Movimento Nacional da Sociedade Civil para a Paz, Democracia e Desenvolvimento não subscreve pedido feito pelos cidadãos Inconformados que querem que a CEDEAO aplique sanções também ao Presidente da República.
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Na Guiné-Bissau, o Movimento Nacional da Sociedade Civil para a Paz, Democracia e Desenvolvimento, maior movimento social do país, não apoia os cidadãos Inconformados no pedido que fez no domingo (04.03) à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), para que se implemente sanções contra o Presidente José Mário Vaz, disse em entrevista à DW África Fodé Sanhá, um dos membros desse movimento. Os Inconformados dizem que o chefe de Estado é o responsável pela crise que se arrasta em Bissau há mais de dois anos.
DW África: O Movimento Nacional da Sociedade Civil guineense não apoia a iniciativa dos jovens que pedem à CEDEAO que sancione o Presidente do país, José Mário Vaz, que acusam de ser o mentor da situação. Porque esta posição contra um outro movimento da sociedade civil guineense?
Fodé Sanhá (FS): O Movimento Nacional da Sociedade Civil não subscreveu o pedido de sanção sobre o Presidente da República, uma vez que é uma iniciativa isolada de uma organização que é o Movimento dos Cidadãos Consciente e Inconformados. Não fomos tidos em conta nesta perspetiva pela promotora da iniciativa.
DW: Os Inconformasdos dizem que o Presidente é um dos atores principais neste impasse na crise político-institucional na Guiné-Bissau. O que o Movimento da Sociedade Civil tem a dizer sobre isto?
FS: O que nos interessa é a aproximação dos atores políticos em busca da solução para esta crise e não é responsabilizar uma instituição ou um órgão de soberania em particular. Estamos fora disso.
DW: E sobre as sanções que a CEDEAO aplicou às 19 personalidades guineenses. Essas medidas já estão a dar alguns resultados, vão ter algum efeito na solução da crise?
Sociedade guineense dividida sobre aplicação de sanções
FS: Do nosso ponto de vista acho que as sanções não irão facilitar a resolução da crise, porque não entendo que até este momento não há nenhum critério para aplicação das sanções. Só cabe à CEDEAO explicar qual é o propósito que tem para aplicar as sanções e evidenciar os critérios que tem utilizado para aplicá-las às 19 personalidades, inclusive as pessoas que achamos que estão a fazer política partidária, algumas são familiares que nem são subescritoras do Acordo de Conacri. Tudo isto poderá agravar a situação de crise ao invés de facilitar a saída da mesma.
DW: O PRS considera o Acordo de Conacri como "extemporâneo", ou seja que já não seria a solução para a crise. O que o seu movimento acha desta posição?
FS: Achamos que o Acordo de Conacri ainda está em cima da mesa para ser apreciado entre os guineenses. Não há ninguém que ponha em causa o roteiro que está plasmado no Acordo de Conacri. Apenas há uma divergência em termos da escolha da figura do primeiro-ministro. Estes três nomes foram propostos pelo Presidente da República, mas no conteúdo geral do Acordo de Conacri todas as partes signatárias estão interessadas. Por isso acho que é válido para nós e deve ser um documento que se tem como base para se encontrar um Governo que possa levar o país às eleições.
DW: E seriam as eleições o caminho para se acabar com o impasse em Bissau?
FS: Seria caso se revermos alguns aspetos que tem a ver com a lei eleitoral, rever a Constituição porque como está plasmado o roteiro do Acordo de Conacri que a peça fundamental em todo este processo para que não regressemos depois das eleições à mesma situação de instabilidade.
Guiné-Bissau: futebol descalço entre os buracos da rua
Na maioria dos países, pratica-se futebol com condições apreciáveis e perante um calendário supra definido. Na Guiné-Bissau, no caso dos que se dedicam à prática desta profissão, eles enfrentam situações desconfortáveis.
Foto: Braima Darame
Futebol descalço
Na maioria dos países, pratica-se futebol com uma certa regularidade, com condições apreciáveis e perante um calendário supra definido. Na Guiné-Bissau, os atletas que se dedicam à prática da profissão, enfrentam situações desconfortáveis. As estruturas oferecidas pelas entidades desportivas do país desencorajam o investimento dos atletas em se profissionalizarem.
Foto: Braima Darame
Diamantes anónimos
A Guiné-Bissau é uma mina de diamantes anónimos no futebol. Apesar dessa potencialidade ser reconhecida, o desporto rei foi relegado para segundo plano. Num país onde as escolas públicas andam em constante paralisação e com sucessivas greves de professores, as crianças preenchem o seu tempo com partidas de futebol nas estradas e nas ruas esburacadas.
