STP: Empossados membros da Comissão Eleitoral Nacional
Ramusel Graça
25 de junho de 2022
Os membros da Comissão Eleitoral Nacional (CEN) são-tomense foram empossados numa cerimónia presidida por Delfim Neves. A CEN irá tornar pública decisão sobre a atualização ou não do caderno eleitoral nos próximos dias.
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Os novos membros que compõem a CEN (Comissão Eleitoral Nacional) em São Tomé e Príncipe, foram este sábado (25.06) empossados por Delfim Neves, Presidente da Assembleia Nacional.
Quando questionado sobre a realização do recenseamento eleitoral, o Presidente da CEN, José Carlos Barreiros, afirmou que o "órgão que dirige é colegial", alertando, por outro lado, que "não é o presidente quem decide tudo."
Barreiros adiantou que a CEN irá tornar pública a sua decisão sobre a atualização, ou não, do caderno eleitoral nos próximos dias. O magistrado assegurou que as suas decisões serão "baseadas na lei".
"O cumprimento da legal da lei será rigorosa, dentro das competências da Comissão Eleitoral Nacional", somou.
Recorde-se que o Presidente da República, Carlos Vila Nova, depois ouvir os partidos políticos com e sem assento parlamentar, marcou a realização das eleições legislativas, autárquicas e regionais para 25 de setembro.
Com o empossamento dos novos membros da Comissão Eleitoral Nacional este sábado (25.06), a CEN tem 90 dias para realizar eleições e 30 dias depois do escrutínio para proclamar os resultados.
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"Não deve haver 'arranjinhos'"
Na cerimónia, o presidente do Parlamento são-tomense, Delfim Neves, afirmou que "contrariamente àquilo que se vem a propalar nas redes socias e em alguns setores políticos, hoje é a data que a lei confere para empossar a Comissão Eleitoral Nacional".
Neves recordou ainda que o arquipélago tem sido referência na sub-região africana "por cumprir a lei e consequente realização das eleições nas datas previstas pela lei” mas lamentou que "arranjinhos” que a Comissão Eleitoral Nacional tem feito nos últimos anos tenham proporcionado "fraude eleitoral.”
"As comissões eleitorais anteriores, contrariamente às leis, faziam alguns arranjos e a comissão eleitoral não tem competências para fazer arranjinhos", sublinhou.
Para as próximas eleições, Delfim Neves advertiu o órgão a "cumprir rigorosamente o que esta na lei, sem pressão, sem jogos sujos”.
Neves deixou ainda claro que a Comissão Eleitoral Nacional é um órgão autónomo e esclareceu que "apesar da Assembleia Nacional conferir posse aos membros da CEN, não interfere nas decisões do órgão."
Além de José Carlos da Costa Barreiros, Sara Neto dos Santos, foi empossada secretária da CEN, sendo a única mulher entre os novos elementos.
Tomaram ainda posse Domingos José da Trindade Boa Morte, em representação do Partido Aliança Democrática Independente (ADI), José Rodrigues Ramos Cardoso, do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe – Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), Gil de Mascarenhas da Costa, pela parte da Coligação PCD/MDFM-UDD, Luís Vaz de Sousa Bastos, em representação do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades, Victor Manuel Neto Correia, pelo Ministério da Presidência do Conselho de Ministros, Novas Tecnologias e Assuntos Parlamentares, e Armindo Furtado Lopes, que representa o Ministério da Justiça, Administração Interna e Direitos Humanos.
São Tomé e Príncipe: Como a pandemia mudou a vida das pessoas
Na capital do país, São Tomé, profissionais dos mais diversos setores ralatam as intempéries causadas pela Covid-19, mas falam em esperança num futuro sem pandemia.
Foto: João Carlos/DW
Impacto negativo das restrições
Quem chega às ilhas de São Tomé e Príncipe, plantadas no meio do Oceano Atlântico, depara com um ambiente de quase total abstração sobre a existência da Covid-19. A maior parte da população não usa máscara facial. Mas a pandemia do novo coronavírus obrigou a muitas restrições e teve um forte impacto negativo na vida social e económica deste país da África Central.
Foto: João Carlos/DW
Normalidade em plena pandemia
Apesar dos vários avisos e informações oficiais recomendarem cuidados preventivos e proteção por causa do coronavírus e de suas variantes, muitos são-tomenses levam a sua vida quotidiana com normalidade, praticamente a ignorar que a Covid-19 constitui um problema de saúde pública. No entanto, há quem reconheça que a doença provocou perturbações no quotidiano da população.
Foto: João Carlos/DW
A vida está mais difícil
Taxista, 40 anos de idade, pai de quatro filhos, Euclides Gonçalves é quem sustenta a família. A vida que já não era está fácil ficou ainda mais difícil desde o início da pandemia de Covid-19. "Sentimos muita pressão com esta pandemia", afirma. "O negócio arrefeceu e é mais complicado ganhar dinheiro", diz o taxista, reconhecendo que "vivemos um momento de crise mundial".
Foto: João Carlos/DW
Subsídio do Estado é irrisório
O subsídio de cerca de 60 euros atribuído apenas uma vez pelo Governo são-tomense foi irrisório face à dimensão dos prejuízos que os taxistas sofrem depois do surto da pandemia. "O santomense nunca acreditou que houve Covid-19 em São Tomé e Príncipe", afirma Euclides, explicando a razão pela qual já não exige aos passageiros o uso de máscaras.
