Sudão: Assassinatos geram receio de novo genocídio em Darfur
30 de outubro de 2025
O líder dos paramilitares reconheceu uma "catástrofe" em Al-Fashir. O general Mohamed Daglo afirmou que "a guerra foi-lhes imposta", frisando que quer "a unidade do Sudão pela paz ou pela guerra".
A cidade-chave de Darfur, no oeste do país, foi tomada no domingo pelas Forças de Apoio Rápido. Era a última grande cidade que escapava ao controlo dos paramilitares, após 18 meses de cerco na região. Desde então crescem relatos de abusos e assassinatos em massa de civis, que geram temores de um novo genocídio em Darfur.
Hager Ali, investigadora do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), explica que, "com a retirada das Forças Armadas do Sudão, muitos civis vão fugir", algo que os paramilitares vão "provavelmente tentar impedir".
"Têm um interesse particular em garantir que todos saibam que as Forças de Apoio Rápido controlam Darfur e que vão descontar isso nos civis. É provável que também queiram fazer de Darfur um exemplo, especialmente com as suas ambições políticas mais amplas", afirma Ali.
A retirada das Forças Armadas da região cumpre outro objetivo dos paramilitares: "tornar simbólico para todos que eles podem fazer o que quiserem, sem temer quaisquer consequências, tentar intimidar e assustar os civis para que obedeçam", complementa a investigadora.
Segundo a responsável pela ajuda humanitária do Governo pró-exército, "mais de 2.000 civis foram mortos durante a invasão da milícia em Al-Fashir".
"Políticas sistemáticas de genocídio"
Esta quarta-feira (29.10), a Organização Mundial de Saúde (OMS) denunciou a morte de mais de 460 pessoas num ataque a um hospital da cidade e sequestro de profissionais de saúde.
Em entrevista à DW, Shayna Lewis, especialista em Sudão, salienta que o que diferencia as Forças de Apoio Rápido são as suas "políticas sistemáticas de genocídio".
"Esta destruição desenfreada, o assassinato de pacientes e profissionais de saúde em hospitais é o seu modus operandi. Não se trata de um incidente isolado. Não é que eles sejam mais brutais do que qualquer outra força. É que outras forças não têm necessariamente essa intenção por detrás", explica.
Lewis recorda que as Forças de Apoio Rápido "sempre foram uma força genocida, originalmente criada pelo regime de Omar al-Bashir para conduzir o genocídio de 2003", tendo essa génese persistido até hoje.
Os atuais assassinatos em massa são a mais recente escalada do conflito no Sudão, que eclodiu em abril de 2023. Desde então, o país tem sido devastado pela guerra. De acordo com o Comité Internacional de Resgate, o Sudão, rico em ouro e petróleo, tornou-se o palco da maior crise humanitária já registrada no mundo.
Dos 51 milhões habitantes, cerca de 14 milhões foram deslocados. A fome é generalizada, assim como a cólera e outras doenças. Organismos internacionais acreditam que até 140.000 pessoas foram mortas.