Soldados franceses deixam Burkina Faso "dentro de um mês"
DW (Deutsche Welle) | com agências
26 de janeiro de 2023
A França anunciou que irá respeitar o pedido do Burkina Faso para retirar as suas tropas do país no prazo de um mês. "Não é o fim das relações diplomáticas" entre os dois países, garante Ouagadogou.
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O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) francês confirmou, na quarta-feira (25.01), que as tropas francesas deixam o Burkina Faso no prazo de um mês, na sequência de um pedido feito pelo país da África Ocidental.
A França confirmou que recebeu na terça-feira (24.01) o pedido da junta militar no poder no Burkina Faso para retirar as suas tropas e respeitará o prazo de um mês exigido, disse hoje uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês.
"De acordo com os termos do acordo de 2018, a rescisão produz efeitos um mês após o recebimento da notificação por escrito. Respeitaremos os termos deste acordo ao dar seguimento a este pedido", anunciou o MNE francês.
Na passada segunda-feira, o Quai d'Orsay tinha anunciado que aguardava esclarecimentos do Presidente do governo de transição do Burkina Faso sobre o pedido do Ministério dos Negócios Estrangeiros para a saída das tropas francesas no prazo de um mês.
"Não é o fim das relações diplomáticas"
O porta-voz do governo do Burquina Faso, Jean-Emmanuel Ouédraogo, tinha afirmado, numa entrevista à Radio-Télévision du Burkina (RTB), que o que estava a ser rescindido era "o acordo que permite que as forças francesas estejam presentes no Burkina Faso".
"Isto não é o fim das relações diplomáticas entre o Burkina Faso e a França", disse.
O Burkina Faso, que enfrenta atualmente uma insurreição jihadista por grupos ligados ao Estado Islâmico e à al-Qaeda, acolhe atualmente um contingente de cerca de 400 forças especiais francesas, a força Sabre.
A indignação pública face à presença de tropas francesas cresceu em países da África Ocidental, como o Burkina Faso e o vizinho Mali.
A França, antigo colonizador, retirou as suas forças do Mali no ano passado, após a junta militar em Bamako ter feito um acordo com os mercenários privados do Grupo Wagner, da Rússia, para apoiar o seu exército.
O governo do Burkina, contudo, assegurou à França que não se voltará para a Wagner. Uma delegação do grupo de mercenários visitou recentemente o país.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.