Juízes conselheiros António Reffel dos Santos Raposo, Carlos Olímpio Stock e Leopoldo Machado Marques dizem estar a ser vítimas de perseguição política e chantagem e garantem que "não vão acatar" a decisão do Tribunal.
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O Conselho Superior dos Magistrados Judiciais (CSMJ) de São Tomé e Príncipe ordenou a demissão de três dos cinco juízes conselheiros do Tribunal Constitucional (TC), que se afirmam vítimas de perseguição política.
Fonte judicial disse, esta sexta-feira (02.08), à Lusa que "os três conselheiros já foram notificados" da decisão do Conselho Superior, que confirmou um relatório de 24 de julho que propunha a demissão dos juízes conselheiros António Reffel dos Santos Raposo, Carlos Olímpio Stock e Leopoldo Machado Marques.
Entretanto, em conferência de imprensa, este sábado (03.08), os três juízes do Tribunal Constitucional garantiram que não vão acatar a decisão. "Esta deliberação é inexistente, absolutamente nula e de nenhum efeito, por violar a Constituição e a lei orgânica do TC, por estar inquinada de vícios e usurpação de poderes, por falta de fundamentação e por abuso de poder", disse o juiz Carlos Olímpio Stock.
"Assim sendo, os juízes do TC, António Reffel Raposo, Carlos Olímpio Stock e Leopoldo Marques não vão acatar a decisão de demissão proferida pelo CSMJ por ser nula e inexistente", acrescentou.
Audição com chefe de Estado
Esta sexta-feira (02.08), os três conselheiros demitidos foram recebidos pelo Presidente da República, Evaristo Carvalho.
"De algum tempo a esta parte nós estamos a ser perseguidos por ódio e injustiça perpetrados pelos senhores juízes conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça e os membros do Conselho Superior da Magistratura e o presidente do Tribunal Constitucional", disse Leopoldo Machado Maques à imprensa no final da audiência com o chefe de Estado.
"Nós fizemos um acórdão que nunca foi de acordo com a vontade de alguma faixa política", disse Leopoldo Marques, que se afirmou vítima de "perseguição e chantagem".
Sobre chantagem referiu-se a uma "carta falsa do Presidente angolano [João Lourenço] dizendo que se [os juízes] não tomarem uma decisão favorável ao Mello Xavier, não haveria financiamento angolano para o Orçamento do Estado são-tomense".
Segundo Leopoldo Marques, a audiência serviu para apelar ao Presidente da República para "chamar a si o direito, nos termos da Constituição, para tentar pôr cobro a situações que estão a ocorrer".
"O senhor Presidente é o defensor da Constituição, o garante da unidade de Estado e é ele que mantém o normal funcionamento das instituições", sublinhou.
Juízes acusados de "falta de honestidade"
Em 23 de maio, estes três juízes aprovaram um acórdão que restituiu a cervejeira Rosema aos irmãos são-tomenses António e Domingos Monteiro, 15 dias depois de a fábrica ter sido devolvida ao empresário angolano Mello Xavier. As duas partes mantêm uma disputa judicial pela propriedade da empresa que se arrasta há mais de nove anos nos tribunais são-tomenses.
O Conselho Superior de Magistrados Judicial suspendeu, preventivamente, os referidos conselheiros e poucos dias depois a Assembleia Nacional (parlamento) aprovou uma resolução que autorizou o CSMJ a mover um processo disciplinar contra os mesmos, e que culminou agora nas suas demissões.
O CSMJ acusa os três juízes, entre outras violações, de "falta de honestidade, grave insubordinação, conduta imoral e danosa e definitiva incapacidade de adaptação as exigências da função".
São Sebastião: A fortaleza que conta a história de São Tomé
Erguido contra os ataques dos corsários, no século XVI, o forte de São Sebastião defende hoje a história de São Tomé e Príncipe. Museu Nacional retrata os 500 anos da colonização portuguesa e a luta pela independência.
Foto: DW/Ramusel Graça
Um forte transformado em museu
Construído em 1545 pelos portugueses para defender a ilha dos corsários holandeses e franceses, o forte de São Sebastião, na baía de Ana Chaves, em São Tomé, é hoje o Museu Nacional. Um repositório da memória coletiva são-tomense que se espalha por diversas salas dedicadas à história e cultura do país, desde a escravatura à independência, passando pela agricultura e pela religião.
Foto: DW/Ramusel Graça
Os "guardiões" da fortaleza
As estátuas de João de Santarém, Pêro Escobar e João de Paiva guardam a entrada da fortaleza. São os nomes ligados ao descobrimento das ilhas de São Tomé, a 21 de dezembro de 1470, e do Príncipe, a 17 de janeiro de 1471. As estátuas foram retiradas das praças e jardins de São Tomé logo após a independência, em 1975.
Foto: DW/Ramusel Graça
Canhões contra as ameaças
Este é um dos canhões usados no forte de São Sebastião para defender a ilha dos ataques dos corsários nos séculos XVII e XVIII.
Foto: DW/Ramusel Graça
Marcas de 500 anos de colonização
No interior do forte, o acervo do Museu Nacional inclui marcas da história e da cultura do país, dominado pelos colonos portugueses durante 500 anos. Um exemplo é esta sala de jantar de uma roça, simbolizando a forma como viviam os antigos patrões das plantações de cacau e café, base da economia são-tomense até à independência. A loiça e talheres apresentam o brasão da roça.
Foto: DW/Ramusel Graça
Trabalhos forçados
No sentido contrário dos aposentos dos proprietários surge este quarto simbolizando a vida dos serviçais - naturais de Angola, Moçambique e Cabo Verde levados para São Tomé e Príncipe para trabalharem nas roças - e dos trabalhadores nativos "contratados". São Sebastião conta a história de São Tomé como entreposto de escravos e retrata os maus-tratos sofridos pelos trabalhadores.
Foto: DW/Ramusel Graça
Símbolos da resistência
Amador Vieira é uma das figuras históricas em destaque nas salas do Museu Nacional. Simboliza a luta contra a colonização portuguesa, depois de liderar a revolta dos escravos de 1595. A insurreição ficou marcada pelos combates contra as tropas do governador e pela destruição de infraestruturas e ferramentas usadas na exploração da cana do açúcar.
Foto: DW/Ramusel Graça
Do museu para as ruas
Figura preponderante no combate ao domínio colonial, Amador Vieira está também representado no centro da capital são-tomense.
Foto: DW/Ramusel Graça
Padroeiro dos marinheiros
São Jorge, santo padroeiro dos marinheiros, é a imagem de destaque à entrada da capela da fortaleza de São Sebastião. Simboliza a trajectória que dos navegadores portugueses até à descoberta das ilhas. Demonstra também a forte influência da colonização no modo de vida dos são-tomenses: o catolicismo é a religião da maioria da população.
Foto: DW/Ramusel Graça
Herança religiosa
"A marca do colonizador é grande. Vemos a presença portuguesa em quase tudo", diz o historiador Carlos Neves, apontando o exemplo da religião católica, introduzida em São Tomé e Príncipe pelos colonos. O Museu Nacional dedica uma sala à arte sacra. E a 1,2 km do forte de São Sebastião está a Sé Catedral de São Tomé e Príncipe, que remonta ao século XVI.