STP: "Número insignificante" de eleitores pode não votar
Lusa
18 de setembro de 2022
Presidente da Comissão Eleitoral Nacional admite que "um número insignificante" de eleitores que mudaram de residência não vão votar nas eleições de 25 de setembro. José Carlos Barreiros alerta que comprar votos é crime.
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"Quantas pessoas poderão ter sido deslocadas de São Tomé e Príncipe para o exterior? De certeza que é um número insignificante", considerou José Carlos Barreiros, em entrevista à Lusa, em São Tomé. "Em relação aos não eleitores que não foi possível fazer o recenseamento [...] terão outra oportunidade nas próximas eleições de fazerem o recenseamento para depois exercer o seu direito de voto", acrescentou o magistrado que preside à Comissão Eleitoral Nacional (CEN).
A CEN anunciou no mês de junho que não iria realizar um recenseamento eleitoral antes das eleições legislativas, regional e autárquicas de 25 de setembro, por considerar que não havia tempo para todos os procedimentos dentro dos prazos legais. A decisão gerou críticas do Presidente da República, Carlos Vila Nova e do maior partido da oposição.
A ADI (Ação Democrática Independente) afirmou que cerca de oito mil pessoas ficarão impedidas de exercer o direito de voto, porque mudaram de país ou completaram dezoito anos após o último recenseamento. A juventude da ADI organizou uma manifestação para exigir o recenseamento, enquanto os jovens do MLSTP/PSD (Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe -- Partido Social Democrata) afirmaram que foi "o Presidente da República Carlos Vila Nova que não quis que houvesse recenseamento eleitoral para os novos eleitores jovens e cabe ao Presidente todas as responsabilidades inerentes a esta situação".
Por sua vez o presidente do parlamento são-tomense, Delfim Neves propôs o adiamento para janeiro das eleições para permitir a realização do recenseamento eleitoral, mas o Presidente da República rejeitou. "Uma vez marcadas as eleições, todo o processo desenvolve-se à volta desta data", sublinhou o presidente do parlamento, defendendo que antes de marcar a data o chefe de Estado deveria ter feito "uma solicitação à Assembleia, no mês de abril" para saber para quando se previa a constituição da Comissão Eleitoral Nacional (CEN), responsável pelo recenseamento e pela realização das eleições.
Delfim Neves convocou uma audição no parlamento aos membros da CEN para avaliar a possibilidade de alteração dos prazos a fim de permitir o recenseamento eleitoral, mas o presidente da Comissão Eleitoral Nacional, José Carlos Barreiros, reafirmou, que não haveria tempo para o recenseamento eleitoral, mesmo alterando as leis e os prazos legais, considerando que já se registavam atrasos para cumprimento de alguns atos.
Desde então a CEN prosseguiu os seus trabalhos e acredita que esta polémica não contribuirá para o aumento da abstenção nas próximas eleições, particularmente na diáspora onde são-tomense que votam pela primeira vez para as legislativas. "Espero também que os eleitores da diáspora votem efetivamente porque, nas eleições presidenciais do ano passado verificou-se que houve muito pouca afluência dos eleitores à votação", disse o presidente da CEN.
José Carlos Barreiros assegurou que os preparativos das eleições têm decorrido "com toda a normalidade". "Não recebemos nenhuma reclamação de qualquer das candidaturas, o que é bom sinal, e esperamos que isso continue até o dia das eleições [...] está tudo bem encaminhado, já temos todos os materiais, inclusive os boletins de votos já estão no país, estão a ser carimbados pelas respetivas comissões eleitorais distritais", explicou José Carlos Barreiros .
O magistrado disse que tem acompanhado os tempos de antena dos partidos políticos, mas, até ao momento, não verificou "nenhuma anomalia com relação a qualquer candidatura fazendo incitamento ao ódio, difamação". "Havendo anomalia neste aspeto, está previsto na lei e a Comissão Eleitoral Nacional tomará portando as medidas que achar conveniente" que poderá culminar com a suspensão do tempo de antena do partido.
Por outro lado, para garantir maior transparência do escrutínio dos resultados da votação a CEN decidiu por unanimidade admitir que representantes de todos os partidos possam acompanhar o processo nas mesas, para além do número previsto por lei. "Para além dos cinco membros que vão dirigir os trabalhos da eleição, as outras candidaturas terão os seus representantes também na assembleia de voto [como observadores] para verificarem efetivamente e inspecionarem todo o processo eleitoral durante o seu percurso normal [...] isso é para a transparência eleitoral".
Compra de votos é crime
O presidente da Comissão Eleitoral Nacional (CEN) são-tomense afirmou hoje que o pagamento a eleitores para voto num determinado partido, fenómeno conhecido no país como "banho", é um crime e deve ser denunciado às autoridades cada vez que suceda.
