Governo somali anunciou esta quinta-feira (27.05) que realizará "dentro de 60 dias" eleições nacionais. Adiamento da votação, há cerca de um mês, provocou uma das piores crises dos últimos anos no país.
Publicidade
Em meados de abril, a prorrogação por dois anos do mandato do Presidente Mohamed Abdullahi Mohamed, conhecido como 'Farmajo', que expirou em 8 de fevereiro sem que fossem organizadas eleições, levou a confrontos violentos na capital.
Roble reuniu-se com todos os líderes políticos no último sábado e as discussões prolongaram-se até hoje, tendo sido seladas com uma cerimónia oficial e a leitura de um comunicado que resume os principais pontos do acordo alcançado entre os líderes.
"O fórum consultivo nacional concordou que as eleições se realizarão dentro de 60 dias", anunciou Abdirahman Yusuf, vice-ministro para a Informação, que leu o comunicado. Yusuf acrescentou que as datas exatas serão determinadas pela comissão encarregada da organização das eleições, a FEIT.
Modelo das eleições
As eleições respeitarão o complexo sistema eleitoral indireto utilizado até agora na Somália, onde delegados especiais nomeados por uma infinidade de clãs selecionam deputados, que, por sua vez, nomeiam o Presidente.
Esperança por uma Somália melhor
02:11
O primeiro-ministro somali afirmou já que este é "um dia histórico" e acrescentou que as conversações foram marcadas por "respeito, paciência e compromisso".
"Estou empenhado em supervisionar o processo a favor de eleições justas e inclusivas e apelo às partes para que perdoem e abram os seus corações uns aos outros", disse Roble num discurso após a conclusão das negociações.
Publicidade
Crise política
O Governo somali e os cinco estados semiautónomos do país começaram por acordar em 17 de setembro último a realização de eleições antes do fim do mandato de 'Farmajo', através do sistema indireto.
Mas o processo acabou por ser interrompido porque o Governo federal e os líderes dos estados de Puntland e Jubaland não chegaram a acordo sobre a forma como as eleições seriam realizadas.
A eleição de 'Farmajo' em 2017 suscitou grandes esperanças entre a população somali, que o via como um líder ansioso por combater a corrupção e determinado a combater as milícias islâmicas da al-Shebab.
O prolongamento do mandato do chefe de Estado foi, no entanto, visto por muitos, como uma apropriação do poder pela força, para além de que a al-Shebab nunca foi particularmente incomodada durante o seu mandato.
O Governo de Mogadíscio controla apenas uma pequena parte do território do país, com a ajuda crucial de cerca de 20.000 soldados da força Amisom da União Africana (UA), que opera sob um mandato da ONU.
Mogadíscio - cidade de extremos
A capital da Somália é uma cidade de desespero e de esperança. Assolada por quase 30 anos de guerra civil, Mogadíscio tenta reconstruir-se e recuperar um Estado falido.
Foto: DW/S. Petersmann
Combate à fome
Xamdi é filha de nómades somalis e esteve na enfermaria de nutrição do Hospital Banadir, de Mogadíscio, desde o início de agosto. A sua mãe alimenta-a com uma pasta à base de amendoim, para tratamento de desnutrição aguda. Xamdi tem três anos e pesa apenas sete quilos. A maioria das crianças na Alemanha na mesma faixa etária pesa duas vezes mais. Cerca de 800 mil somalis enfrentam fome.
Foto: DW/S. Petersmann
Sistema de saúde em colapso
Este menino recupera na cama ao lado de Xamdi. Luta contra a pneumonia, uma das infecções mais comuns causadas pela desnutrição crónica e condições superlotadas nos campos de refugiados. As suas mãos estão envolvidas em papel para evitar que ele tire o tubo de alimentação. O Hospital Banadir é a maior clínica pública de Mogadíscio, mas mesmo aqui é visível o caos do sistema de saúde.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de refugiados
A capital somali está cheia de casas improvisadas. Muitos nómadas e camponeses estão determinados a ficar. Fugiram da guerra civil, do terror, da violência e da fome extrema. A população da cidade saltou para cerca de 2,5 milhões. Pelo menos 600 mil são oficialmente consideradas "pessoas internamente deslocadas".
