Sudão: Acordo para acabar com o conflito no Darfur
AFP | EFE | cvt
28 de dezembro de 2019
O Governo sudanês e os grupos rebeldes concordaram em negociar a partilha do poder e o regresso de milhões de deslocados. O acordo foi aclamado como um "passo importante" para alcançar uma paz duradoura no Darfur.
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Nove grupos rebeldes e o Governo sudanês assinaram, este sábado (28.12), um documento que traça um plano para acabar com o conflito na região do Darfur.
Segundo o documento, as partes definiram os tópicos que terão de ser negociados durante as conversações de paz em curso.
As questões incluem a discussão das causas profundas do conflito, a partilha do poder, a integração das forças rebeldes no Exército nacional - bem como o regresso de milhões de pessoas deslocadas pelo conflito.
O Governo sudanês também concordou em abordar a destruição de propriedades durante o conflito.
O conflito no Darfur eclodiu em 2003, quando rebeldes de minorias étnicas entraram em confronto com o Governo do ex-líder sudanês Omar al-Bashir. Grupos de direitos humanos dizem que, naquela época, as forças do Governo sudanês visavam grupos étnicos pró-rebeldes, tendo estado a violar, matar e queimar aldeias.
Esperanças renovadas
O principal negociador da Frente Revolucionária do Sudão (SRF), uma coalizão de vários grupos rebeldes, saudou o acordo deste sábado como "um passo importante".
"Este passo, sem dúvida, ajudará no processo para alcançar uma paz duradoura no Darfur e também permitirá que o processo de transição no Sudão avance sem obstáculos", disse o negociador Ahmed Mohamed à agência de notícias AFP.
O Governo tem negociado com diferentes grupos rebeldes na cidade de Juba, no Sudão do Sul, nas últimas semanas, como parte do mais recente esforço para acabar com o conflito no Darfur, no Nilo Azul e no Cordofão do Sul.
As esperanças de paz na região renasceram, após Bashir ter sido derrubado no início deste ano e o Governo de transição sudanês ter feito da garantia da paz no Darfur uma prioridade. Os mediadores esperam chegar a um acordo final de paz em fevereiro de 2020.
"Estamos empenhados em acabar com todos os problemas no Darfur e assegurar que restauramos a paz e a estabilidade não só no Darfur mas em todas as partes do país", disse o general Samsedine Kabashi, o mais alto representante do Governo sudanês nas conversações.
Bashir é procurado pelo Tribunal Penal Internacional por seu papel no conflito do Darfur, que matou cerca de 300 mil pessoas e deslocou 2,5 milhões, de acordo com as Nações Unidas. No início deste mês, um tribunal sudanês condenou Bashir a dois anos de prisão por corrupção.
O povo contra o exército - Cronologia da luta pelo poder no Sudão
A evacuação violenta de um campo de protesto na capital sudanesa, Cartum, exacerbou as tensões entre manifestantes e militares. A luta pelo poder documentada em imagens.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Protesto
Durante semanas, manifestantes sudaneses resistiram diante do Ministério da Defesa. Milhares exigiram um conselho de transição que incluísse civis, para poderem também decidir sobre o futuro do país. No início de junho, os militares atacaram violentamente os manifestantes. Dezenas de pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Em nome da nação
Um manifestante com a bandeira nacional perto do quartel-general do exército. A bandeira representa a exigência dos manifestantes de civis nos comandos para moldarem o futuro do país juntamente com os militares. A acontecer, este seria um passo importante para a democracia.
Foto: Reuters
Sinais de alarme
Os militares aumentaram massivamente a presença nas ruas, nos dias que antecederam o massacre no início de junho. Muitos manifestantes interpretaram a situação como prova de que o exército não queria abandonar o poder. Mas esta tinha sido a grade esperança de muitos sudaneses após a queda do ditador Omar al-Bashir.
