Sistema de alerta de crises de fome não funciona
4 de outubro de 2011Os alertas acerca do perigo da fome no Corno de África começaram em Agosto de 2010 quando foram anunciados pela organização "Rede de Sistemas de Aviso Prévio Contra a Fome", conhecida por FEWS NET.
O gestor de programas de FEWS NET, John Scicchitano, da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), admite em entrevista à Deutsche Welle que nem tudo correu como o planejado.
As organizações humanitárias chegaram tarde às regiões afetadas e foram surpreendidas por vários problemas que se pensava controlar. A FEWS NET havia lançado avisos prévios e os governos dos países doadores começavam a preparar-se para a insegurança alimentar na África Oriental. Mas a situação agravou-se, passando de insegurança alimentar para fome em várias regiões da Somália.
Scicchitano explica que existem casos em que as necessidades de apoio de emergência são tão grandes que excedem de longe as capacidades de resposta da comunidade internacional e das organizações humanitárias.
Ele destaca que a mais recente crise alimentar no corno de África é exemplo disso: "Na crise deste ano, a ONU lançou um apelo à comunidade internacional, dizendo que havia necessidade de apoio de emergência na ordem dos dois mil milhões de dólares. E os doadores reagiram de forma rápida e generosa", mas um pouco tarde, esclarece Scicchitano. Depois "as necessidades foram aumentando e as capacidades de resposta não estiveram à altura".
12 milhões passam fome
A situação humanitária alcançou as proporções de uma crise e a insegurança alimentar afeta mais de 12 milhões de pessoas em toda a região. Isso se deve sobretudo à pior seca da região nos últimos 60 anos, lembra Scicchitano.
A seca é um fenómeno climático e por isso as organizações internacionais de ajuda alimentar pouco ou nada podem fazer, defende o gestor de programas de FEWS NET: "Não podemos combater a seca, mas podemos melhorar a eficiência das nossas medidas contra os efeitos da seca".
Scicchitano lembra que a situação na Somália é mais dramática do que no Quénia e na Etiópia: "Em certas regiões da Somália, os preços dos bens alimentares são 300% superiores aos praticados nos mercados no ano passado. Isso se deve sobretudo às enormes dificuldades de acesso das organizações humanitárias", relata.
Somado a isso, ainda existem graves problemas de segurança no país, que vitimaram funcionários de organizações humanitárias, conta o entrevistado.
A comunidade internacional
Os Estados Unidos culpam o grupo rebelde al-Shabaab de impedir a distribuição de alimentos aonde são necessários, fazendo com que a escassez de alimentos aumente e passe a haver fome na região da Somália que controla.
A FEWS NET foi criada no rescaldo de uma fome catastrófica no início dos anos de 1980, que atingiu o continente desde a África Ocidental até a Etiópia. Esta organização monitoriza cerca de 30 países com propensão para a fome, em todo o mundo, e recolhe dados de várias fontes a fim de avaliar constantemente os níveis de segurança alimentar.
O alerta de FEWS NET fornece a governos nacionais, agências internacionais e países doadores as informações de que precisam para se prepararem para salvar vidas.
Autor: António Cascais
Edição: Bettina Riffel / António Rocha