STP: CEN pede aos jovens que sejam embaixadores da paz
Lusa
23 de julho de 2022
A Comissão Eleitoral Nacional (CEN) são-tomense iniciou a campanha de educação cívica e apelou aos jovens que sejam embaixadores da paz e contra discursos de ódio para que as eleições sejam festa da democracia.
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"Aproveito para vos pedir, que, como jovens, sejam embaixadores da paz nestas eleições, que nas conversas dos quintais, cortem qualquer discurso de ódio de uns contra outros, de serem usados para mobilizações de provocações entre partidos. Ajudem que a que São Tomé e Príncipe não seja notícia negativa", apelou na sexta-feira (22.07) o presidente da Comissão Eleitoral Nacional (CEN), José Carlos Barreiros.
O lançamento da campanha teve início no distrito de Lembá, no norte da ilha de São Tomé e vai percorrer todos os distritos, incluindo a Região Autónoma do Príncipe, em parceria com o Conselho Nacional da Juventude (CNJ).
Segundo José Carlos Barreiros, os jovens estão a ser capacitados para serem agentes sensibilizadores visando "a educação dos cidadãos em relação aos processos eleitorais, sublinhando os seus direitos e deveres, a votação, o funcionamento do sistema democrático, entre os outros processos". "Estamos a correr contra o tempo para conseguirmos preparar as três eleições [...] o que em termos de procedimento é bastante complexo", disse o presidente da CEN a mais de uma centena de jovens presentes na abertura da campanha.
O representante do CNJ, Amilton Bonfim, apelou os jovens a contribuírem "para uma eleição pacífica e mais inclusiva", mostrando preocupação desta organização juvenil "com a questão de violência no período eleitoral e principalmente pós-eleitoral". "Queremos que jovens façam valer o seu direito de eleger e de ser eleito. Vamos percorrer os distritos, levando aos jovens esta ideia e sensibilizá-los a exercer o direito de voto de maneira a combatermos a taxa de abstenção que as vezes nos têm surpreendido", disse Amilton Bonfim. Além disso, o representante do Conselho Nacional da Juventude defendeu que "haja uma maior inclusão da juventude nas listas concorrentes às eleições" e apelou para que "os programas e manifestos dos partidos sejam sensíveis" e incluam as preocupações da juventude.
A campanha de educação cívica é apoiada pelo escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) em São Tomé e Príncipe.
O coordenador residente da ONU no arquipélago são-tomense, Eric Overvest, sublinhou que os jovens são mais de 60% da população são-tomense e "podem ser a garantia de um processo em paz" até porque serão também "a maioria nas mesas de voto", por isso sua inclusão na campanha de educação cívica "é uma decisão acertada" para "uma eleição em paz, com civismo, respeito uns pelos outros". "Vamos apoiar as formações e campanha de educação cívica ao pedido do Governo de São Tomé e Príncipe que solicitou este apoio já em março do ano passado, e como sempre as Nações Unidas respondem sempre o pedido de São Tomé e Príncipe até por ser um país de África Central que temos muita fé, por ser um exemplo de paz", disse Eric Overvest.
Contestação motivada pela ADI
São Tomé e Príncipe realiza as eleições legislativas, autárquicas e regional do Príncipe em 25 de setembro, mas há uma contestação motivada pela Ação Democrática Independente (ADI, oposição) e a sua organização juvenil e defendida pelo Presidente da República, Carlos Vila Nova, exigindo a atualização dos cadernos eleitorais de cerca de oito mil novos jovens eleitores e pessoas que mudaram de residência desde a eleição presidencial do ano passado.
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Na terça-feira (19.07), o presidente do parlamento são-tomense, Delfim Neves, disse que propôs o adiamento para janeiro das eleições para permitir a realização do recenseamento eleitoral, mas o Presidente da República rejeitou.
Na quarta-feira (20.07) a Presidência da República reafirmou, em comunicado de imprensa, que as eleições serão realizadas em 25 de setembro, sublinhando que "todos os órgãos com responsabilidade neste processo, sabiam desde 2021, com a aprovação do novo pacote [de lei eleitoral], que em 2022, neste período, haveriam de se realizare eleições".
