Purga no Sudão: Conselho Militar avança com demissões
tms | Lusa | AFP | AP | Reuters
15 de abril de 2019
Além do ministro da Defesa, Conselho Militar que governa o Sudão desde a destituição de Bashir demitiu o chefe de Estado-Maior do Exército. Manifestantes continuam a pressionar militares para formarem um governo civil.
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O anúncio do general Abu Bakr Dambalab como novo diretor dos serviços secretos foi feito numa conferência de imprensa, no domingo (14.04), para dar conta da saída do ministro da Defesa, Awad Mohamed Ibn Auf, um general ligado ao genocídio na região de Darfur, e do chefe de Estado-Maior do Exército, Camal Abdel Maaruf, e da demissão do embaixador em Washington, o general Mohamed Attal-Moula Abbas.
De acordo com o porta-voz do Conselho Militar, está a ser avaliada a situação de outros embaixadores noutros países. Têm sido mantidos encontros diplomáticos com representantes de países árabes, entre os quais a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Catar, países africanos como a Etiópia e o Sudão do Sul, ou representantes dos Estados Unidos e da denominada 'troika', com os Estados Unidos, a Noruega e o Reino Unido.
O novo diretor dos serviços secretos, em substituição de Salah Gosh, que apresentou a sua demissão na sexta-feira à noite, tem formação e carreira militar e foi cônsul da embaixada sudanesa no Cairo, no Egito, antes de dirigir vários departamentos dentro dos serviços de informação, incluindo os serviços secretos externos.
Negociaçõescom oposição e manifestantes
Os manifestantes e os grupos da oposição pediam há muito a saída de Salah Gosh, que liderou a repressão contra os que pediam nas ruas a demissão do Presidente Omar al-Bashir. O Conselho Militar está a tentar responder às exigências dos manifestantes e negociar com a oposição, mas já alertou que a sua prioridade é manter a segurança e a estabilidade do país.
Purga no Sudão: Conselho Militar avança com demissões
Nas ruas, os manifestantes voltaram este domingo (14.04) a exigir aos militares a entrega imediata do poder a um governo civil, prometendo continuar as manifestações de rua que derrubaram o ex-Presidente Omar al-Bashir na quinta-feira (11.04). A exigência foi apresentada pela Associação de Profissionais do Sudão durante uma reunião com o Conselho Militar de Transição na capital, Cartum.
Enquanto isso, à porta Ministério da Defesa, milhares de manifestantes permanecem acampados e garantem que vão exercer "todas as formas de pressão pacífica para alcançar os objetivos da revolução. "Só aceitaremos uma mudança real que satisfaça o povo, que está à procura de um bom futuro", diz Al-Tayieb Ahmad.
O novo chefe do Conselho Militar de Transição que assumiu o Governo do Sudão procura apaziguar as multidões nas ruas. Anunciou o fim do toque de recolher imposto pelo seu antecessor e prometeu que um Governo civil seria formado dentro de dois anos. Mas os manifestantes querem uma ruptura clara com o antigo regime.
Governo civil na lista de exigências
A lista de exigências apresentada ao Conselho Militar pela Associação de Profissionais do Sudão, que encabeça os protestos nas ruas, possui nove pontos. Além da instalação de um governo civil, a lista inclui o julgamento dos responsáveis pelo golpe militar de 1989.
Também pedem o desmantelamento de todos os sindicatos pró-Governo, o congelamento dos altos quadros do Executivo do ex-Presidente Omar al-Bashir e a demissão de todos os principais juízes e procuradores.
Após o encontro com representantes dos manifestantes, o Conselho Militar assegurou que o partido de Omar al-Bashir não participará do futuro governo civil. O porta-voz do conselho militar também deixou claro que a nomeação de um primeiro-ministro deverá ser função da oposição.
No fim de semana, grupos ligados aos direitos humanos manifestaram preocupação pelo facto de os militares terem negado a extradição de Omar al-Bashir para o Tribunal Penal Internacional (TPI), onde é acusado de crimes contra a humanidade.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.