Malanje: Casas e cargos só para militantes do MPLA
10 de maio de 2023O músico e ativista cívico, João Mateus, de 30 anos, acusa algumas instituições do Estado em Malanje de promover a cultura do tráfico de influências na província. E enumera vários exemplos.
Distribuição de casas só a militantes do partido do poder
Sinal disso, diz, são as inúmeras irregularidades, registadas durante o processo de distribuição das 500 casas no bairro 'Carreira de Tiros', na cidade: "90 por cento da população que recebe vivendas são filiados do partido [no poder] MPLA. Quase sempre, quando há distribuição de propriedades, essas pessoas estão lá, a encostar-se, e estão sempre a receber."
Segundo uma nota do governo provincial, o processo favoreceu o mesmo núcleo que já tinha beneficiado de equipamentos sociais em edições anteriores.
A diretora da Inspeção Geral da Administração do Estado (IGAE) em Malanje já reagiu. Em declarações à DW África, Zinga do Céu revelou que estão em fase de apuração estas e outras denúncias de tráfico de influências na província: "As denúncias que estão a ser recebidas, foram recebidas junto da IGAE, e estão a merecer o devido tratamento: mas deixe-me dizer, que carecem de um processo de averiguação", afirma Zinga do Céu, e esclarece: "As coisas não são do estilo 'entrou hoje, já amanhã temos uma informação em como podemos apurar os factos imediatamente'".
Não se ascende a qualquer cargo sem exibir um cartão de militante
Segundo o jurista Carlos Xavier, ouvido pela DW África, a sociedade local tem de combater o que apelida de "total influência do MPLA". Só assim é que as populações, em geral, poderão prosperar. Caso contrário, apenas os militantes do partido no poder prosperam, enquanto a sociedade, em geral, empobrece. Carlos Xavier dá o exemplo dos cargos escolares: "Em todas as escolas daqui de Malanje, para você ser diretor de escola, ter um cargo de direção da escola, ter um cargo de subdirector pedagógico ou administrativo ou coordenador de uma disciplina qualquer, você tem que exibir um cartão de militante, ao arrepio da Constituição nos termos do quinquagésimo terceiro artigo."
Outro jurista, ouvido pela DW África, de nome Israel da Silva, afirma que o tráfico de influências é "um fenómeno que ganha contornos alarmantes na administração pública", porque acaba por tornar-se um fardo pesado para o cidadão comum: "Há um conjunto de pessoas que procuram, a todo o custo, mesmo sendo licenciados, ingressar num ou noutro concurso - e para tal estão dispostas a pagar de uma maneira ou outra. Há envolvidos em processos, que pagaram dinheiro nos concursos passados, e que, mesmo assim, não entraram."