"Stand Up Beira", a música de apoio às vítimas do Idai
Rodrigo Vaz Pinto
17 de abril de 2019
O músico e ativista moçambicano Osvaldo Iko MC acaba de lançar o tema "Stand Up Beira". Objetivo é apoiar as vítimas do ciclone Idai, que atingiu centro do país há um mês, e motivar os beirenses a ultrapassar a tragédia.
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Osvaldo Iko MC, formado em sociologia, sentiu logo vontade ajudar e motivar todas as pessoas a ultrapassar esta catástrofe do ciclone Idai. Fez a música "Stand Up Beira" com o objetivo de transmitir esperança, força e alegria às vítimas deste grande desastre.
"Pensei fazer uma música, também porque tinha um irmão na Beira. Pensei mais no sentido ativista, em vez de dar algo material podia dar algo simbólico. Falei então com o meu amigo Mic On para fazer uma música que motive as pessoas, que traga alegria às pessoas. Em vez das pessoas pensarem no que aconteceu. As pessoas devem erguer-se, devem levantar-se", explica.
O cantor também já fez campanhas de sensibilização focadas na problemática do lixo e é uma voz ativa na comunidade. O artista original de Maputo contou com ajuda do estúdio Zion Records que disponibilizou o tempo de gravação sem qualquer custo. Mic On e Walter J são os outros dois artistas que dão voz a este hino de apoio e o segundo nasceu na cidade da Beira. Na produção deste tema colaboraram ainda Big Momas e Hélio Beats.
O poder da música
O ativista acredita que o poder da música pode chamar atenção para a destruição que atingiu a cidade da Beira e por uma canção ser um veículo diferente de despertar consciências.
"Stand Up Beira", a música de apoio às vítimas do Idai
"Eu acredito que a música tem uma ligação humana muito forte. Nós quando acordamos, geralmente, podemos estar mal dispostos. Mas a primeira coisa que ouvimos é ouvir uma música. Os nossos gostos do dia-a-dia são definidos pelos nossos gostos musicais. A nossa forma de vestir ou nossa forma de expressar. Então acho que alguém ouvindo a música, percebendo a dor e a tristeza a partir da música, porque a música invoca ao sentimento, não só ao pensamento. As pessoas podem ter a dimensão do que está a acontecer, que é um problema sério", explica em entrevista à DW.
Contudo, Iko revela-se esperançoso num futuro melhor e diz que só com união de todos é que se vai conseguir ultrapassar as dificuldades e dar volta ao panorama geral do país. "Eu acho que para recuperar esse desastre é necessário que haja união. É o momento certo de Moçambique juntar-se e criar ou trazer um maior nível de confiança ao nível das atividades. Nota-se que as pessoas tendem a não confiar devido ao nível de insatisfação no trabalho político. Eu penso que este fenómeno do Idai pode de algum modo a mudar o cenário."
A música já está a passar em algumas rádios moçambicanas e pode ser ouvida em streaming aqui. Um dos objetivos futuros passa por angariar fundos e fazer um videoclip desta música na cidade da Beira.
O ciclone Idai devastou o centro de Moçambique a 14 de março e provocou 603 mortos e 1.642 feridos, segundo o balanço mais recente.
Ciclone Idai: Um mês após a tragédia
O ciclone Idai já é uma das maiores tragédias da história de Moçambique. Atingiu a cidade da Beira a 14 de março, seguindo para oeste, em direção ao Zimbabué e ao Malawi, e a afetar milhões de pessoas.
Foto: Reuters/M. Hutchings
Depois do ciclone, ruínas
Na cidade da Beira, Ester Thoma caminha com o filho junto às ruínas da sua antiga casa, que foi quase completamente destruída pelo ciclone Idai. A cidade foi uma das mais afetadas pela passagem do ciclone, a 14 de março de 2019. Uma catástrofe que deixou um rasto de destruição e que já é uma das maiores tragédias da história do país.
Foto: Reuters/Z. Bensemra
O ciclone Idai visto pela NASA
Esta imagem de satélite foi feita pela NASA e mostra a aproximação do ciclone Idai à costa dos países africanos. "A situação é terrível, a magnitude da devastação é enorme", disse na ocasião o líder da equipa de avaliação da Cruz Vermelha na Beira, Jamie LeSueur.
