Sucessão de Guebuza mergulha FRELIMO numa crise interna
10 de fevereiro de 2014 A questão tem gerado polémica no seio da FRELIMO, que, de acordo com um investigador político ouvido pela DW África, se encontra "num dos momentos mais críticos da sua história".
Para Henriques Viola, analista político do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Moçambique, mesmo que surjam outros pré-candidatos, "um dos três já apresentados será o escolhido”.
A situação está a ser contestada internamente por vários históricos e membros do partido que defendem que o Comité Central é livre de escolher qualquer outro candidato e não tem que ficar cingido ao grupo, que inclui o primeiro-ministro Alberto Vaquina, e os ministros da Agricultura, José Pacheco, e da Defesa, Filipe Nyusi.
Afastando-se de polémicas, o antigo Presidente de Moçambique Joaquim Chissano já frisou que a questão da eleição do candidato "está ainda em aberto" e que o Comité Central é "soberano".
Questão em aberto
Segundo Chissano, “a Comissão Política cumpriu o seu dever de apresentar uma lista de possíveis candidatos, conforme rezam os estatutos do partido. O facto de se reconhecer que o Comité Central é o órgão supremo entre congressos já indica que poderá decidir escolher entre esses candidatos que foram apresentados ou entre outros possíveis. É uma questão que ainda está em aberto".
Na opinião do analista político Henriques Viola, a possibilidade de escolha por parte do Comité Central pode não ter um efeito prático.
“O que penso que poderá acontecer é que passem outros pré-candidatos, como a antiga primeira-ministra Luísa Diogo ou o Dr. Eduardo Mulémbuè, antigo presidente da Assembleia da República. Esses nomes até poderão passar como pré-candidatos, mas este passo poderá ser meramente cosmético, para demonstrar alguma abertura por parte dos órgãos do partido“, adianta.
“No final, penso que vai ser um destes três que a Comissão Política apontou, tanto que estes três já estão neste momento a fazer a sua pré-campanha ao nível dos distritos e províncias”, acrescenta.
Tal como defende Joaquim Chissano e outros históricos da FRELIMO, Henriques Viola lembra que o Comité Central é soberano e deve propor outros candidatos, de acordo com os estatutos do partido.
“Esta falsa polémica que se coloca, no sentido de dizerem que não há mais espaço [para outros candidatos] não passa de um jogo ou, como se costuma dizer em gíria popular, de ‘tentar chutar a bola para a frente’ e pensar que eles serão os únicos a poder correr atrás dessa bola”, afirma o especialista.
“Querendo ou não, a FRELIMO vai ter que colocar outros candidatos na mesa, porque estes três têm um problema muito sério: são candidatos muito fracos. A sociedade olha para eles com uma certa desconfiança, pelo facto de terem uma ligação bastante forte com a actual liderança da FRELIMO que é bastante contestada, não só internamente, como fora do partido”, explica Henriques Viola.
Três nomes favoráveis a Guebuza
A tentativa de restringir a escolha do candidato do partido no poder aos três nomes propostos pela Comissão Política é interpretada como uma ação da ala próxima do atual chefe de Estado e presidente da FRELIMO, Armando Guebuza, para garantir uma sucessão que lhe seja favorável.
O Comité de Verificação da FRELIMO, órgão jurisdicional do partido no poder em Moçambique, confirmou ter recebido uma impugnação do processo eleitoral para escolher o candidato às presidenciais, adiantando que vai decidir em conformidade com os estatutos. Mas Henriques Viola tem dúvidas quando ao resultado desta ação, falando num “claro conflito de interesses”, uma vez que o presidente do órgão, José Pacheco, é um dos pré-candidatos apontados pela Comissão Política às presidenciais.
“Quase sempre, em Moçambique, quando há qualquer impugnação da oposição, há sempre alguma artimanha jurídica que se encontra para que a impugnação não tenha nenhum fim jurífico. Por isso, o mais provável é que esta carta não tenha nenhum efeito. Mas, do ponto de vista político, não tenho dúvidas de que tem um efeito muito grande e já está a levantar uma grande dicussão e já está a pressionar o Governo e o partido a assumirem outras posições e a agirem de forma mais cautelosa”, comenta Henriques Viola.
O analista não hesita ao afirmar que a FRELIMO vive "um dos momentos mais críticos da sua história", mas acredita que a “experiência na gestão de conflitos internos” permitirá ao partido “voltar a unir-se no final deste período de turbulência até ao final das eleições”.
“Principalmente porque estes indivíduos – fala-se de José Pacheco, de Vaquina, de Nyusi, de Guebuza, de Chissano, Luísa Diogo... – são pessoas que já têm uma história de convívio e compromissos pré-estabelecidos entre si. E eu penso que essas alianças internas vão pesar muito mais do que a questão da liderança do próprio partido”, conclui.