Somália precisa de mil milhões de euros para combater a fome
Lusa
7 de setembro de 2022
O chefe humanitário da ONU avisou que serão necessários pelo menos mil milhões de dólares para evitar mortes devido à fome na Somália até ao início de 2023. Segundo especialistas, fome chegará entre outubro e dezembro.
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A partir de Mogadíscio, capital da Somália, Martin Griffiths, o chefe humanitário da ONU, fez um briefing à imprensa, onde disse que, segundo um novo relatório de um painel de especialistas independentes, a fome chegará ao país entre outubro e dezembro.
A situação poderá piorar em 2023, quando se prevê que mais duas estações secas venham a agravar a seca histórica que atingiu o país do Corno de África, disse Griffiths no balanço da sua viagem de cinco dias à Somália.
De acordo com o subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU, são necessários mais de mil milhões de dólares em novos fundos, para além dos cerca de 1,4 mil milhões de dólares (praticamente o mesmo em euros ) que a organização já tinha solicitado.
O apelo teve sucesso, disse Griffiths, graças à Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), que anunciou uma doação de 476 milhões de dólares de ajuda humanitária e de desenvolvimento em julho.
A Rede de Sistemas de Alerta Precoce da Fome, criada pela USAID, disse num relatório divulgado na segunda-feira que a fome deverá emergir ainda este ano em três áreas da região da Baía (sudeste), incluindo Baidoa e Burhakaba.
Cerca de 7,1 milhões de pessoas necessitam de assistência urgente para tratar e prevenir a desnutrição aguda na Somália e reduzir o número de mortes relacionadas com a fome, de acordo com uma análise recente da organização.
Somália: A fome num Estado falhado
01:43
Má nutrição continua a fazer vítimas
Pelo menos 730 crianças morreram de má nutrição na Somália desde janeiro, e os números podem aumentar nos próximos meses, quando o centro e sul do país entrar em situação de fome, alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
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"Um milhão e meio de crianças, quase metade de todas as crianças com menos de 5 anos, podem sofrer de má nutrição aguda, e entre eles 385 mil necessitarão de ser ajudados", alertou a responsável da Unicef para a Somália, Wafaa Saeed, salientando que "os números são inéditos".
A responsável da UNICEF alertou que, neste país do leste africano, que faz fronteira com Quénia, Etiópia e Djibuti, 4,5 milhões de pessoas necessitam urgentemente de água, numa altura em que os preços deste bem básico aumentaram entre 55 e 85% desde o princípio do ano.
Também houve um aumento dos surtos de cólera, sarampo e diarreia aguda, tudo causado pela crise alimentar e pela falta de água, apontou a líder do Unicef no país, defendendo que a comunidade internacional tem de ajudar.
A ausência de chuvas é o mais recente problema que o país enfrenta, depois de ter passado por décadas de conflito, deslocações massivas da população e, mais recentemente, a forte subida dos preços dos cereais e de outros alimentos básicos, em parte devido à guerra na Ucrânia.
Citada pela agência notícias EFE, Saeed acrescentou que a Somália sofre a terceira seca em apenas uma década, depois de em 2011 terem morrido 260 mil pessoas, na sua maioria crianças, e a atual, com quatro estações consecutivas sem chuvas, pode ser ainda pior, de acordo com a ONU.
Mogadíscio - cidade de extremos
A capital da Somália é uma cidade de desespero e de esperança. Assolada por quase 30 anos de guerra civil, Mogadíscio tenta reconstruir-se e recuperar um Estado falido.
Foto: DW/S. Petersmann
Combate à fome
Xamdi é filha de nómades somalis e esteve na enfermaria de nutrição do Hospital Banadir, de Mogadíscio, desde o início de agosto. A sua mãe alimenta-a com uma pasta à base de amendoim, para tratamento de desnutrição aguda. Xamdi tem três anos e pesa apenas sete quilos. A maioria das crianças na Alemanha na mesma faixa etária pesa duas vezes mais. Cerca de 800 mil somalis enfrentam fome.
Foto: DW/S. Petersmann
Sistema de saúde em colapso
Este menino recupera na cama ao lado de Xamdi. Luta contra a pneumonia, uma das infecções mais comuns causadas pela desnutrição crónica e condições superlotadas nos campos de refugiados. As suas mãos estão envolvidas em papel para evitar que ele tire o tubo de alimentação. O Hospital Banadir é a maior clínica pública de Mogadíscio, mas mesmo aqui é visível o caos do sistema de saúde.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de refugiados
A capital somali está cheia de casas improvisadas. Muitos nómadas e camponeses estão determinados a ficar. Fugiram da guerra civil, do terror, da violência e da fome extrema. A população da cidade saltou para cerca de 2,5 milhões. Pelo menos 600 mil são oficialmente consideradas "pessoas internamente deslocadas".