Por sua vez, a juventude do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP/PSD) considerou que foi "o Presidente da República, Carlos Vila Nova, que não quis que houvesse recenseamento eleitoral para os novos eleitores jovens e cabe ao Presidente todas as responsabilidades inerentes a esta situação".
O Conselho Nacional da Juventude, afirmou no sábado, que acompanha "com apreensão a discussão e a polémica da não atualização dos cadernos eleitorais" e lamentou "que os jovens sejam excluídos", mas sublinhou que também compreende "as limitações da Comissão Eleitoral Nacional" neste processo.
São Tomé e Príncipe: Como a pandemia mudou a vida das pessoas
Na capital do país, São Tomé, profissionais dos mais diversos setores ralatam as intempéries causadas pela Covid-19, mas falam em esperança num futuro sem pandemia.
Foto: João Carlos/DW
Impacto negativo das restrições
Quem chega às ilhas de São Tomé e Príncipe, plantadas no meio do Oceano Atlântico, depara com um ambiente de quase total abstração sobre a existência da Covid-19. A maior parte da população não usa máscara facial. Mas a pandemia do novo coronavírus obrigou a muitas restrições e teve um forte impacto negativo na vida social e económica deste país da África Central.
Foto: João Carlos/DW
Normalidade em plena pandemia
Apesar dos vários avisos e informações oficiais recomendarem cuidados preventivos e proteção por causa do coronavírus e de suas variantes, muitos são-tomenses levam a sua vida quotidiana com normalidade, praticamente a ignorar que a Covid-19 constitui um problema de saúde pública. No entanto, há quem reconheça que a doença provocou perturbações no quotidiano da população.
Foto: João Carlos/DW
A vida está mais difícil
Taxista, 40 anos de idade, pai de quatro filhos, Euclides Gonçalves é quem sustenta a família. A vida que já não era está fácil ficou ainda mais difícil desde o início da pandemia de Covid-19. "Sentimos muita pressão com esta pandemia", afirma. "O negócio arrefeceu e é mais complicado ganhar dinheiro", diz o taxista, reconhecendo que "vivemos um momento de crise mundial".
Foto: João Carlos/DW
Subsídio do Estado é irrisório
O subsídio de cerca de 60 euros atribuído apenas uma vez pelo Governo são-tomense foi irrisório face à dimensão dos prejuízos que os taxistas sofrem depois do surto da pandemia. "O santomense nunca acreditou que houve Covid-19 em São Tomé e Príncipe", afirma Euclides, explicando a razão pela qual já não exige aos passageiros o uso de máscaras.
Foto: João Carlos/DW
Clientes também têm dificuldades
Fernando Afonso Vila Nova, motoqueiro de 62 anos de idade, também tem limitações para sustentar a família. Ainda com filhos na escola, consegue o sustento com muito sacrifício, já agravado pelo acidente de viação que lhe afetou as pernas e um braço. A crise pandémica agudizou a sua situação e de muitos colegas: "Há pouco movimento porque os clientes também passam por dificuldades".
Foto: João Carlos/DW
Nem barba, nem cabelo e tampouco bigode
A Barbearia Rita é uma das mais antigas da cidade de São Tomé. Edne Sacramento, cabeleireiro há 17 anos e pai de três filhos, testemunha em que medida a Covid-19 prejudicou a sua atividade. "Antes da pandemia, tínhamos muitos clientes", relata. Mas "depois da pandemia, muitos sentiam aquele receio de vir cá ao salão cortar cabelo, apesar de cumprirmos as regras todas".
Foto: João Carlos/DW
Escassez de mercadorias
Maria Helena da Mata, há mais de 30 anos no comércio, diz que é "muito forte" o impacto na sua atividade. O país depende totalmente do exterior: "Houve falta de transporte marítimo, o que provocou escassez de mercadorias". Além disso, a crise afetou a situação das famílias. "As pessoas não têm dinheiro, não têm poder de compra. Isso faz com que o comércio esteja também numa situação caótica".
Foto: João Carlos/DW
Encerramentos e incertezas
Os setores da restauração, viagens e eventos não ficaram ilesos. Elisabete Carvalho avalia a atual conjuntura com algum alívio porque fez investimentos próprios sem recorrer a créditos. Ainda assim, foi obrigada a fechar os serviços e isso acabou por afetar muitas famílias que empregava. "Neste momento, tudo é uma incerteza", refere.