Foto: Getty Images/AFP
Uma era chega ao fim
Omar al-Bashir governou o Sudão desde 1993 até sua queda, em abril de 2019. Os seus críticos foram violentamente reprimidos. Para manter o poder, al-Bashir chegou a dissolver o Parlamento, em 1999. Na mesma altura, concedeu asilo ao líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. Acima de tudo, porém, o seu nome continua associado à guerra sangrenta contra os separatistas na província de Darfur.
Foto: Reuters/M. Nureldin Abdallah
Ditador em tribunal
Ver o ditador em tribunal era um sonho antigo de muitos sudaneses. A 16 de junho, Omar al-Bashir apareceu no processo contra ele instaurado. Para já, é acusado de corrupção e posse ilegal de moeda estrangeira. Depois da sua queda, a polícia encontrou na sua residência sacos de dinheiro no valor de mais de cem milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Hjaj
As mulheres querem ser ouvidas
Muitas mulheres participaram nos protestos. As mulheres no Sudão sempre beneficiaram de uma liberdade relativamente significante. Agora, não só reforçam quantitativamente as manifestações, como também lhes dão um rosto diferente. A sua presença expressa o desejo de democracia e igualdade de muitos cidadãos.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Ícone da revolução
A estudante de arquitetura Alaa Salah tornou-se a face da revolução. Quando subiu ao telhado de um carro em abril para falar com os manifestantes, um fotógrafo atento fez esta imagem. Desde então, ela tem sido partilhada inúmeras vezes nas redes sociais. Fotos como estas tornaram-se uma parte importante da revolução, porque convidam os cidadãos a identificarem-se com os protestos.
Foto: Getty Images/AFP
Solidariedade internacional
Graças às plataformas sociais online, a notícia dos protestos no Sudão rapidamente correu o mundo. E logo mereceram apoio internacional, como aqui em Edimburgo, Escócia. Recentemente os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia também se fizeram ouvir: "A UE apela ao fim imediato de toda a violência contra o povo sudanês", disseram numa declaração oficial.
No entanto, a oposição ao exército no poder não é consensual. Muitos sudaneses apoiam os militares, porque acreditam que só uma governação autoritária pode conduzir o país a um futuro próspero. Os apoiantes dos militares consideram que o General Abdel Fattah Burhan, presidente do Conselho Militar, representado no cartaz, reúne as condições para cumprir a tarefa.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
À espera
Mas a eminência parda General Mohammed Hamdan Daglu, conhecido por Hemeti, é tido como o homem forte do regime de transição. Daglu comandou a tropa que reprimiu os protestos em frente ao quartel-general militar. Durante a guerra do Darfur, liderou as milícias Janjaweed, que combateram brutalmente os rebeldes. Os manifestantes temem que ele possa vir a ser o novo governante do país.
Foto: Reuters/M.N. Abdallah
O Golfo preocupado
Políticos de outros países árabes também olham com nervosismo para o Sudão. Por exemplo, Mohamed bin Zayad al-Nahyan, o Príncipe Herdeiro dos Emirados Árabes Unidos. Tal como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos temem que o protesto possa ser um exemplo de uma revolução popular bem-sucedida na região, pondo em questão governos autoritários. Ambos os países apoiam os militares sudaneses.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Ministry of Presidential Affairs/M. Al Hammadi
Os vizinhos a norte
Também no Cairo se olha com preocupação para Cartum. O Governo do Presidente Abdel-Fattah al-Sisi receia que a Irmandade Muçulmana possa ganhar influência no Sudão - precisamente o grupo contra o qual o Governo egípcio está a agir com todas as suas forças no seu próprio país. Se a Irmandade Muçulmana se estabelecesse no Sudão, poderia, a partir daí, voltar a exercer uma forte influência no Egito.
Foto: picture-alliance/Photoshot/MENA
Protestos sem fim à vista
No Sudão prosseguem os protestos. No dia 14 de junho, Sadiq al-Mahdi, uma das principais figuras da oposição do país durante décadas, exigiu uma investigação da evacuação violenta do campo de protesto. É algo que não pode agradar aos militares. As tensões poderão voltar a agravar-se.