Foto: João Carlos/DW
Clientes também têm dificuldades
Fernando Afonso Vila Nova, motoqueiro de 62 anos de idade, também tem limitações para sustentar a família. Ainda com filhos na escola, consegue o sustento com muito sacrifício, já agravado pelo acidente de viação que lhe afetou as pernas e um braço. A crise pandémica agudizou a sua situação e de muitos colegas: "Há pouco movimento porque os clientes também passam por dificuldades".
Foto: João Carlos/DW
Nem barba, nem cabelo e tampouco bigode
A Barbearia Rita é uma das mais antigas da cidade de São Tomé. Edne Sacramento, cabeleireiro há 17 anos e pai de três filhos, testemunha em que medida a Covid-19 prejudicou a sua atividade. "Antes da pandemia, tínhamos muitos clientes", relata. Mas "depois da pandemia, muitos sentiam aquele receio de vir cá ao salão cortar cabelo, apesar de cumprirmos as regras todas".
Foto: João Carlos/DW
Escassez de mercadorias
Maria Helena da Mata, há mais de 30 anos no comércio, diz que é "muito forte" o impacto na sua atividade. O país depende totalmente do exterior: "Houve falta de transporte marítimo, o que provocou escassez de mercadorias". Além disso, a crise afetou a situação das famílias. "As pessoas não têm dinheiro, não têm poder de compra. Isso faz com que o comércio esteja também numa situação caótica".
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Encerramentos e incertezas
Os setores da restauração, viagens e eventos não ficaram ilesos. Elisabete Carvalho avalia a atual conjuntura com algum alívio porque fez investimentos próprios sem recorrer a créditos. Ainda assim, foi obrigada a fechar os serviços e isso acabou por afetar muitas famílias que empregava. "Neste momento, tudo é uma incerteza", refere.
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O peixe de cada dia
Nascido na localidade de Praia Gambôa, arredores de São Tomé, o pescador Cristovão da Trindade confirma que a sua atividade também sofreu com a redução da campanha e limitação à circulação das "palaiês" [vendedeiras de peixe], afetando o rendimento de toda a comunidade. Agora que diminuiu o número de casos de infetados, ele e os demais pescadores tentam recuperar o tempo perdido.
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Acostumar-se ao teletrabalho
O jurista Weiko Bastos diz que a pandemia pesou fundamentalmente na redução da receita e dos honorários. Levou à diminuição da quantidade e qualidade de clientes. Isso, aliado ao confinamento, atingiu igualmente o orçamento da sua família, forçada a fazer contenção de gastos. "Não estávamos preparados para o teletrabalho e não tinha Internet em casa. As dificuldades eram maiores", recorda.
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Estudar em casa
O professor e escritor, Lúcio Amado é um observador crítico da sociedade são-tomense. Considera que a principal preocupação da população é a sobrevivência, o que faz com que se não dê muita atenção à luta contra a Covid-19. No entanto, reconhece, a pandemia teve reflexos perversos no sistema de ensino. As turmas tinham números elevados de alunos que foram forçados a ficar em casa.
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Dançar conforme a música
Tem um disco novo que devia ter sido lançado em 2020, o que não aconteceu devido à Covid-19. "Tive que suspender todos os trabalhos", explica Kalú Mendes, produtor e um dos músicos de referência de São Tomé e Príncipe. '"Também as grandes editoras começaram a ter problemas financeiros", afirma. No entanto, continua a trabalhar e espera ter o disco no mercado em 2022.
Foto: João Carlos/DW
Resistir à turbulência
Outra referência das artes das ilhas, João Carlos Nezó resiste às intempéries no sul de São Tomé: "Aqui o mercado de arte é muito pequeno", dependente de turistas estrangeiros. Com a pandemia, deixou de vender. Ficou em primeiro lugar num concurso da Aliança Francesa, que lhe dava o passaporte para participar numa residência artística. "Não pude ir porque a pandemia durou dois anos", lamenta.
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Quebra brutal no turismo
Ligada a um empreendimento turístico ecológico no sul de São Tomé, Luísa Carvalho lamenta a quebra de turistas. "Todos os dias há cancelamentos de reservas. Antes da pandemia, tínhamos muita procura", garante a gerente. "De julho até então", adianta, "têm estado a aparecer alguns clientes curiosos", que fogem um pouco à situação, por exemplo, na Europa. Ms prevê: "Isto já não será como era antes".
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Resistência à vacinação
No início, havia resistência da maioria dos são-tomenses em aceitar a vacina contra a Covid-19, devido a rumores sobre a Astrazeneca. No entanto, com a campanha iniciada a 15 de março, aumentou a adesão da população, diz Solange Barros, coordenadora do Programa Nacional de Vacinação. "As vacinas são todas eficazes". Mas, dá conta, a adesão à segunda dose ficou muito aquém do esperado.
Foto: João Carlos/DW
À espera da terceira dose
Daniel Costa reconhece que "a pandemia afetou toda a gente". Para este antigo militar das Forças Armadas, as restrições impostas pelo confinamento e fracos salários agravaram o nível de pobreza da população. Sentiu-se algum alívio com as medidas de apoio do Governo aos mais carenciados. Diz que está pronto para tomar a terceira dose de qualquer vacina e aconselha as pessoas a se vacinarem.
Foto: João Carlos/DW
Manter a esperança e o otimismo
Apesar de algum receio, há uma mensagem de esperança entre os são-tomenses. Os nossos entrevistados acreditam que "as coisas poderão melhorar" nos próximos tempos, sobretudo para a atividade turística afetada sobremaneira. Vive-se uma "normalidade aparente", como diz Elisabete Carvalho, mas a expetativa está em 2022, porque, argumenta Weiko Bastos, "a economia não suporta mais confinamentos".