Foto: DW/S. Petersmann
Um fardo pesado
Os conglomerados e as condições de vida sem higiene nos campos são um risco para a saúde. As infecções agudas de foro respiratório e a diarreia são doenças comuns entre os deslocados internos de Mogadíscio. A vida nos campos improvisados é uma luta diária para a próxima refeição e o próximo balde de água.
Foto: DW/S. Petersmann
A vida à espera
Não há muito a fazer dentro dos campos, mas sim sentar e esperar. Muitas crianças não têm acesso a educação. A maioria dos acampamentos improvisados não tem parque infantil ou outros espaços recreativos.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade feita de ruínas
Também há muito dificuldade fora dos campos. Especialmente a parte antiga de Mogadíscio é marcada por quase três décadas de conflito interno. Mas também há sinais de novos começos.
Foto: DW/S. Petersmann
A hora da "selfie"
Esses jovens divertem-se no Parque da Paz de Mogadíscio. Todos eles são estudantes, todos expressam fé no novo Governo do Presidente Abdullahi, apoiado pelo Ocidente. Um dos estudantes, que quer ser engenheiro de aviação civil, diz: "é muito mais seguro aqui do que há cinco anos. Hoje temos lugares como o Parque da Paz. Mogadíscio está mudando e nós estamos adoramos".
Foto: DW/S. Petersmann
Não às armas
Logo na entrada do Parque da Paz, os visitantes são lembrados de deixar para trás armas, como as chamadas Kalashnikovs, facas, granadas de mão e pistolas.
Foto: DW/S. Petersmann
Onde tudo acontece
A praia de Liido, em Mogadisci, atrai multidões, especialmente após as preces islâmicas de sexta-feira. As pessoas juntam-se para dançar e jogar futebol. Este desporto é extremamente popular na Somália e os jovens amantes reúnem-se na praia de Liido, um local antes de acesso difícil a civis, que estava sob controlo da milícia Al-Shabab.
Foto: DW/S. Petersmann
Reconstrução em pleno andamento
A comunidade internacional começou a investir na reconstrução do Estado fracassado da Somália. Os sinais visíveis estão na capital, como esta nova rua foi feita com ajuda da Turquia. Os turcos também criaram uma grande base militar em Mogadíscio para treinar soldados da Somália.
Foto: DW/S. Petersmann
Muros e cercas
Novas residências brotam em toda a Mogadíscio. A diáspora que retorna para a Somália investe no mercado imobiliário em expansão da cidade. Assim como políticos e outras classes mais ricas. Muitos dos novos edifícios estão rodeados por altos muros de proteção contra explosão e arames farpados para afastar terroristas, criminosos e grupos rivais.
Foto: DW/S. Petersmann
Zona Verde
O terreno do aeroporto tornou-se o centro dos expatriados. Como Bagdad e Kabul, Mogadíscio também tem uma chamada "zona verde". As Nações Unidas e a maioria das missões diplomáticas que retornam vivem e trabalham neste vasto complexo que se desenvolveu em torno do Aeroporto Internacional de Mogadíscio. Está cercado e protegido pelas tropas da União Africana.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de murais
A maioria das fachadas das lojas ou vitrines é pintada à mão, em Mogadíscio. Os trabalhos agregam uma cor necessária a uma cidade que se ergue lentamente de suas ruínas.
Foto: DW/S. Petersmann
Compras pela internet
Cartazes modernos também têm conquistado as ruas, anunciando compras on-line de moda árabe ou uniformes para instituições privadas de ensino.
Foto: DW/S. Petersmann
Novidades não são para todos
As novas atrações da cidade estão fora do alcance dos muitos deslocados e pobres. O progresso e a estabilidade da Somália também dependerão da capacidade do Estado de conquistar a confiança dos habitantes. Atualmente, quase sete milhões de pessoas, cerca de metade da população do país, dependem de ajuda humanitária.
Foto: DW/S. Petersmann
Explosão juvenil
Mais de metade da população da Somália tem menos de 18 anos. A maioria dos cidadãos nasceu após queda de Mohammed Siad Barre, em 1991 - o evento crucial que desmoronou o Estado. A juventude da capital, quando não está envolvida em alguma atividade, sente-se marginalizada, aumentando a vulnerabilidade da Somália.