Foto: DW/S. Petersmann
Um fardo pesado
Os conglomerados e as condições de vida sem higiene nos campos são um risco para a saúde. As infecções agudas de foro respiratório e a diarreia são doenças comuns entre os deslocados internos de Mogadíscio. A vida nos campos improvisados é uma luta diária para a próxima refeição e o próximo balde de água.
Foto: DW/S. Petersmann
A vida à espera
Não há muito a fazer dentro dos campos, mas sim sentar e esperar. Muitas crianças não têm acesso a educação. A maioria dos acampamentos improvisados não tem parque infantil ou outros espaços recreativos.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade feita de ruínas
Também há muito dificuldade fora dos campos. Especialmente a parte antiga de Mogadíscio é marcada por quase três décadas de conflito interno. Mas também há sinais de novos começos.
Foto: DW/S. Petersmann
A hora da "selfie"
Esses jovens divertem-se no Parque da Paz de Mogadíscio. Todos eles são estudantes, todos expressam fé no novo Governo do Presidente Abdullahi, apoiado pelo Ocidente. Um dos estudantes, que quer ser engenheiro de aviação civil, diz: "é muito mais seguro aqui do que há cinco anos. Hoje temos lugares como o Parque da Paz. Mogadíscio está mudando e nós estamos adoramos".
Foto: DW/S. Petersmann
Não às armas
Logo na entrada do Parque da Paz, os visitantes são lembrados de deixar para trás armas, como as chamadas Kalashnikovs, facas, granadas de mão e pistolas.
Foto: DW/S. Petersmann
Onde tudo acontece
A praia de Liido, em Mogadisci, atrai multidões, especialmente após as preces islâmicas de sexta-feira. As pessoas juntam-se para dançar e jogar futebol. Este desporto é extremamente popular na Somália e os jovens amantes reúnem-se na praia de Liido, um local antes de acesso difícil a civis, que estava sob controlo da milícia Al-Shabab.
Foto: DW/S. Petersmann
Reconstrução em pleno andamento
A comunidade internacional começou a investir na reconstrução do Estado fracassado da Somália. Os sinais visíveis estão na capital, como esta nova rua foi feita com ajuda da Turquia. Os turcos também criaram uma grande base militar em Mogadíscio para treinar soldados da Somália.
Foto: DW/S. Petersmann
Muros e cercas
Novas residências brotam em toda a Mogadíscio. A diáspora que retorna para a Somália investe no mercado imobiliário em expansão da cidade. Assim como políticos e outras classes mais ricas. Muitos dos novos edifícios estão rodeados por altos muros de proteção contra explosão e arames farpados para afastar terroristas, criminosos e grupos rivais.
Foto: DW/S. Petersmann
Zona Verde
O terreno do aeroporto tornou-se o centro dos expatriados. Como Bagdad e Kabul, Mogadíscio também tem uma chamada "zona verde". As Nações Unidas e a maioria das missões diplomáticas que retornam vivem e trabalham neste vasto complexo que se desenvolveu em torno do Aeroporto Internacional de Mogadíscio. Está cercado e protegido pelas tropas da União Africana.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de murais
A maioria das fachadas das lojas ou vitrines é pintada à mão, em Mogadíscio. Os trabalhos agregam uma cor necessária a uma cidade que se ergue lentamente de suas ruínas.
Foto: DW/S. Petersmann
Compras pela internet
Cartazes modernos também têm conquistado as ruas, anunciando compras on-line de moda árabe ou uniformes para instituições privadas de ensino.
Foto: DW/S. Petersmann
Novidades não são para todos
As novas atrações da cidade estão fora do alcance dos muitos deslocados e pobres. O progresso e a estabilidade da Somália também dependerão da capacidade do Estado de conquistar a confiança dos habitantes. Atualmente, quase sete milhões de pessoas, cerca de metade da população do país, dependem de ajuda humanitária.
Foto: DW/S. Petersmann
Explosão juvenil
Mais de metade da população da Somália tem menos de 18 anos. A maioria dos cidadãos nasceu após queda de Mohammed Siad Barre, em 1991 - o evento crucial que desmoronou o Estado. A juventude da capital, quando não está envolvida em alguma atividade, sente-se marginalizada, aumentando a vulnerabilidade da Somália.