"O fenómeno banho é um crime que está tipificado na nossa lei penal. É um caso de polícia e cabe a denúncia a toda gente, a todos os membros da sociedade, se verificar efetivamente que, no dia da campanha ou mesmo no dia da votação, alguma candidatura ou algum membro de alguma candidatura estiver a aliciar as pessoas com dinheiro ou algum outro bem para votar", disse José Carlos Barreiros, em entrevista à Lusa, em São Tomé.
O magistrado que preside à CEN são-tomense sublinhou que o combate a esta prática recorrente nos períodos eleitorais são-tomenses não da competência do órgão eleitoral. "Não é a Comissão Eleitoral que vai andar atrás das pessoas para poder ver se as pessoas estão ou não a cometer esta infração", explicou.
No entanto, José Carlos Barreiros disse que a CEN em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) tem realizado campanhas de educação cívica, "formado e informado as pessoas que não devem votar recebendo alguma coisa em troca", mas sim "devem votar em consciência".
O Presidente da Comissão Eleitoral Nacional admitiu por isso que os eleitores estão mais esclarecidos e que o "banho" já não influência os resultados eleitorais no país. "Acho que isso já não resolve [a eleição]. As pessoas já estão mais espertas, podem receber alguma benesse, algum dinheiro ou coisa parecida, mas as pessoas já sabem em quem vão votar", afirmou, o responsável da CEN.
No total, 10 partidos e uma coligação concorrem às eleições legislativas de São Tomé e Príncipe: Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), Ação Democrática Independente (ADI), Basta, Movimento Democrático Força da Mudança/União Liberal (MDFM/UL), União para a Democracia e Desenvolvimento (UDD), CID-STP, Movimento União para o Desenvolvimento Amplo (Muda), Partido Novo, Movimento Social Democrata/Partido Verde de São Tomé e Príncipe (MSD-PVSTP), Partido de Todos os Santomenses (PTOS), e Movimento de Cidadãos Independentes/Partido Socialista/Partido da Unidade Nacional.
Em disputa está a eleição de 55 deputados à Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe, incluindo dois que pela primeira vez serão eleitos pelos círculos eleitorais da Europa e de África.
São Tomé e Príncipe: Como a pandemia mudou a vida das pessoas
Na capital do país, São Tomé, profissionais dos mais diversos setores ralatam as intempéries causadas pela Covid-19, mas falam em esperança num futuro sem pandemia.
Foto: João Carlos/DW
Impacto negativo das restrições
Quem chega às ilhas de São Tomé e Príncipe, plantadas no meio do Oceano Atlântico, depara com um ambiente de quase total abstração sobre a existência da Covid-19. A maior parte da população não usa máscara facial. Mas a pandemia do novo coronavírus obrigou a muitas restrições e teve um forte impacto negativo na vida social e económica deste país da África Central.
Foto: João Carlos/DW
Normalidade em plena pandemia
Apesar dos vários avisos e informações oficiais recomendarem cuidados preventivos e proteção por causa do coronavírus e de suas variantes, muitos são-tomenses levam a sua vida quotidiana com normalidade, praticamente a ignorar que a Covid-19 constitui um problema de saúde pública. No entanto, há quem reconheça que a doença provocou perturbações no quotidiano da população.
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A vida está mais difícil
Taxista, 40 anos de idade, pai de quatro filhos, Euclides Gonçalves é quem sustenta a família. A vida que já não era está fácil ficou ainda mais difícil desde o início da pandemia de Covid-19. "Sentimos muita pressão com esta pandemia", afirma. "O negócio arrefeceu e é mais complicado ganhar dinheiro", diz o taxista, reconhecendo que "vivemos um momento de crise mundial".
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Subsídio do Estado é irrisório
O subsídio de cerca de 60 euros atribuído apenas uma vez pelo Governo são-tomense foi irrisório face à dimensão dos prejuízos que os taxistas sofrem depois do surto da pandemia. "O santomense nunca acreditou que houve Covid-19 em São Tomé e Príncipe", afirma Euclides, explicando a razão pela qual já não exige aos passageiros o uso de máscaras.
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Clientes também têm dificuldades
Fernando Afonso Vila Nova, motoqueiro de 62 anos de idade, também tem limitações para sustentar a família. Ainda com filhos na escola, consegue o sustento com muito sacrifício, já agravado pelo acidente de viação que lhe afetou as pernas e um braço. A crise pandémica agudizou a sua situação e de muitos colegas: "Há pouco movimento porque os clientes também passam por dificuldades".
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Nem barba, nem cabelo e tampouco bigode
A Barbearia Rita é uma das mais antigas da cidade de São Tomé. Edne Sacramento, cabeleireiro há 17 anos e pai de três filhos, testemunha em que medida a Covid-19 prejudicou a sua atividade. "Antes da pandemia, tínhamos muitos clientes", relata. Mas "depois da pandemia, muitos sentiam aquele receio de vir cá ao salão cortar cabelo, apesar de cumprirmos as regras todas".
