Sofala: Nomeação de delegados da RENAMO gera mal-estar
Arcénio Sebastião (Beira)
13 de fevereiro de 2019
Membros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) estão divididos. Enquanto uns defendem a indicação dos delegados políticos em Sofala por ordem do líder do partido, outros pedem eleição para os cargos.
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Duas nomeações pela Comissão Política da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) causaram um clima de mal-estar entre os membros do partido na província moçambicana de Sofala.
Ricardo Gerente foi reconduzido no cargo de delegado provincial e João Marata foi nomeado como delegado da cidade da Beira, por ordem do presidente da RENAMO, Ossufo Momade.
Mas vários membros da RENAMO exigem que os delegados sejam eleitos pelas bases do partido e não por indicação do presidente, à luz dos estatutos revistos no último congresso, realizado em janeiro na Gorongosa.
"Queremos que o delegado da cidade da Beira seja eleito", afirma o militante da RENAMO, Ricardo Colaço.
Perseguição política?
Colaço diz que não apoiou a candidatura de Ossufo Momade à liderança da RENAMO - apoiou Elias Dhlakama. E vários membros alegam que as nomeações feitas por Momade são uma forma de vingança.
Sofala: Nomeação de delegados da RENAMO gera mal-estar
Luís Chitato, exonerado do cargo de delegado na Beira com a nomeação de João Marata, diz que situações do género têm acontecido noutras províncias.
"Estou a falar do delegado de Tete, dos delegados de Moatize… E hoje é a cidade da Beira, em que o delegado será empossado à força, o que nós não queremos. Queremos que seja eleito", afirmou.
Assim, desafiando as ordens de Ossufo Momade e da Comissão Política da RENAMO, alguns membros da província elegeram Sandura Vasco Ambrósio e Luís Chitato para os cargos de delegado provincial e delegado da cidade, respetivamente.
"Presidente é o responsável"
Gerónimo Malagueta, membro da Comissão Política Nacional da RENAMO, minimiza as acusações de perseguição política. E assegura que é o presidente do partido que indica os delegados políticos nas províncias.
"Nunca houve essa prerrogativa de que o delegado deve ser eleito", diz Malagueta. "O presidente é o responsável máximo do partido e, portanto, todos órgãos estão subordinados à sua liderança."
Guerrilheiras da RENAMO aguardam paz e reintegração
A desmilitarização também se faz no feminino. As mulheres estão prontas para entregar as armas, assegura a Liga Feminina da RENAMO, e aguardam com expetativa a reintegração nas forças governamentais.
Foto: DW/M. Mueia
Na expetativa do acordo
Muitas mulheres na RENAMO são guerrilheiras e aguardam a sua reintegração social. Estão interessadas em entregar as armas e exercerem outras atividades profissionais. Esperam pelo acordo final entre as principais partes envolvidas no processo de deliberação, neste caso as bancadas parlamentares da RENAMO e A FRELIMO.
Foto: DW/Marcelino Mueia
O aguardado regresso à vida civil
Teresa Abdul, da província do Niassa, começou a combater quando tinha apenas 14 anos. Aguarda o desarmamento e o regresso à vida civil com muita expectativa. “Este processo é muito melhor. Temos muitas pessoas que passaram pela guerra, lutaram, mas até agora não estão a ser reintegradas nos seus lugares, é triste. Caso este processo ocorra, estaremos agradecidos porque todos estarão na linha”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Luta de quase quatro décadas
As mulheres do maior partido da oposição comemoraram o 38º aniversário da criação da Liga Feminina a 5 de Julho de 2018. As celebrações a nível nacional tiveram lugar na província moçambicana da Zambézia, juntando representantes do partido oriundos maioritariamente das províncias.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Que se cumpra o acordo feito com Dhlakama
Albertina Naene, ex-guerrilheira, ingressou nas fileiras militares da RENAMO com apenas 13 anos. Hoje, com 46, apela ao Presidente para prosseguir com os acordos de cessação definitiva das hostilidades militares."O Governo da FRELIMO está a atrasar o processo. Deveria cumprir o que ficou acordado com o presidente Dhlakama. Queremos que aqueles nossos irmãos saiam para virem conviver connosco”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Encontros para motivar e mobilizar apoiantes
A morte do líder da RENAMO não significa o fim do regime partidário. As autoridades políticas da RENAMO na província da Zambézia, têm mantido encontros constantes depois da morte de Afonso Dhlakama. Os encontros não visam apenas traçar planos de atividade para as delegações distritais e membros do partido, também servem para motivar os seus simpatizantes e eleitores.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Maria Inês Martins - presidente da Liga da Mulher da RENAMO
Para a presidente da Liga da Mulher da RENAMO, a integração dos guerrilheiros nas forças governamentais podia começar pelos que, depois dos acordos de paz de 1992, foram integrados e depois afastados “sem justa causa”. “Foram desmobilizados e despromovidos, a outros foram dadas reformas compulsivas. Esta seria uma prova de que o Presidente Nyusi está disponível para cumprir o que acordaram".
Foto: DW/M. Mueia
O desejo de uma vida em paz
Populares querem paz, para continuar a produzir comida, dizem as vendedeiras ao longo da estrada EN1 em Malei, distrito de Namacurra, na Zambézia. Apesar da zona não ter sido afetada pelo conflito no ano passado, algumas vendedeiras dizem que
temiam a situação. Dormiam em prontidão, com malas preparadas para abandonarem as suas casas, em caso de conflito.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Partido "envelhecido"
A RENAMO, continua a ser um partido político com muitos membros idosos. De acordo com o politólogo Ricardo Raboco, a derrota da RENAMO nos pleitos eleitorais está também associada a este fator. Mas o politólogo também opina que, em Moçambique, os mais velhos são mais fiéis à RENAMO e poucos emigram para outras formações políticas. E há cada vez mais idosos a filiar-se pela RENAMO.