A população voltou a ouvir disparos na manhã desta sexta-feira (06.10.), em Mocímboa da Praia. Confrontos entre as autoridades e um grupo armado duram desde a madrugada de quinta-feira.
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Em Mocímboa da Praia, no norte de Moçambique, a situação ainda não está completamente tranquila. Na madrugada desta sexta-feira (06.10) ainda se ouviam disparos. Um ataque armado contra três postos da polícia, perpetrado por homens trajando roupas árabes, que começou na madrugada de quinta-feira (05.10.), teria resultado na morte de 14 atacantes e dois detidos, segundo a polícia.
De acordo com relatos de residentes, quase todo o comércio e serviço da vila, que está a cerca de 100 quilómetros da fronteira com a Tanzânia, estão encerrados e as ruas estão desertas.
A DW África entrevistou Albino Forquilha, ex-militar e especialista para a promoção da paz na FOMICRES, uma ONG que trabalha na área do combate à proliferação de armas.
DW África: Através desse tipo de ação armada, pode-se perceber se ela foi realmente perpetrada por extremistas, criminosos ou guerrilheiros?
Albino Forquilha (AF): Tudo ainda está a ser analisado porque de facto a maneira como os ataques foram conduzidos só pode ser o resultado de uma preparação minuciosamente feita. Pelo menos, é isso que nos chega como informação. Esse tipo de ataque não vem de indivíduos que aleatoriamente se entenderam e se lançaram nisso. Com isso, quero dizer que, de certa forma, há uma organização por detrás dos atacantes. Mas acho que é ainda muito prematuro dizer que de facto se trata de um grupo extremista já com algum nome ou se se trata mesmo de uma posição terrorista. Tenho a certeza de que isto será conhecido brevemente porque, para além de resultar em algumas mortes, existem rumores da ligação deste grupo com a milícia islâmica Al-Shabaab ou com alguma ramificação aos combatentes do Boko Haram. Penso que uma afirmação dessas é ainda sem alguma base, mas talvez faça sentido por aquilo que já acontece em África e também por estarmos próximos da zona da Somália onde Al-Shabaab tem estado a atuar.
OL. - MP3-Mono
DW África: Vamos então falar do que é conhecido oficialmente. A Polícia informa que dois atacantes foram detidos. Mas, para além da palavra Allah, eles não dizem mais nada. Isso não faz desconfiar que o ataque possa ter sido feito, por exemplo, por moçambicanos?
AF: Por isso é que estou a dizer que há toda uma especulação que se faz porque se dizem apenas duas ou três palavras. Pode ser uma tática para esconderem no início as suas respectivas identidades(...). Mas, de alguma forma, há uma língua que essas pessoas possam falar. Acredito que daqui a alguns dias eles vão falar. Agora, é verdade que não podemos afirmar taxativamente, mas temos a sensação de que poderemos estar perante alguma situação extremista. Pelos antecedentes, temos a informação de que algumas pessoas foram presas há alguns meses na mesma zona onde os ataques aconteceram por incitarem à violência contra a própria Constituição da República por ser laica e mais outros aspetos. Há inclusive especulações de que esses ataques aconteceram em reivindicação ou procura de resgate das pessoas que foram presas. Mas isto não é muito sustentável a ponto de ser tomado como base.
DW África: A atuação de grupos extremistas em Moçambique poderia atrair a proteção e apoio de países ocidentais como por exemplo os EUA? Será que Moçambique teria interesse em atrair esse apoio a qualquer custo?
AF: Eu penso que sim. Moçambique é um país estratégico do ponto de vista económico. Moçambique é um país rico em termos de exploração dos seus recursos. E Moçambique é um país que tem uma longa costa, que dá acesso a outras zonas do Médio Oriente, etc Tudo isso poderá interessar estrategicamente muitos outros países. Portanto, não devemos colocar de lado esta hipótese de apoio ou de proteção. Mas podemos ter no nosso país um Governo e, se calhar, este Governo na leitura dos outros não vai facilitar muito seus interesses económicos.