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Escassez de mercadorias
Maria Helena da Mata, há mais de 30 anos no comércio, diz que é "muito forte" o impacto na sua atividade. O país depende totalmente do exterior: "Houve falta de transporte marítimo, o que provocou escassez de mercadorias". Além disso, a crise afetou a situação das famílias. "As pessoas não têm dinheiro, não têm poder de compra. Isso faz com que o comércio esteja também numa situação caótica".
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Encerramentos e incertezas
Os setores da restauração, viagens e eventos não ficaram ilesos. Elisabete Carvalho avalia a atual conjuntura com algum alívio porque fez investimentos próprios sem recorrer a créditos. Ainda assim, foi obrigada a fechar os serviços e isso acabou por afetar muitas famílias que empregava. "Neste momento, tudo é uma incerteza", refere.
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O peixe de cada dia
Nascido na localidade de Praia Gambôa, arredores de São Tomé, o pescador Cristovão da Trindade confirma que a sua atividade também sofreu com a redução da campanha e limitação à circulação das "palaiês" [vendedeiras de peixe], afetando o rendimento de toda a comunidade. Agora que diminuiu o número de casos de infetados, ele e os demais pescadores tentam recuperar o tempo perdido.
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Acostumar-se ao teletrabalho
O jurista Weiko Bastos diz que a pandemia pesou fundamentalmente na redução da receita e dos honorários. Levou à diminuição da quantidade e qualidade de clientes. Isso, aliado ao confinamento, atingiu igualmente o orçamento da sua família, forçada a fazer contenção de gastos. "Não estávamos preparados para o teletrabalho e não tinha Internet em casa. As dificuldades eram maiores", recorda.
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Estudar em casa
O professor e escritor, Lúcio Amado é um observador crítico da sociedade são-tomense. Considera que a principal preocupação da população é a sobrevivência, o que faz com que se não dê muita atenção à luta contra a Covid-19. No entanto, reconhece, a pandemia teve reflexos perversos no sistema de ensino. As turmas tinham números elevados de alunos que foram forçados a ficar em casa.
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Dançar conforme a música
Tem um disco novo que devia ter sido lançado em 2020, o que não aconteceu devido à Covid-19. "Tive que suspender todos os trabalhos", explica Kalú Mendes, produtor e um dos músicos de referência de São Tomé e Príncipe. '"Também as grandes editoras começaram a ter problemas financeiros", afirma. No entanto, continua a trabalhar e espera ter o disco no mercado em 2022.
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Resistir à turbulência
Outra referência das artes das ilhas, João Carlos Nezó resiste às intempéries no sul de São Tomé: "Aqui o mercado de arte é muito pequeno", dependente de turistas estrangeiros. Com a pandemia, deixou de vender. Ficou em primeiro lugar num concurso da Aliança Francesa, que lhe dava o passaporte para participar numa residência artística. "Não pude ir porque a pandemia durou dois anos", lamenta.
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Quebra brutal no turismo
Ligada a um empreendimento turístico ecológico no sul de São Tomé, Luísa Carvalho lamenta a quebra de turistas. "Todos os dias há cancelamentos de reservas. Antes da pandemia, tínhamos muita procura", garante a gerente. "De julho até então", adianta, "têm estado a aparecer alguns clientes curiosos", que fogem um pouco à situação, por exemplo, na Europa. Ms prevê: "Isto já não será como era antes".
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Resistência à vacinação
No início, havia resistência da maioria dos são-tomenses em aceitar a vacina contra a Covid-19, devido a rumores sobre a Astrazeneca. No entanto, com a campanha iniciada a 15 de março, aumentou a adesão da população, diz Solange Barros, coordenadora do Programa Nacional de Vacinação. "As vacinas são todas eficazes". Mas, dá conta, a adesão à segunda dose ficou muito aquém do esperado.
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À espera da terceira dose
Daniel Costa reconhece que "a pandemia afetou toda a gente". Para este antigo militar das Forças Armadas, as restrições impostas pelo confinamento e fracos salários agravaram o nível de pobreza da população. Sentiu-se algum alívio com as medidas de apoio do Governo aos mais carenciados. Diz que está pronto para tomar a terceira dose de qualquer vacina e aconselha as pessoas a se vacinarem.
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Manter a esperança e o otimismo
Apesar de algum receio, há uma mensagem de esperança entre os são-tomenses. Os nossos entrevistados acreditam que "as coisas poderão melhorar" nos próximos tempos, sobretudo para a atividade turística afetada sobremaneira. Vive-se uma "normalidade aparente", como diz Elisabete Carvalho, mas a expetativa está em 2022, porque, argumenta Weiko Bastos, "a economia não suporta mais confinamentos".