O antigo primeiro-ministro são-tomense foi reconduzido na liderança da oposição com o sim de 99,6% dos congressistas. Patrice Trovoada garante que é a última vez que preside à ADI e quer vencer as próximas legislativas.
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O antigo chefe do Governo de São Tomé e Príncipe, Patrice Emery Trovoada, foi reeleito este sábado (09.04) em congresso eletivo, presidente da Acão democrática Independente (ADI), maior partido da oposição. Trovoada promete regressar à governação em finais deste ano, caso vença com maioria absoluta as eleições legislativas de setembro, que classifica como o último desafio para mudar o país.
Dos 900 congressistas, apenas 704 estiveram presentes. O antigo primeiro-ministro são-tomense (de 2010 a 2012 e de 2014 a 2018) era o único candidato à sua sucessão e foi reeleito com 703 votos a favor, correspondente a 99,6%, e um voto nulo.
Sob o lema "Estamos prontos, ADI a solução", o congresso elegeu igualmente o primeiro vice-presidente Orlando da Mata. Para o cargo de segundo vice-presidente foi eleita pela primeira vez uma mulher, Celmira Sacramento. O secretário-geral será eleito no próximo dia 23 de abril, em Conselho Nacional. Américo Ramos é apontado como provável e único candidato ao cargo.
Este foi o terceiro congresso da ADI realizado em quatro anos. Em maio de 2019, foi eleito presidente do partido o jurista Agostinho Fernandes, antigo ministro das Finanças e Economia azul, do 16º Governo Constitucional, chefiado por Trovoada.
Em setembro de 2019, Patrice Trovoada voltou a ser reeleito para o posto que ocupava desde 2006. No entanto, o Tribunal Constitucional não legitimou a sua liderança pelo facto de não estar prevista a eleição por aclamação nos estatutos.
Os antigos estatutos do ADI, fundado por Miguel Trovoada, antigo Presidente são-tomense (1991-2006), previam apenas eleição por voto secreto e mãos no ar. O congresso deste sábado sanou este problema que impediu o reconhecimento de Patrice Trovoada como presidente legítimo da força política.
A derradeira liderança
Numa mensagem gravada e transmitida no final do congresso, Patrice Trovoada afirmou que "é a última vez" que lidera o partido e está "disponível para governar são Tomé e Príncipe". O presidente da ADI recordou que "havia dito que não estava mais interessado a qualquer cargo do partido apos 2022".
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O filho de Miguel Trovoada avançou que vai preparar-se para transferir a liderança do partido a novas gerações que estão a ser preparadass para que, "no seu entender, possam continuar com sucesso a obra de engrandecimento da ADI".
O líder do maior partido da oposição lembrou ainda que foram os militantes que exigiram que fosse ele a liderar o partido e o próximo Governo Constitucional de São Tomé e Príncipe - mas a vitória nas próximas legislativas só poderá ser garantida se os militantes "trabalharem afincadamente".
A eles e aos dirigente da ADI pediu "que a partir de hoje e até ao dia 25 de setembro próximo haja um trabalho abnegado para garantir uma maioria absoluta".
O presidente da ADI disse que está pronto para o novo combate, mas reconhece que "o povo transmitiu o sinal da mudança ao garantir a vitória do atual Presidente da República, Carlos Manuel Vila Nova".
Reformas e parcerias público-privadas na manga
Dirigindo-se aos congressistas, Patrice Trovoada apresentou várias ideias da sua moção de estratégia política que não fugirá à sua linha de governação, caso vença as eleições.
O líder da ADI destacou a reforma do mecanismo de protecção social, com o intuito de corrigir as anomalias sociais e produzir uma maior justiça social, bem como o crescimento económico, através de uma serie de reformas do sistema fiscal, favorecendo o investimento, a iniciativa empresarial e a expansão dos negócios.
Devido à escassez de recursos internos e fraca capacidade de mobilização de créditos externos concessionais, Patrice Trovoada elege a "parceria público-privada como instrumento privilegiado para a realização de infraestruturas económicas e sociais de que o país necessita".
Trovoada salientou a necessidade de se construir um hospital de referência no país que possa diminuir as despesas com as evacuações médicas para Portugal, mas também que sirva outros países da região do Golfo da Guiné e não só: "É uma prioridade, porque não se pode garantir a saúde dos são-tomenses sem um verdadeiro hospital de referência e não se pode também oferecer segurança aos investidores e os turistas que procuram o nosso país".
