Sucessor de Afonso Dhlakama será definido a 15 de janeiro
kg | Lusa
2 de dezembro de 2018
Elias Dhlakama, irmão do antigo líder da RENAMO, é um dos possíveis candidatos à liderança do maior partido da oposição em Moçambique.
Publicidade
A sucessão de Afonso Dhlakama, antigo líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição em Moçambique, será definida a 15 de janeiro.
Segundo o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, o novo líder do partido deverá ter nacionalidade moçambicana, ter ocupado a função de secretário-geral, ter 15 anos de militância e ser membro idóneo e de reconhecido mérito. Além disso, deverá ser uma figura que combateu pela RENAMO na guerra civil dos 16 anos, que opôs o braço armado do partido e as forças governamentais.
A decisão foi tomada no 6º Conselho Nacional da RENAMO na última sexta-feira (29.11). O novo nome será escolhido num congresso de três dias a ser realizado na Gorongosa, na província de Sofala, no centro do país. Um dos possíveis candidatos à sucessão é Elias Dhlakama, que não cumpre todos os requisitos para o cargo. O irmão de Afonso Dhlakama não foi secretário-geral do partido e não tem 15 anos de militância no partido, porque fazia parte das Forças Armadas.
"O congresso vai deliberar sobre algumas situações excecionais", disse José Manteigas, sobre a inelegibilidade do irmão de Afonso Dhlakama. "O que devo dizer é que em princípios legislativos, há exceções e, portanto, pode ser que ele [Elias Dhlakama] venha a ser abrangido por uma das exceções", declarou.
Elias Dhlakama liderava o Comando dos Reservistas das Forças Armadas de Defesa de Moçambique desde fevereiro de 2015 e passou à reserva em outubro.
A RENAMO decidiu ainda criar um gabinete para a preparação do congresso e caberá ao órgão receber as candidaturas à liderança do principal partido de oposição em Moçambique. "Este gabinete anunciará as datas de receção das candidaturas e daí conheceremos os candidatos a presidente do partido", acrescentou José Manteigas.
Afonso Dhlakama morreu de um ataque cardíaco a 3 de maio deste ano. Desde então, a RENAMO é dirigida pelo coordenador interino, Ossufo Momade.
Braço armado
Manteigas também pediu que o Governo de Moçambique acelere a Desmilitarização, Desmobilização e Reintegração (DDR) do braço armado do partido. "A RENAMO espera que a breve trecho o Governo acelere este processo negocial (...) dentro do espírito de entendimentos alcançados", afirmou o porta-voz do partido.
A declaração surge depois de o partido ter admitido a possibilidade de interromper as negociações com o Governo após ter alegado fraude em cinco municípios nas eleições autárquicas de 10 de outubro.
Desde que o processo de DDR foi anunciado a 6 de outubro pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, 14 oficiais foram integrados em cargos de relevo nas Forças Armadas.
O processo é a segunda parte de uma negociação que o Presidente moçambicano encetou no último ano com Afonso Dhlakama após o cessar-fogo decretado em dezembro de 2016. A primeira parte levou a um acordo sobre a descentralização do poder, consumada em maio com alterações à Constituição e consequente adaptação das leis eleitorais para o escrutínio de outubro.
Guerrilheiras da RENAMO aguardam paz e reintegração
A desmilitarização também se faz no feminino. As mulheres estão prontas para entregar as armas, assegura a Liga Feminina da RENAMO, e aguardam com expetativa a reintegração nas forças governamentais.
Foto: DW/M. Mueia
Na expetativa do acordo
Muitas mulheres na RENAMO são guerrilheiras e aguardam a sua reintegração social. Estão interessadas em entregar as armas e exercerem outras atividades profissionais. Esperam pelo acordo final entre as principais partes envolvidas no processo de deliberação, neste caso as bancadas parlamentares da RENAMO e A FRELIMO.
Foto: DW/Marcelino Mueia
O aguardado regresso à vida civil
Teresa Abdul, da província do Niassa, começou a combater quando tinha apenas 14 anos. Aguarda o desarmamento e o regresso à vida civil com muita expectativa. “Este processo é muito melhor. Temos muitas pessoas que passaram pela guerra, lutaram, mas até agora não estão a ser reintegradas nos seus lugares, é triste. Caso este processo ocorra, estaremos agradecidos porque todos estarão na linha”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Luta de quase quatro décadas
As mulheres do maior partido da oposição comemoraram o 38º aniversário da criação da Liga Feminina a 5 de Julho de 2018. As celebrações a nível nacional tiveram lugar na província moçambicana da Zambézia, juntando representantes do partido oriundos maioritariamente das províncias.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Que se cumpra o acordo feito com Dhlakama
Albertina Naene, ex-guerrilheira, ingressou nas fileiras militares da RENAMO com apenas 13 anos. Hoje, com 46, apela ao Presidente para prosseguir com os acordos de cessação definitiva das hostilidades militares."O Governo da FRELIMO está a atrasar o processo. Deveria cumprir o que ficou acordado com o presidente Dhlakama. Queremos que aqueles nossos irmãos saiam para virem conviver connosco”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Encontros para motivar e mobilizar apoiantes
A morte do líder da RENAMO não significa o fim do regime partidário. As autoridades políticas da RENAMO na província da Zambézia, têm mantido encontros constantes depois da morte de Afonso Dhlakama. Os encontros não visam apenas traçar planos de atividade para as delegações distritais e membros do partido, também servem para motivar os seus simpatizantes e eleitores.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Maria Inês Martins - presidente da Liga da Mulher da RENAMO
Para a presidente da Liga da Mulher da RENAMO, a integração dos guerrilheiros nas forças governamentais podia começar pelos que, depois dos acordos de paz de 1992, foram integrados e depois afastados “sem justa causa”. “Foram desmobilizados e despromovidos, a outros foram dadas reformas compulsivas. Esta seria uma prova de que o Presidente Nyusi está disponível para cumprir o que acordaram".
Foto: DW/M. Mueia
O desejo de uma vida em paz
Populares querem paz, para continuar a produzir comida, dizem as vendedeiras ao longo da estrada EN1 em Malei, distrito de Namacurra, na Zambézia. Apesar da zona não ter sido afetada pelo conflito no ano passado, algumas vendedeiras dizem que
temiam a situação. Dormiam em prontidão, com malas preparadas para abandonarem as suas casas, em caso de conflito.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Partido "envelhecido"
A RENAMO, continua a ser um partido político com muitos membros idosos. De acordo com o politólogo Ricardo Raboco, a derrota da RENAMO nos pleitos eleitorais está também associada a este fator. Mas o politólogo também opina que, em Moçambique, os mais velhos são mais fiéis à RENAMO e poucos emigram para outras formações políticas. E há cada vez mais idosos a filiar-se pela RENAMO.