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Guerra na Ucrânia "supera capital diplomático" de África

Ariana Miranda
24 de outubro de 2022

Presidente guineense, Sissoco Embaló, leva "mensagem de paz" a Moscovo e Kiev, mas analista frisa que o problema supera a diplomacia africana. Ainda assim, África deve demonstrar que pode "ajudar a resolver" o conflito.

Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló
Foto: DW/B. Darame

O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, presidente em exercício da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), viajou esta segunda-feira (24.10) para a Rússia. Sissoco Embaló anunciou que se vai encontrar com o homólogo da Rússia, Vladimir Putin, e depois parte para a Ucrânia, para falar com o Presidente Volodymyr Zelensky.

O chefe de Estado guineense diz que leva uma "mensagem de paz". No entanto, em entrevista à DW África, o analista político Rui Jorge Semedo diz que não espera muito desta iniciativa de Sissoco, porque os países africanos não têm "capital político e diplomático" para mediar este conflito. Mesmo assim, acha que os estadistas africanos devem mostrar a sua preocupação com os efeitos da guerra e apelar ao diálogo.

DW África: Quais serão os motivos desta iniciativa de Umaro Sissoco Embaló?

Rui Jorge Semedo (RJS): Acho que se inscreve nas responsabilidades que o Presidente Sissoco assume atualmente no quadro da CEDEAO, enquanto presidente da conferência dos chefes de Estado da comunidade. Sissoco Embaló tem apostado muito na diplomacia como bandeira da sua presidência e, em nome da CEDEAO, provavelmente quer aproveitar essa oportunidade para dar a sua contribuição entre a Rússia e a Ucrânia. Agora, vai depender da diplomacia africana e também da CEDEAO demonstrar que estamos aqui para ajudar a resolver o problema. Mas é um problema cuja dimensão supera o capital político e diplomático dos países africanos.

Rui Jorge Semedo: "O problema, na verdade, é procurar influenciar a Rússia e a NATO para procurarem um entendimento"Foto: privat

DW África: É uma tentativa de procurar soluções para amenizar os efeitos da guerra em África?

RJS: Neste momento, [os países africanos] estão a sofrer, e muito, tendo em conta a sua dependência externa dos produtos agrícolas, por exemplo, que são importados da Rússia, e de outros produtos que são produzidos na Europa. Nesse sentido, anteriormente, o presidente da União Africana e do vizinho [da Guiné-Bissau] Senegal, Macky Sall, também esteve na Rússia, para tentar influenciar o Presidente Putin a ir à mesa de negociações com o Presidente Zelensky para encontrar uma solução pacífica.

DW África: Em declarações à imprensa, Umaro Sissoco Embaló disse que a Rússia é a "primeira potência mundial" e que vai pedir a Putin que estabeleça um diálogo com Zelensky. Está a ser tendencioso?

RJS: Acho que até pode ser um exagero. O conflito na Ucrânia trouxe novamente à tona a questão da bipolarização do mundo entre a Rússia e os Estados Unidos. Afirmar que a Rússia é a primeira potência mundial pode até ter sido um lapso na abordagem que o Presidente escolheu. Não importa se a Rússia é a primeira potência ou se a Ucrânia, do ponto vista militar, não representa nada a nível mundial. Importa, sim, mediar o conflito e influenciar as lideranças, as partes beligerantes, para que vão à mesa das negociações em busca de uma solução pacífica.

DW África: É caso para dizer que agora todo o mundo está envolvido na resolução desta guerra?

RJS: O problema, na verdade, é procurar influenciar a Rússia e a NATO para procurarem um entendimento. A guerra na Ucrânia tem mexido com o mundo todo, quer a Europa, que é o "centro" dessa crise, quer os continentes periféricos, África, América, todo o mundo. Deve haver essa preocupação mundial de falar com as partes para que se possa pacificar o mundo.

Guerra na Ucrânia: Qual a perspetiva africana?

03:51

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