A energia e água potável, acrecentou, são bens essenciais que devem ser melhorados, tal como as vias de comunicação interna e inter-ilhas para transporte seguro de pessoas e bens.
Vila Nova: "Tenho a justa medida das expetativas do povo"
02:22
"Justiça instrumentalizada" justifica ausência do país
Desde 2018 que Patrice Trovoada se encontra fora de São Tomé e Príncipe. Fala e dirige-se aos militantes através de mensagens gravadas ou nas redes sociais.
"Não é ainda o momento de termos aqui o doutor Patrice Trovoada", disse Américo Ramos, futuro secretário-geral do partido, no encontro realizado no Palácio dos Congressos. Ramos apontou o clima político reinante e a "justiça instrumentalizada" como as razões fundamentais da ausência do líder carismático da ADI, que descreve como uma figura de "amor e desamor" no xadres político são-tomense.
O líder da ADI, afirmou, "assusta sempre os poderes e interesses instalados. Os que acham que o país é o seu quintal". A mensagem foi recebida com aplausos dos militantes e simpatizantes do partido.
O antigo ministro das Finanças e Economia disse que não existem ainda condições para o regresso de Patrice Trovoada, lembrando que, na ocasião ele próprio foi "preso arbitrariamente" por algo que não cometeu.
São Tomé e Príncipe: Como a pandemia mudou a vida das pessoas
Na capital do país, São Tomé, profissionais dos mais diversos setores ralatam as intempéries causadas pela Covid-19, mas falam em esperança num futuro sem pandemia.
Foto: João Carlos/DW
Impacto negativo das restrições
Quem chega às ilhas de São Tomé e Príncipe, plantadas no meio do Oceano Atlântico, depara com um ambiente de quase total abstração sobre a existência da Covid-19. A maior parte da população não usa máscara facial. Mas a pandemia do novo coronavírus obrigou a muitas restrições e teve um forte impacto negativo na vida social e económica deste país da África Central.
Foto: João Carlos/DW
Normalidade em plena pandemia
Apesar dos vários avisos e informações oficiais recomendarem cuidados preventivos e proteção por causa do coronavírus e de suas variantes, muitos são-tomenses levam a sua vida quotidiana com normalidade, praticamente a ignorar que a Covid-19 constitui um problema de saúde pública. No entanto, há quem reconheça que a doença provocou perturbações no quotidiano da população.
Foto: João Carlos/DW
A vida está mais difícil
Taxista, 40 anos de idade, pai de quatro filhos, Euclides Gonçalves é quem sustenta a família. A vida que já não era está fácil ficou ainda mais difícil desde o início da pandemia de Covid-19. "Sentimos muita pressão com esta pandemia", afirma. "O negócio arrefeceu e é mais complicado ganhar dinheiro", diz o taxista, reconhecendo que "vivemos um momento de crise mundial".
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Subsídio do Estado é irrisório
O subsídio de cerca de 60 euros atribuído apenas uma vez pelo Governo são-tomense foi irrisório face à dimensão dos prejuízos que os taxistas sofrem depois do surto da pandemia. "O santomense nunca acreditou que houve Covid-19 em São Tomé e Príncipe", afirma Euclides, explicando a razão pela qual já não exige aos passageiros o uso de máscaras.
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Clientes também têm dificuldades
Fernando Afonso Vila Nova, motoqueiro de 62 anos de idade, também tem limitações para sustentar a família. Ainda com filhos na escola, consegue o sustento com muito sacrifício, já agravado pelo acidente de viação que lhe afetou as pernas e um braço. A crise pandémica agudizou a sua situação e de muitos colegas: "Há pouco movimento porque os clientes também passam por dificuldades".
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Nem barba, nem cabelo e tampouco bigode
A Barbearia Rita é uma das mais antigas da cidade de São Tomé. Edne Sacramento, cabeleireiro há 17 anos e pai de três filhos, testemunha em que medida a Covid-19 prejudicou a sua atividade. "Antes da pandemia, tínhamos muitos clientes", relata. Mas "depois da pandemia, muitos sentiam aquele receio de vir cá ao salão cortar cabelo, apesar de cumprirmos as regras todas".
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Escassez de mercadorias
Maria Helena da Mata, há mais de 30 anos no comércio, diz que é "muito forte" o impacto na sua atividade. O país depende totalmente do exterior: "Houve falta de transporte marítimo, o que provocou escassez de mercadorias". Além disso, a crise afetou a situação das famílias. "As pessoas não têm dinheiro, não têm poder de compra. Isso faz com que o comércio esteja também numa situação caótica".
