Na sua primeira visita oficial, que decorre até amanhã (16.05) em Lisboa, Evaristo Carvalho afirmou querer “ganhar a experiência dos ruandeses” no que respeita à área da segurança para “dar um impulso ao turismo”.
Publicidade
São Tomé e Príncipe solicitou a Portugal o reforço da cooperação no domínio militar para o controlo das suas águas territoriais, de modo a capacitar o país em ações conjuntas de combate à pirataria e pesca ilegal no Golfo da Guiné. O Presidente são-tomense, Evaristo Carvalho, cuja visita a Portugal termina amanhã (16.05), afirma que vai usar a sua magistratura de influência para que haja mais condições de segurança na zona marítima.
Em entrevista à DW, em Lisboa, Evaristo Carvalho explica que aprecia a excelência das relações de cooperação com Portugal na área da defesa, mas não descarta a opção pela presença já consumada de instrutores ruandeses em São Tomé com a missão de capacitar os quadros militares são-tomenses, fundamentalmente, na área da defesa e segurança, sobretudo da capital são-tomense, "para melhor garantir a segurança dos turistas”. "Queremos ganhar a experiência dos ruandeses no que respeita à segurança da cidade, organização, na medida em que nós queremos dar um impulso grande ao serviço do turismo”, afirma.
A resolução para o efeito foi aprovada pelo Parlamento são-tomense na semana passada. No entanto, a oposição rejeita o acordo assinado pelo Governo de Patrice Trovoada sem o seu conhecimento prévio, ao abrir portas à entrada no país de um grupo de 20 militares e paramilitares do Ruanda para dar formação e treino de dois meses aos efetivos de defesa e segurança nacional.
Entrevista PR STP 2 - MP3-Mono
Na semana passada, três partidos da oposição entregaram ao Tribunal Constitucional uma providência cautelar para embargar a resolução aprovada pela maioria. Perante a insistência da DW sobre a polémica gerada pela decisão, Evaristo Carvalho foi peremptório ao afirmar que o "Governo tem intenção de trabalhar com a República do Ruanda”, uma vez que "já teve prova que, hoje em dia, [a capital Kigali] é uma das poucas cidades africanas com maior organização e segurança”.
Nesta que é a sua primeira visita oficial a Portugal, Evaristo Carvalho conheceu os meandros da Base Naval do Alfeite, em Almada (na margem Sul do rio Tejo). E dos contactos com as autoridades portuguesas ficou "profundamente convencido” que será possível reforçar a cooperação na área da vigilância marítima com vista a persuadir eventuais crimes de pirataria e pesca ilegal nas águas territoriais de São Tomé e Príncipe. "Ainda no fim do mês passado, uma unidade naval portuguesa esteve lá [em São Tomé e Príncipe] no [âmbito do] desenvolvimento dessa cooperação”, deu conta o presidente, acrescentando ter ficado "altamente satisfeito e convencido que, com os equipamentos que a parte portuguesa tem, poderá ajudar-nos”.
O chefe de Estado de São Tomé e Príncipe, que é igualmente Comandante Supremo das Forças Armadas, precisou a propósito que "fará a sua magistratura de influência junto do Governo para que, cada vez mais, essa cooperação se aprofunde e se reforce em prol do desejo de garantir a segurança em relação aos problemas que se possam desenvolver nessa costa [da África Central] a que pertencemos e fazemos parte como membro”.
Exploração de petróleo na ZEE "parada”
Na mesma ocasião, Evaristo Carvalho falou ainda sobre o dossier de exploração de petróleo na Zona Económica Exclusiva (ZEE). Sem precisar a data do início da exploração em larga escala, o chefe de Estado são-tomense afirmou apenas que o processo "está um pouco parado” por causa do "baixo preço do crude”, estando "as companhias concorrentes a aguardar a melhor oportunidade para lançamento da exploração”.
Relações com Taiwan: bolseiros já estão na China
A República Democrática de São Tomé e Príncipe cortou relações com Taiwan e reatou a cooperação com a China Popular. Interrogado sobre o que acontece aos estudantes bolseiros são-tomenses que estavam em Taiwan, depois deste rompimento das relações diplomáticas com Taipé, Evaristo Carvalho deu conta que os bolseiros já "estão instalados na China" e "com melhores condições”. O chefe de Estado acrescentou ainda que esta nova realidade "não traz problemas” e que está "tudo resolvido na base do acordo já assinado com a República Popular da China”.O Presidente são-tomense aprecia a proposta portuguesa de uma possível concertação para o estabelecimento de mecanismos que possam dar forma à cooperação triangular entre São Tomé e Príncipe, Portugal e a China, com foco na modernização do país, nomeadamente, na melhoria das infraestruras aeroportuária e portuária. O desejo do Presidente da República é ver um país mais moderno, dentro dos próximos dez anos, capaz de produzir e melhorar a sua economia, de modo a depender cada vez menos da ajuda externa.
Evaristo Carvalho está em Lisboa desde a passada segunda-feira (08.05) para a sua primeira visita oficial, a convite do seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, que, em Fátima, no âmbito da visita do chefe da igreja católica, terá usado da sua influência para convencer o Papa Francisco a visitar São Tomé e Príncipe. O Presidente são-tomense regressa a São Tomé esta terça-feira (16.05), depois de vários contactos oficiais e a nível privado.
Património histórico - Roças de São Tomé e Príncipe
As roças de São Tomé e Príncipe foram a base económica das ilhas até à independência em 1975, altura em que se deu a sua nacionalização. Esta galeria apresenta o património histórico das roças do arquipélago.
