A mensagem à nação feita no final do ano pelo Presidente guineense, José Mário Vaz, na qual indicava que os próximos dias seriam "decisivos" para o futuro do país, está a suscitar reações por parte dos cidadãos.
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Na sua mensagem de Ano Novo, José Mário Vaz apontou o ano de 2018 como o da reconciliação nacional e apelou a todos os cidadãos para unirem aos esforços para a saída da crise política. Disse também serem válidas todas as propostas de saída da crise apresentadas até aqui, nomeadamente, o Acordo de Conacri e o roteiro que o próprio elaborou.
A DW África saiu às ruas de Bissau para ouvir os cidadãos. Algumas das opiniões são diferentes das soluções apontadas pelo chefe de Estado guineense para pôr termo à crise política atual. Apesar de uns acreditarem na solução dos problemas do país em 2018, há quem já não confie nas capacidades do Presidente José Mário Vaz para resolver esta crise político-institucional guineense que já dura há mais de dois anos.
"Eu não acredito piamente nesse Presidente. Ele diz uma coisa hoje e amanhã faz outra. O Governo era para cair antes do Natal. Até esta data não aconteceu nada", diz um cidadão.
Outra guineense ouvida em Bissau mostra-se mais otimista e acredita numa saída para a crise. "Somos todos guineenses, somos irmãos, é só sentarmo-nos à volta de uma mesa para encontrarmos um entendimento. Num país pequeno não faz sentido existir problemas entre nós. Tenho fé e passo todos os dias a orar para o futuro do nosso país", diz.
"Como qualquer cidadão e amante da sua pátria espero que a Guiné-Bissau conheça dias melhores e que haja estabilidade. Por outro lado, quero que melhorias das condições de vida se reflitam no dia-a-dia das populações", afirma outro habitante na capital.
Outra guineense ouvida pela DW África tem esperança que 2018 seja crucial para sair da crise que se instalou no país há muito tempo. "Qualquer instabilidade política cria enormes dificuldades para o desenvolvimento do país. Por exemplo, a agricultura familiar é um dos ramos principais da economia do país e devido à crise está a provocar inúmeras dificuldades principalmente no seio das famílias, com particular destaque para as mulheres e crianças que estão a sofrer", explica.
"Solução nas mãos do Presidente"
Face ao impasse em que se encontra a Guiné-Bissau, o presidente do Movimento Nacional da Sociedade Civil voltou a responsabilizar o Presidente da República pela crise no país. Jorge Gomes entende que, a solução do problema continua nas mãos de José Mário Vaz.
Soluções propostas por José Mário Vaz dividem guineenses
"Porque ele é que criou esta situação e ele é quem deve acabar com ela. O Presidente deve usar as suas prerrogativas constitucionais junto dos 15 expulsos do PAIGC para que estes possam regressar a casa", defende o presidente do Movimento Nacional da Sociedade Civil.
"Assim o PAIGC retoma a governação e o país torna-se estável. Só assim poderá por exemplo haver mais investimentos e o país poderá viver melhor do que no ano 2017", afirma o Presidente do Movimento Nacional da Sociedade civil guineense.
Legislativas em maio
O secretário executivo da Comissão Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau, José Pedro Sambú, afirmou esta quarta-feira (03.01) que a instituição "está tecnicamente preparada" para realizar as legislativas no mês de maio, se assim for a decisão do Presidente guineense.
O responsável reuniu-se em audiência de trabalho com José Mário Vaz para fazer o ponto de situação da preparação para as eleições, as quais dependem de uma data exata a ser marcada por decreto presidencial.
No passado dia 16 de dezembro, numa cimeira de líderes da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), realizada na Nigéria, o chefe de Estado defendeu a possibilidade de as eleições serem organizadas em 2019, isto é as legislativas e as presidenciais. No calendário normal, as legislativas devem ter lugar este ano e as presidenciais no próximo.
José Pedro Sambú acredita que José Mário Vaz "está a aguardar pela melhor altura" para anunciar a data da realização das legislativas.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.