Foto: João Carlos/DW
O peixe de cada dia
Nascido na localidade de Praia Gambôa, arredores de São Tomé, o pescador Cristovão da Trindade confirma que a sua atividade também sofreu com a redução da campanha e limitação à circulação das "palaiês" [vendedeiras de peixe], afetando o rendimento de toda a comunidade. Agora que diminuiu o número de casos de infetados, ele e os demais pescadores tentam recuperar o tempo perdido.
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Acostumar-se ao teletrabalho
O jurista Weiko Bastos diz que a pandemia pesou fundamentalmente na redução da receita e dos honorários. Levou à diminuição da quantidade e qualidade de clientes. Isso, aliado ao confinamento, atingiu igualmente o orçamento da sua família, forçada a fazer contenção de gastos. "Não estávamos preparados para o teletrabalho e não tinha Internet em casa. As dificuldades eram maiores", recorda.
Foto: João Carlos/DW
Estudar em casa
O professor e escritor, Lúcio Amado é um observador crítico da sociedade são-tomense. Considera que a principal preocupação da população é a sobrevivência, o que faz com que se não dê muita atenção à luta contra a Covid-19. No entanto, reconhece, a pandemia teve reflexos perversos no sistema de ensino. As turmas tinham números elevados de alunos que foram forçados a ficar em casa.
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Dançar conforme a música
Tem um disco novo que devia ter sido lançado em 2020, o que não aconteceu devido à Covid-19. "Tive que suspender todos os trabalhos", explica Kalú Mendes, produtor e um dos músicos de referência de São Tomé e Príncipe. '"Também as grandes editoras começaram a ter problemas financeiros", afirma. No entanto, continua a trabalhar e espera ter o disco no mercado em 2022.
Foto: João Carlos/DW
Resistir à turbulência
Outra referência das artes das ilhas, João Carlos Nezó resiste às intempéries no sul de São Tomé: "Aqui o mercado de arte é muito pequeno", dependente de turistas estrangeiros. Com a pandemia, deixou de vender. Ficou em primeiro lugar num concurso da Aliança Francesa, que lhe dava o passaporte para participar numa residência artística. "Não pude ir porque a pandemia durou dois anos", lamenta.
Foto: João Carlos/DW
Quebra brutal no turismo
Ligada a um empreendimento turístico ecológico no sul de São Tomé, Luísa Carvalho lamenta a quebra de turistas. "Todos os dias há cancelamentos de reservas. Antes da pandemia, tínhamos muita procura", garante a gerente. "De julho até então", adianta, "têm estado a aparecer alguns clientes curiosos", que fogem um pouco à situação, por exemplo, na Europa. Ms prevê: "Isto já não será como era antes".
Foto: João Carlos/DW
Resistência à vacinação
No início, havia resistência da maioria dos são-tomenses em aceitar a vacina contra a Covid-19, devido a rumores sobre a Astrazeneca. No entanto, com a campanha iniciada a 15 de março, aumentou a adesão da população, diz Solange Barros, coordenadora do Programa Nacional de Vacinação. "As vacinas são todas eficazes". Mas, dá conta, a adesão à segunda dose ficou muito aquém do esperado.
Foto: João Carlos/DW
À espera da terceira dose
Daniel Costa reconhece que "a pandemia afetou toda a gente". Para este antigo militar das Forças Armadas, as restrições impostas pelo confinamento e fracos salários agravaram o nível de pobreza da população. Sentiu-se algum alívio com as medidas de apoio do Governo aos mais carenciados. Diz que está pronto para tomar a terceira dose de qualquer vacina e aconselha as pessoas a se vacinarem.
Foto: João Carlos/DW
Manter a esperança e o otimismo
Apesar de algum receio, há uma mensagem de esperança entre os são-tomenses. Os nossos entrevistados acreditam que "as coisas poderão melhorar" nos próximos tempos, sobretudo para a atividade turística afetada sobremaneira. Vive-se uma "normalidade aparente", como diz Elisabete Carvalho, mas a expetativa está em 2022, porque, argumenta Weiko Bastos, "a economia não suporta mais confinamentos".