Pemba: degradação em tempos de boom
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios históricos de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Casas históricas em ruínas
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios do centro histórico de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação. A degradação não poupa prédios com elevado valor histórico como esta casa, que foi na era colonial e até 1979 a residência do governador da província de Cabo Delgado.
Foto: Eleutério Silvestre
Mercado central de Pemba
O mercado localiza-se na cidade baixa da cidade desde 1940. Foi uma atração turística de Pemba, que em tempos coloniais era chamada Porto Amélia. Os números e as letras na placa por cima da fachada da entrada, resistem as intempéries naturais e ainda testemunham o quanto foi importante o mercado para os colonos portugueses.
Foto: Eleutério Silvestre
Negócio parado: as bancas do mercado
Nestas bancas simples eram expostos cereais, leguminosas e outros produtos alimentares. Antes do total abandono nos anos 2000, o mercado era frequentado por cidadãos da classe média de diferentes bairros de Pemba, atraídos pelo nível de higiene que caraterizava na exposição dos produtos. Vendia-se o melhor peixe e a melhor carne da cidade de Pemba.
Foto: Eleutério Silvestre
Abandono total: o cinema de Pemba
O cinema de Pemba, localizado na periferia da cidade baixa, era o único da cidade. Até 1990, eram projetados filmes na sala: das 14 às 16 horas os filmes para menores e das 17 às 21 horas as longas metragens para maiores de 18 anos. O cinema era ponto de encontro de cidadãos de diferentes idades de Pemba. O edifício funcionou também como ginásio de 2008 a 2012.
Foto: Eleutério Silvestre
Novas construções na vizinhança
Em vez de renovar e adaptar edifícios históricos já existentes, constroem-se novos prédios em Pemba, a capital da província moçambicana de Cabo Delgado. Este projeto do anfiteatro de Pemba é fruto de uma parceria público privada, entre o Hotel Wimbe Sun e o Conselho Municipal de Pemba. Mais um exemplo de que os investimentos vão para a construção e não para a reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Construir de raiz em vez de reabilitar
Mesmo para escritórios, que facilmente poderiam ser instalados em prédios históricos renovados, a opção preferida é construir de raiz. Assim sendo, o "boom" económico causado pela descoberta de grandes quantidades de gás na Bacia do Rovuma na província de Cabo Delgado não beneficia o centro histórico da cidade de Pemba. Este edifício é destinado para albergar uma filial bancária.
Foto: DW/E. Silvestre
Antiga delegação da Cruz Vermelha
Esta casa localiza-se na principal via de acesso à cidade baixa de Pemba. Serviu em regime de arrendamento como primeira delegação da Cruz Vermelha na província. A partir deste edifício, a Cruz Vermelha desencadeou ações humanitárias durante a guerra civil de Moçambique. Em 1999, a Cruz Vermelha de Moçambique abandonou a casa e mudou para infraestruturas próprias modernas.
Foto: Eleutério Silvestre
Armazém histórico de Pemba
Este armazém na cidade baixa faz parte dos edifícios históricos abandonados. Durante a guerra civil, serviu para o armazenamento de alimentos. Foi aqui que os residentes do bairro mais antigo de Pemba, Paquitequete, compravam produtos de primeira necessidade. Teve um papel muito importante durante a emergência de fome que assolou a população de Pemba durante a guerra civil no ano de 1980.
Foto: Eleutério Silvestre
Porto de Pemba
Quando o centro histórico está em degradação, uma das zonas mais dinámicas de Pemba é o porto. Do lado direito, as antigas instalações, do lado esquerdo a zona de ampliação destinada a carga do material da exploração do gás. O cais flutuante foi construído pela empresa francesa Bolloré. A esperança é que o boom do gás ajuda a reabilitar para além do porto também os edifícios históricos de Pemba.