Sociedade civil critica Chapo por negar acordo com Mondlane
10 de julho de 2025
O Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) moçambicano acusou esta quinta-feira (10.07) o Presidente, Daniel Chapo, de fazer "jogos políticos" que ameaçam a "seriedade" do diálogo em curso, ao negar que tenha assinado qualquer acordo com Venâncio Mondlane.
"São jogos políticos que o Presidente Chapo está a fazer. E são esses jogos políticos que nos prejudicam como país. É a tal falta de honestidade, falta de compromisso e de seriedade nos diálogos e nos acordos que nós assinamos", afirmou à Lusa, André Mulungo, do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD), respondendo, em Maputo, a perguntas de jornalistas sobre a alegada falta de acordo nos encontros, de março e maio, entre o Presidente e o político Venâncio Mondlane, ex-candidato presidencial.
Venâncio Mondlane disse em 27 de junho que o acordo com o Presidente moçambicano "não é o que está a ser posto em prática", "nem a nível do discurso, nem a nível dos posicionamentos, nem a nível da execução e implementação, do que foi falado".
Já o Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, garantiu em 02 de julho, em entrevista à Lusa, que o acordo para a pacificação do país após o processo eleitoral está a ser cumprido e que os signatários, os partidos políticos, estão satisfeitos.
"Esse é um aspeto muito importante. Não houve assinatura do acordo com Venâncio Mondlane. E não sei de que acordo está a falar. Houve um acordo, que assinámos com os partidos políticos, e Venâncio Mondlane não tem partido ainda, pode vir a ter no futuro" disse Daniel Chapo.
Em declarações aos jornalistas, esta quinta-feira, Mulungo criticou o chefe do Estado por ter afirmado que não assinou qualquer acordo com o ex-candidato presidencial.
"Você não pode fazer um comunicado na Presidência a dizer que reuniu com pessoas, um comunicado da Presidência a dizer que estamos em esforços para a busca da paz para a reconciliação e depois num outro fórum ir dizer que não conversou, não negociou e não entrou em acordos", disse André Mulungo.
O ativista lembra que, desde 1994, ano das primeiras eleições multipartidárias, Moçambique tem vivido ciclos de violência e múltiplos acordos que falham na implementação por falta de vontade política.
"Quando vamos aos acordos, não somos honestos, não há seriedade, não há honestidade quando vamos dialogar [...] A pergunta que eu posso vos colocar é se a Frente de Libertação de Moçambique [FRELIMO], partido no poder, quer sair do poder ou não", questionou.
Após meses de agitação social e manifestações de contestação aos resultados eleitorais - que provocaram cerca de 400 mortos e elevada destruição em todo o país -, com vitória de Daniel Chapo e da FRELIMO, o chefe de Estado e Venâncio Mondlane encontraram-se pela primeira vez em 23 de março, em Maputo, e acordaram pela pacificação do país, repetindo o encontro em 20 de maio.
Antes, em 05 de maio, o Presidente assinou com todos os partidos um acordo para a pacificação do país, prevendo a revisão da lei eleitoral, da Constituição da República, dos poderes do chefe de Estado, entre outras alterações.