Um homem de pensamento, Amílcar Cabral é uma figura universal", referiu Sissoco Embaló.

Visitas à fortaleza de São José da Amura

Durante o seu discurso, o chefe de Estado anunciou ainda que, até 30 de setembro, qualquer organização ou cidadão comum poderá entrar no Quartel da Amura para visitar a sepultura de Amílcar Cabral.

Sissoco Embaló deixou também uma mensagem: "Quero dizer à nossa geração que Cabral precisaria hoje não da revolução, mas sim do desenvolvimento, por isso devemos deixar um legado", frisou.

"Hoje quem vier visitar a sepultura de Cabral e outros filhos dignos da Guiné-Bissau sentirá orgulho porque não somos aquela geração que diz apenas 'viva os combatentes' ou 'viva Cabral' e os abandonaram. Em apenas quatro anos, dignificámos as suas memórias."

Celebrações informais do centenário proibidas

Além deste ato oficial, várias outras atividades têm marcado o centenário de Cabral, apesar do Governo ter proibido atos relacionados à data que não sejam da sua iniciativa.

Em Bissau, decorre desde 11 de setembro, no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), um simpósio internacional sobre Amílcar Cabral, uma atividade que acontece também em Cabo Verde.

Amílcar Cabral nasceu a 12 de setembro de 1924, em Bafatá. Foi assassinado a 20 de janeiro de 1973, em ConacriFoto: casacomum.org/Documentos Amílcar Cabral

O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), fundado por Cabral, comemorou o centenário em Bafatá, a cidade natal do líder histórico, no leste da Guiné-Bissau.

Também em Bafatá, um grupo de jovens do coletivo "Nô Raiz" e o projeto de artes plásticas "Galeria Jovem" decidiram "eternizar" Cabral com um mural na casa onde ele nasceu.

Em declarações à DW, o líder do coletivo "Nô Raiz", Carlos Pereira, afirma que decidiram avançar com as suas atividades alusivas aos cem anos do Cabral - apesar da proibição das autoridades nacionais – porque "limitações da liberdade não devem ser toleradas".

"Só podemos honrar Cabral com os exemplos que ele nos deixou - de resistir face à limitação das liberdades e qualquer tipo de opressão", afirma Carlos Pereira.

O que resta dos ideais de Cabral?

Os 100 anos de Cabral são celebrados numa altura em que a Guiné-Bissau atravessa um momento político conturbado, com o Parlamento dissolvido e denúncias de desrespeito às normas democráticas e liberdades fundamentais.

Os guineenses também continuam a ter dificuldades no acesso a bens essenciais como a alimentação, saúde e educação.

Especial DW: 50 anos da morte de Amílcar Cabral

50:44

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Em resumo, a construção de um país verdadeiramente livre - projetado por Cabral - está longe de ser uma realidade na Guiné-Bissau, de acordo com Carlos Pereira, do coletivo "Nô Raiz".

"A estrutura política e governativa não é capaz de elaborar uma agenda própria para seguir o ideal de Cabral, de pensar com as nossas cabeças e marchar com os nossos pés", diz o ativista. "Isso está longe de ser executado com estas lideranças políticas que temos, longe de atender os desejos deste povo."

Carlos Pereira conclui dizendo que o legado de Cabral deve ser levado a sério e aponta que, para realizar os ideais do líder histórico, será preciso agir em prol do povo com medidas concretas.

 

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