Foto: DW/B. Darame
Campos improvisados
À primeira vista pode assemelhar-se a uma zona pantanosa, reservada a pasto de gado, contudo, é um terreno destinado à prática futebolística, localizado em São Domingos, no extremo norte do país. São terrenos com obras em curso, impróprios para a prática de desporto, mas ainda assim, este espaço é muito disputado pelas equipas.
Foto: Braima Darame
Pequenos autodidatas
Sem escolas de formação e sem orientação de profissionais, cada um aposta nas qualidades que reconhece em si. Para estas crianças, assumir a posição de ataque em campo é muito apetecível pois sabem que os melhores e mais galardoados jogadores do mundo atuam nas zonas mais avançadas do retângulo de jogo.
Foto: Braima Darame
O sonho da alta competição
Maurício Sissé, apelidado de "Messi" graças à sua agilidade em campo, sonha um dia disputar um Campeonato do Mundo pela seleção nacional portuguesa, pois, segundo ele, é improvável que a Guiné-Bissau reúna condições para disputar o Campeonato. Sissé, de 10 anos, é orfão mas nos últimos meses tem estado à guarda de um empresário de futebol que pretende coloca-lo nas academias de formação na Europa.
Foto: Braima Darame
O treino diário
Chama-se Aliu Seidi, tem 8 anos e estuda na 2ª classe. Aliu é ainda criança mas já cresce nele o sonho de se profissionalizar no futebol. E não deixa que as dificuldades económicas dos seus pais travem neste desejo. Todas as manhãs bem cedo, Aliu arruma os seus equipamentos e segue em direção ao campo pelado de São Domingos, norte da Guiné-Bissau, para mais umas horas de treino.
Foto: Braima Darame
Com os pés no chão
Com muita paixão, garra e vontade de vencer, na Guiné-Bissau as crianças ainda jogam futebol de pés descalços, em lugares impróprios - com pedras ou vidros. Apesar de em cada partida estarem sujeito a se magoarem nos terrenos, o sonho de se tornarem estrelas futebolísticas, fala mais alto e as más condições não os afastam da prática desportiva.
Foto: Braima Darame
Seguir as pisadas rumo ao sucesso
O jogo é constantemente interrompido para permitir a passagem aos carros que circulam. Mas isto não os desmotiva. Têm sempre os olhos no percurso dos internacionais guineenses, desejando igual para si. Um exemplo é Bocindji, jogador na primeira liga francesa. Sami, atualmente na primeira liga portuguesa ou ainda Bruma, transferido do Sporting Clube de Portugal para o Galatasaray na Turquia.
Foto: Braima Darame
Uma partida no intervalo da lavoura
Nos últimos anos têm surgido algumas academias de formação no país. Martinho Sá, da academia Fidjus di Bideras em Bissau, joga futebol no intervalo do trabalho nos campos de arroz, que faz acompanhado pelos seus familiares. Sá conta que já teve lesões graves pela falta de condições dos campos improvisados e que não teve à sua disposição medicamentos de primeiros socorros.
Foto: Braima Darame
Uma incubadora falhada de jogadores
A falta de alimentação diversificada e a fraca formação representam os principais problemas que o país enfrenta para aqueles que vêm no desporto uma carreira em potência. Observadores defendem que se estas questões pudessem ser combatidas, a Guiné-Bissau tinha condições de ser uma incubadora de jogadores de topo.
Foto: Braima Darame
O melhor jogador da aldeia
Saído Baldé, tem apenas 7 anos de idade e nasceu na aldeia de Pelundo, no extremo norte do país. Confessa que nunca teve a oportunidade de assistir a um jogo de futebol na televisão, pois na sua aldeia não há corrente elétrica. Conta que nunca tomou o pequeno-almoço antes de se lançar para campo. Tal como Saído, são muitos os jovens no país que apenas fazem uma refeição por dia.
Foto: Braima Darame
Novos e velhos no Campeonato Defeso
A partir do início da última década, o Campeonato Defeso tem ganho muito impacto entre as comunidades e tem animado os bairros e as aldeias da Guiné-Bissau. Este campeonato de futebol amador e improvisado junta centenas de pessoas curiosas em ver o desempenho de atletas familiares, mas também, interessadas em assistir a novos jogadores que se dão a conhecer à comunidade pela primeira vez.
Foto: Braima Darame
Um campo portátil
E quando a vontade de jogar é muita, qualquer material serve para construir um campo improvisado de futebol. No caso desta fotografia, a cana de bambu foi utilizada para erguer uma baliza. Resta esperar que o resto da equipa chegue para começar uma nova partida.