Foto: DW/R. Graça
Nas montanhas: a Roça Agostinho Neto
A roça organiza-se através da artéria principal que é fortemente marcada pelo imponente hospital, implantado na extremidade mais elevada, bem como pelos terreiros e socalcos que acompanham o declive. Na era colonial era esta roça que possuia o sistema ferroviário do arquipélago, a partir do qual se estabelecia a ligação e o abastecimento entre as suas dependências e o porto na Roça Fernão Dias.
Foto: DW/R. Graça
Uma roça memorial e emblemática
A Roça Agostinho Neto recebeu este nome após a independência nacional em 1975, em memória do primeiro Presidente de Angola. É uma das mais emblemáticas e impressionantes estruturas agrícolas do país. Situa-se no distrito de Lobata, norte da ilha de São Tomé, a 10 quilómetros da capital. Foi fundada em 1865 pelo Dr. Gabriel de Bustamane e foi explorada a partir de 1877, pelo Marquês de Vale Flor.
Foto: DW/R. Graça
Aqui começou a cultura do cacau
Fundada nos finais do século XVIII, a Roça Água-Izé foi a primeira da Ilha de São Tomé que implementou a cultura de cacau. José Ferreira Gomes trouxe a planta do Brasil para a Ilha do Princípe, inicialmente como uma planta ornamental, mas a cultura do cacau prosperou no arquipélago e tornou as ilhas o maior produtor de cacau a nível mundial. Esta roça é composta por nove dependências.
Foto: DW/R. Graça
O hospital da Roça Água-Izé
Implantada numa zona litoral, a Roça Água-Izé é o exemplo mais representativo da necessidade de expansão. Essa urgência levou à construção de um segundo hospital, de novos blocos de senzalas e edíficios de apoio à produção, como armazéns, fábricas de sabão e cocheiras.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Uba Budo
Localizada na parte leste da ilha de São Tomé, no distrito de Cantagalo, esta roça foi fundada em 1875. Pertenceu à Companhia Agrícola Ultramarina, administrada na altura pelo general português Humberto Gomes Amorim. A principal cultura na Roça Uba Budo era o cacau.
Foto: DW/R. Graça
Cenário de televisão
Nos anos 90, a Roça Uba Budo foi o cenário escolhido pela RTP Internacional, o canal internacional da televisão pública de Portugal, para rodar uma série televisiva. Retratava a história de amor entre uma escrava e o seu patrão.
Foto: DW/R. Graça
Uma das mais antigas: a Roça Monte Café
A Roça Monte Café localiza-se numa zona bastante acidentada, na região de Mé-Zóchi, no centro da Ilha de São Tomé. É uma das mais antigas roças do país, tendo sido fundada em 1858, por Manuel da Costa Pedreira. A 670 metros de altitude, em terrenos bastante propícios para a cultura de café arábica, assumiu o lugar de destaque como a maior produtora de café, entre as restantes roças são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
Uma pequena cidade: Roça Roca Amparo
O desenvolvimento e a modernização das estruturas das roças, originaram um contínuo crescimento de espaços e equipamentos, e a Roça Roca Amparo é um exemplo disso. Esta evolução permitiu que se criasse uma malha de ruas, jardins e praças, cada qual com a sua função e importância. O processo de crescimento correspondia ao de uma pequena cidade.
Foto: DW/R. Graça
Uma noite na roça
A Roça Bombaim localiza-se em Mé-Zóchi, um dos distritos mais populosos de São Tomé. Bombaim é uma das unidade hoteleiras de referência do arquipélago que promove o turismo rural. Encravada no meio de uma floresta densa, a sua estrutura arquitetónica faz dela um espaço único para quem procura paz. Para se aceder à roça passa-se pela Cascata S. Nicolau, um dos encantos são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Vista Alegre
A casa principal da Roça Vista Alegre constitui um dos exemplos arquitetónicos de maior interesse. Desenvolve-se sobre uma planta retangular em dois pisos, parcialmente elevada e um terceiro, formando apreendas apoiadas em pilares contínuos de madeira. Conserva-se ainda em estado razoável, devido às intervenções na casa principal, sendo que os restantes edifícios requerem obras de restauro.
Foto: DW/R. Graça
As senzalas - antigas casas dos escravos
Representa a casa do africano, oriunda do quimbundo angolano e referenciada nas pequenas povoações autóctones, formadas por cubatas (pequenas casas de madeira com cobertura de colmo). Com a exportação de mão de obra africana para o Brasil ao longo do século XVI, a dominação "senzala" foi aplicada ao conjunto habitacional onde residiam os trabalhadores escravos nas estruturas agrárias.
Foto: DW/R. Graça
Na Roça Boa Entrada, a maioria é pobre
Hoje, a Roça Boa Entrada é habitada por pessoas de diversas proveniências. Umas vieram de outras roças do país e outras vieram de outros países de África, principalmente de Cabo Verde. A maioria da população de Boa Entrada é pobre. A roça tem uma forte densidade populacional e uma grande concentração de pessoas num espaço relativamente reduzido e organizado em torno da antiga casa senhorial.
Foto: DW/R. Graça
O abandono das roças
A Roça Porto Real, localizada na Ilha do Princípe, faz parte das 15 grandes unidades agro-industriais criadas depois da independência e sucessivamente abandonadas. Antigamente, a roça tinha uma produção agrícola variada. Há quem diga que produzia o melhor óleo da palma de toda a ilha.