Foto: NASA
Crise humanitária sem precedentes
Em Moçambique, o ciclone Idai afetou mais de 1,5 milhões de pessoas, segundo o mais recente balanço. Deixou pelo menos 602 mortos e 1.641 feridos. A 27 de março, as autoridades do país declararam um surto de cólera. Isso porque, após a passagem do ciclone, a 14 março, seguiram-se chuvas intensas e inundações.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Moisés, o bebé que nasceu em cima de uma árvore
Enquanto Moçambique avaliava os estragos do ciclone Idai, em toda a província de Sofala, cerca de 5 mil pessoas esperavam por socorro em cima de árvores e tetos de casas. Em Búzi, um dos distritos mais afetados pelo Idai, um bebé, que recebeu o nome de Moisés, nasceu em cima de uma árvore. Como a personagem bíblica, este Moisés também foi salvo das águas.
Foto: DW
Cheias em Tete
Em Tete, as cheias que seguiram à passagem do ciclone afetaram pelo menos 900 famílias. Dessas, cerca de 600 foram acolhidas no centro de acomodação do Instituto Industrial e Comercial de Matundo. Entretanto, as dificuldades foram enormes. Com a falta de tendas, as famílias juntavam os seus pertences debaixo de árvores.
Foto: DW/A. Zacarias
OMS contra a cólera
Uma mulher vítima de cólera é transportada por profissionais de saúde. Após o devastador ciclone Idai, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou estar a preparar-se para um possível aumento acentuado da doença. 900 mil vacinas contra a cólera foram enviadas para o país. Na cidade mais afetada, a Beira, foram instalados três centros de tratamento.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Mukwazhi
Depois do desastre, a cólera
Cerca de 800 mil pessoas foram vacinadas contra a cólera até 11 de abril, numa campanha para evitar a propagação da doença em quatro distritos afetados pelo ciclone Idai na província de Sofala. Dados oficiais indicam que pelo menos sete pessoas morreram devido ao surto, até 9 de abril, registando-se 535 casos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Solidariedade alemã
O Governo da Alemanha aumentou a ajuda humanitária para um total de 5 milhões de euros. Diversas organizações humanitárias e igrejas cristãs pediram donativos. Cruz Vermelha alemã, Caritas Alemanha, Diocese de Hamburgo, Diakonie Katastrophenhilfe, Action Medeor, foram algumas das instituições alemãs que estiveram a apoiar os moçambicanos.
Foto: Aktionsbündnis Katastrophenhilfe
Artistas e desportistas apoiam vítimas
O concerto solidário "Mão dada a Moçambique" promovido pela cantora moçambicana Selma Uamusse, decorreu no dia 2 de abril em Lisboa e conseguiu angariar cerca de 300 mil euros para as vítimas do Idai. Surfistas e futebolistas em Portugal uniram-se ao movimento de solidariedade em vários eventos. Houve também concertos para angariar fundos em Nampula e no Niassa, no norte de Moçambique.
Foto: Vera Marmelo
Falta de médicos e medicamentos nos hospitais da Beira
Equipas da cruz vermelha trabalham para ajudar sobreviventes. Mas nos postos de saúde da Beira, a cidade mais afetada pelo ciclone Idai, há longas filas de pacientes, todos os dias. Queixam-se da falta de médicos e de medicamentos. A Cruz Vermelha Portuguesa montou um hospital de campanha em Macurungo, que diariamente atende mais de 300 pessoas.
Foto: Reuters/IFRC/RCRC Climate Centre
Sem electricidade
Um mês após o ciclone, a empresa estatal Electricidade de Moçambique (EDM) anunciou que precisa de 106 milhões de euros para a recuperação das infraestruturas destruídas pelo ciclone Idai no centro do país. Mais de 95% dos clientes da EDM nas províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia ficaram sem energia elétrica.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Ajuda para reconstruir o futuro
Enquanto os moçambicanos tentam reconstruir as suas vidas, a Comissão Europeia anunciou na terça-feira (09.04) uma verba adicional de 12 milhões de euros de ajuda humanitária para as populações afetadas pelo ciclone Idai em Moçambique. Esse país receberá a maior fatia da ajuda (sete milhões de euros), seguido por Zimbabué (quatro milhões) e Malawi (um milhão de euros).