Sistemas de saúde da África Ocidental têm de ser reforçados
Lusa | EFE | tms
16 de setembro de 2017
África Ocidental registou quase dois mil focos epidémicos nos últimos 40 anos. O último - e um dos mais graves - foi o do vírus ébola. Organização da Saúde da África Ocidental defende mais investimentos para a região.
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Os sistemas de saúde da África Ocidental precisam ser reforçados para evitar a expansão de doenças, defende o diretor da Organização da Saúde daquela região, Xavier Crespin.
Nos últimos 40 anos, houve mais de 1.700 focos epidémicos na África Ocidental, dos quais o último e um dos mais graves foi o do vírus ébola.
"Parece que a comunidade internacional espera que haja crises para se manifestar sobre o terreno, o que não é normal", afirma Xavier Crespin, em entrevista à agência EFE.
"Não é preciso esperar pelas crises nem pelas urgências. É preciso ir ao essencial, que é reforçar os sistemas de saúde, que são muito frágeis em determinados países devido à falta de financiamento e de pessoal e ao insuficiente envolvimento das comunidades locais na tomada de decisões", acrescenta Crespin, médico nigeriano que dirige o organismo que coordena os ministérios da saúde de uma das regiões mais pobres do mundo.
Epidemia
Além de ter dizimado os precários sistemas de saúde da Guiné, Libéria e Serra Leoa, a epidemia do vírus do ébola provocou mais de 11 mil mortos.
"A crise do ébola demonstra a debilidade dos nossos sistemas de saúde. Para se mostrar que se é filantropo a sério é necessário ir ajudar agora, sem crise, para construir um sistema de saúde sólido, resistente aos choques epidémicos que existem na nossa região", defende Xavier Crespin.
Crespin diz ainda que durante a crise do Ébola "chegaram milhares de pessoas para ajudar e milhares de milhões de dólares, mas uma vez terminada a epidemia os hospitais de campanha foram desmontados e os nossos hospitais ficaram dizimados, sem pessoal e, de novo, sem capacidade de resposta".
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."