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Encerramentos e incertezas
Os setores da restauração, viagens e eventos não ficaram ilesos. Elisabete Carvalho avalia a atual conjuntura com algum alívio porque fez investimentos próprios sem recorrer a créditos. Ainda assim, foi obrigada a fechar os serviços e isso acabou por afetar muitas famílias que empregava. "Neste momento, tudo é uma incerteza", refere.
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O peixe de cada dia
Nascido na localidade de Praia Gambôa, arredores de São Tomé, o pescador Cristovão da Trindade confirma que a sua atividade também sofreu com a redução da campanha e limitação à circulação das "palaiês" [vendedeiras de peixe], afetando o rendimento de toda a comunidade. Agora que diminuiu o número de casos de infetados, ele e os demais pescadores tentam recuperar o tempo perdido.
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Acostumar-se ao teletrabalho
O jurista Weiko Bastos diz que a pandemia pesou fundamentalmente na redução da receita e dos honorários. Levou à diminuição da quantidade e qualidade de clientes. Isso, aliado ao confinamento, atingiu igualmente o orçamento da sua família, forçada a fazer contenção de gastos. "Não estávamos preparados para o teletrabalho e não tinha Internet em casa. As dificuldades eram maiores", recorda.
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Estudar em casa
O professor e escritor, Lúcio Amado é um observador crítico da sociedade são-tomense. Considera que a principal preocupação da população é a sobrevivência, o que faz com que se não dê muita atenção à luta contra a Covid-19. No entanto, reconhece, a pandemia teve reflexos perversos no sistema de ensino. As turmas tinham números elevados de alunos que foram forçados a ficar em casa.
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Dançar conforme a música
Tem um disco novo que devia ter sido lançado em 2020, o que não aconteceu devido à Covid-19. "Tive que suspender todos os trabalhos", explica Kalú Mendes, produtor e um dos músicos de referência de São Tomé e Príncipe. '"Também as grandes editoras começaram a ter problemas financeiros", afirma. No entanto, continua a trabalhar e espera ter o disco no mercado em 2022.
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Resistir à turbulência
Outra referência das artes das ilhas, João Carlos Nezó resiste às intempéries no sul de São Tomé: "Aqui o mercado de arte é muito pequeno", dependente de turistas estrangeiros. Com a pandemia, deixou de vender. Ficou em primeiro lugar num concurso da Aliança Francesa, que lhe dava o passaporte para participar numa residência artística. "Não pude ir porque a pandemia durou dois anos", lamenta.
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Quebra brutal no turismo
Ligada a um empreendimento turístico ecológico no sul de São Tomé, Luísa Carvalho lamenta a quebra de turistas. "Todos os dias há cancelamentos de reservas. Antes da pandemia, tínhamos muita procura", garante a gerente. "De julho até então", adianta, "têm estado a aparecer alguns clientes curiosos", que fogem um pouco à situação, por exemplo, na Europa. Ms prevê: "Isto já não será como era antes".
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Resistência à vacinação
No início, havia resistência da maioria dos são-tomenses em aceitar a vacina contra a Covid-19, devido a rumores sobre a Astrazeneca. No entanto, com a campanha iniciada a 15 de março, aumentou a adesão da população, diz Solange Barros, coordenadora do Programa Nacional de Vacinação. "As vacinas são todas eficazes". Mas, dá conta, a adesão à segunda dose ficou muito aquém do esperado.
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À espera da terceira dose
Daniel Costa reconhece que "a pandemia afetou toda a gente". Para este antigo militar das Forças Armadas, as restrições impostas pelo confinamento e fracos salários agravaram o nível de pobreza da população. Sentiu-se algum alívio com as medidas de apoio do Governo aos mais carenciados. Diz que está pronto para tomar a terceira dose de qualquer vacina e aconselha as pessoas a se vacinarem.
Foto: João Carlos/DW
Manter a esperança e o otimismo
Apesar de algum receio, há uma mensagem de esperança entre os são-tomenses. Os nossos entrevistados acreditam que "as coisas poderão melhorar" nos próximos tempos, sobretudo para a atividade turística afetada sobremaneira. Vive-se uma "normalidade aparente", como diz Elisabete Carvalho, mas a expetativa está em 2022, porque, argumenta Weiko Bastos, "a economia não suporta mais confinamentos".