Confrontos provocam fecho de metade dos hospitais de Cartum
Lusa
19 de abril de 2023
Confrontos no Sudão provocaram o encerramento de mais de metade dos hospitais da capital e das regiões periféricas. Os restantes correm o risco de encerramento devido à falta de pessoal médico e de abastecimento básico.
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"Dos 59 estabelecimentos hospitalares da capital e das zonas adjacentes às áreas onde se verificam os confrontos, há 39 [hospitais] que se encontram fora de serviço", disse hoje o Sindicato dos Médicos do Sudão.
Entre os hospitais que deixaram de prestar serviços, nove foram bombardeados e 16 foram evacuados, disse ainda o sindicato sem se referir aos autores dos ataques.
Neste momento 20 hospitais estão a funcionar de forma total ou parcial, sendo que a maior parte só garante primeiros socorros.
Mesmo estes "estão ameaçados de encerramento por falta de médicos, abastecimento, material médico, água e energia elétrica", disse a mesma fonte sindical acrescentando que pelo menos cinco ambulâncias foram atacadas "por forças militares".
Outras ambulâncias foram impedidas de circular, mesmo quando transportavam doentes ou material médico destinado a centros hospitalares.
Na terça-feira à noite, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse através de um comunicado que as "informações de ataques militares contra instalações sanitárias, sequestro de ambulâncias com pacientes e médicos a bordo, pilhagem de instalações sanitárias e ocupação de hospitais por forças militares são profundamente preocupantes".
Sudão: protestos contra os militares continuam
02:42
Acesso à saúde
A OMS instou as partes em confronto a garantir o acesso seguro dos pacientes, pessoal médico, e ambulâncias aos hospitais,
"Os doentes precisam de aceder aos serviços de saúde não apenas para tratar de ferimentos mas também para serviços essenciais e vitais", disse ainda a OMS.
A Organização Mundial da Saúde recordou que a "segurança e os cuidados de saúde devem estar sempre protegidos, especialmente em situações de conflito, quando o acesso a serviços que salvam vidas são ainda mais importantes".
Na terça-feira (18.04), a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou o assalto das instalações de Nyala, no Darfur, no oeste do Sudão, por "homens armados que roubaram tudo" saqueando um armazém que guardava material médico.
De acordo com as Nações Unidas, um terço dos sudaneses - cerca de 16 milhões de pessoas - já necessitavam de ajuda humanitária de emergência no princípio do ano, sendo que 3,7 milhões dos quais são deslocados internos.
Pelo menos 270 pessoas morreram e mais de duas mil ficaram feridas nos confrontos entre o Exército do Sudão e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido, de acordo com os dados da OMS.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.