A extração ilegal de areia em São Tomé e Príncipe está aumentar. Isso traz graves consequências para o meio ambiente e saúde pública. As crateras resultantes da atividade, hoje charcos, são focos de paludismo.
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Enormes crateras transformadas em charcos, consequência da extração ilegal de areia, estão a ser recuperadas na Praia Lagarto, próxima da capital São Tomé. Os antigos secadores de cacau e copra fazem agora blocos de areia e cimento para a construção civil. Sem meios alternativos de sobrevivência dizem que este trabalho garante o sustento das suas famílias.
Osvaldo Afonso é residente da Praia Lagarto e justifica: "A necessidade obriga, nós não temos emprego, a empresa fechou, não temos lote. E se não temos nada onde vamos buscar as coisas? Não há necessidade de eu pegar numa arma e assaltar as casas das pessoas, eu tiro aqui da natureza, nasci aqui e fui criado aqui."Esmael Monteiro, é outro morador que vive do mesmo negócio: "Fabricamos e vendemos os blocos aqui a preço baixo porque hoje todo o mundo produz blocos para sobreviver. Nós não temos alternativa."
A comunidade diz que com o comércio ilegal da apanha da areia conseguiu erguer obras sociais que foram promessas eleitorais, mas que nunca chegaram a ser cumpridas pelos sucessivos governos do arquipélago. Por isso uma das moradoras prefere agradecer a outras entidades: "Agradecer a deus pelo facto de termos tanque para lavarmos a nossa roupa, construido pela comissão.
Outro morador explica ainda que "as pessoas vêm de muito longe e pagam caro para lavar nesta lavandaria", ainda segundo ele: "Nós construímos esta lavandaria porque as mulheres quando íam lavar a roupa no rio que temos aqui ao lado voltavam com muitas doenças."
Promessas do Governo
Arlindo Ramos é ministro da Defesa e Administração Territorial e mostrou-se chocado com o que viu: "É pena que se deixou essa situação prolongar-se por tanto tempo. Nós vamos, em conjunto com o ministério das Infrastrututuras, realizar um encontro de trabalho de forma a encontrarmos uma solução para esse problema, porque o que constatamos no terreno é gravíssimo."
Dezenas de praias já foram destruídas no arquipélago em consequência desta prática nefasta para o meio-ambiente, mas as autoridades estão a estudar mecanismos para travar a extração ilegal areia.
Edgilson Cravid é geólogo são-tomense e garantiu à DW África: "Mediante o projeto de adaptação das mudanças climáticas para as zonas costeiras, nós o que pretendemos realizar ao nível da direção de geologia é um estudo de potencialidades de possíveis jazidas de exploração."
Segundo o geólogo, a finalidade seria a seguinte: "Ao identificar esses pontos potenciais, junto do ministério de tutela vermos como as indústrias extrativas poderiam extrair nesses locais identificados, através de concessões da área exploratória por um tempo conforme as normas, e que esse material extraido possa abastacer o mercado."
23.11.2016 SPT/Inertes - MP3-Mono
Cacau: semente do desenvolvimento de São Tomé
Após a nacionalização das fazendas de cacau, as roças, em 30 de setembro de 1975, a produção diminuiu. Hoje, as roças voltaram a ser privadas e há esperanças que contribuam novamente para o desenvolvimento do país.
Foto: DW/R. Graça
Trabalho na roça começa cedo
Antes do sol penetrar na mata da Roça Olivais Marim, na zona sul de São Tomé, os poucos agricultores já trabalham nas plantações de cacau - principal produto de exportação do país. Após a nacionalização das roças, em 30 de setembro de 1975, a produção diminuiu. A exportação do cacau não passou de 12.000 toneladas/ano. Nos anos 80, a exportação baixou ainda mais, para 3.000 toneladas.
Foto: DW/R. Graça
Má gestão levou a êxodo rural
A nacionalização das fazendas em 1975 deu origem à formação de 15 grandes empresas estatais, que entraram em declínio. A queda da produção do cacau abriu o caminho às privatizações nos anos 90. Porém, muitas terras continuaram improdutivas e iniciou-se um êxodo rural das populações nas zonas das roças. Agora, 2.500 hectares de terras estão a ser desbravadas e reaproveitadas.
Foto: DW/R. Graça
Clima ideal
Agricultora prepara viveiros para reabilitar as plantações abandonadas da Roça Granja. São Tomé e Príncipe possui as condições climáticas favoráveis ao cultivo do cacau: terras de origem vulcânica, solo fértil e boa temperatura. Estatísticas do período colonial revelam que, com apenas 15 unidades agroindustriais numa área de 60 mil hectares, os portugueses chegaram a produzir 36.000 toneladas/ano.
Foto: DW/R. Graça
Raízes brasileiras
Em São Tomé e Príncipe, a cultura do cacau começou na Ilha do Príncipe. Os primeiros cacaueiros, plantados pelos colonos portugueses em 1822, vieram do Brasil. No século XIX, durante o "Ciclo do Cacau", por falta de mão de obra local, os portugueses contrataram trabalhadores de outras colónias africanas – como Angola, Cabo Verde e Moçambique. Muitos tiveram que trabalhar sob condições desumanas.
Foto: DW/R. Graça
Produção biológica de cacau
No interior da Roça Santa Luzia, na Ilha de São Tomé, os tratores adquiridos pela Cooperativa de Exportação do Cacau Biológico (CECAB) regam os viveiros nas parcelas dos agricultores. O cacau é ideal para a produção biológica, pois cresce sob árvores de outras espécies – o que conserva uma maior biodiversidade em comparação com monoculturas de outras plantas como a soja.
Foto: DW/R. Graça
De olho no mercado internacional
O cacau amelonado, variedade proveniente da Amazônia, foi o primeiro a chegar ao arquipélago de São Tomé e Príncipe. Este tipo de cacau é muito procurado no mercado internacional por ter características genéticas de qualidade superior a outras variantes de cacau.
Foto: DW/R. Graça
Recuperação de outras variedades
Produtores de cacau tipo exportação estão a recuperar outras variedades, como o cacau híbrido. O cacaueiro tem folhas longas que nascem avermelhadas e logo ficam de um verde intenso, medindo até 30 centímetros. Seus frutos também podem medir até 30 centímetros de comprimento, apresentando coloração verde, vermelha ou amarronzada e que tendem ao amarelo quando amadurecido o fruto.
Foto: DW/R. Graça
Secagem depois da colheita
A seguir à colheita da fruta dos cacaueiros, é preciso secá-la. No caso da Roça Morro Peixe, a secagem é feita com uso da energia solar natural. Um secador solar construído de madeira e coberto de plástico garante uma boa temperatura para a secagem do cacau, antes de ser embalado.
Foto: DW/R. Graça
Trabalho minucioso
Descendentes de cabo-verdianos, no interior do secador da Roça Santa Margarida, separam o cacau na peneira. Um trabalho minucioso que antecede a embalagem. Estas trabalhadoras fazem parte dos poucos agricultores que resistiram ao êxodo rural em São Tomé e Príncipe. Já no período colonial, uma boa parte da mão de obra das roças veio de Cabo Verde, outra colónia portuguesa.
Foto: DW/R. Graça
Embalar e despachar para a Europa
O último passo antes do processamento e da exportação do cacau é a sua embalagem em sacos. Uma boa parte da produção de cacau de São Tome e Príncipe é exportada para a Europa – principalmente para a França e a Suíça, os dois principais mercados consumidores do cacau de excelência e de fama internacional reconhecida.