Sudão: Continuam os protestos após morte de manifestantes
Lusa | AFP | rvp
1 de agosto de 2019
Manifestantes voltaram às ruas de Cartum e da cidade onde seis jovens, inlcuindo quatro estudantes, foram mortos no início da semana. União Africana cobra a responsabilização dos envolvidos neste crime.
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No Sudão, manifetantes voltaram às ruas de Cartum esta quinta-feira (01.08) em protesto pela morte de seis pessoas, incluindo quatro estudantes, segundo a Associação de Profissionais do Sudão. As mortes ocorreram na passada segunda-feira (29.07) na cidade de Al-Obeid durante uma manifestação pacífica contra a falta de pão e combustível.
Na quarta-feira (31.07), centenas de manifestantes também protestaram em Al-Obeid contra as mortes. Por causa da morte dos estudantes e também das manifestações, as autoridades suspenderam as aulas em todo país por um período indefinido.
A União Africana (UA) já se manifestou em relação a esta tragédia, através do seu mediador no Sudão, Mohamed Hassan Labat.
"A UA condena firmemente o assassinato de estudantes que participavam numa manifestação pacífica", afirmou Labat, numa conferência de imprensa em Cartum na quarta-feira, juntamente com o também mediador etíope, Mahmud Dirir. Além disso, pediram a detenção dos culpados para serem levados a julgamento e receberem "a sanção merecida".
As mortes em Al-Obeid levaram à suspensão das conversações entre os líderes dos protestos e os generais no poder. Mas os líderes da oposição disseram esta quinta-feira que resolveram as grandes divergências nas negociações com os líderes do Sudão, aproximando-os de um acordo sobre a formação de um novo Governo de transição após a destituição do líder de longa data Omar al-Bashir.
Julgamento marcado
Entretanto, o julgamento do ex-Presidente Omar al-Bashir terá início no próximo dia 17 de agosto. O advogado do ex-governante, Hisham al-Gaaly, disse à agência AFP que "a primeira sessão do seu julgamento estava prevista para quarta-feira (31.07), mas as autoridades foram incapazes de o trazer por razões de segurança". "Por isso, o juiz informou-nos de que o julgamento terá agora início em 17 de agosto", afirmou al-Gaaly.
No passado dia 16 junho um procurador sudanês anunciou as acusações pelas quais al-Bashir está a ser levado a julgamento. O antigo chefe de estado é acusado de "corrupção, posse de moeda estrangeira e receção ilegal de ofertas”.
Omar al-Bashir foi destituído pelo Exército no dia 11 de abril, depois vários meses de protestos contra subidas dos preços de vários bens essenciais. Os protestos acabaram por transformar-se num movimento contra o chefe de Estado, que liderava o país desde 1989.
Al-Bashir é alvo ainda de dois mandados de detenção emitidos pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade, cometidos durante o conflito em Darfur, na zona oeste do Sudão. Segunda as Nações Unidas, o conflito causou mais de 300.000 mortos desde 2003 e obrigou ao deslocamento de 2,5 milhões de pessoas.
O povo contra o exército - Cronologia da luta pelo poder no Sudão
A evacuação violenta de um campo de protesto na capital sudanesa, Cartum, exacerbou as tensões entre manifestantes e militares. A luta pelo poder documentada em imagens.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Protesto
Durante semanas, manifestantes sudaneses resistiram diante do Ministério da Defesa. Milhares exigiram um conselho de transição que incluísse civis, para poderem também decidir sobre o futuro do país. No início de junho, os militares atacaram violentamente os manifestantes. Dezenas de pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Em nome da nação
Um manifestante com a bandeira nacional perto do quartel-general do exército. A bandeira representa a exigência dos manifestantes de civis nos comandos para moldarem o futuro do país juntamente com os militares. A acontecer, este seria um passo importante para a democracia.
Foto: Reuters
Sinais de alarme
Os militares aumentaram massivamente a presença nas ruas, nos dias que antecederam o massacre no início de junho. Muitos manifestantes interpretaram a situação como prova de que o exército não queria abandonar o poder. Mas esta tinha sido a grade esperança de muitos sudaneses após a queda do ditador Omar al-Bashir.
Foto: Getty Images/AFP
Uma era chega ao fim
Omar al-Bashir governou o Sudão desde 1993 até sua queda, em abril de 2019. Os seus críticos foram violentamente reprimidos. Para manter o poder, al-Bashir chegou a dissolver o Parlamento, em 1999. Na mesma altura, concedeu asilo ao líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. Acima de tudo, porém, o seu nome continua associado à guerra sangrenta contra os separatistas na província de Darfur.
Foto: Reuters/M. Nureldin Abdallah
Ditador em tribunal
Ver o ditador em tribunal era um sonho antigo de muitos sudaneses. A 16 de junho, Omar al-Bashir apareceu no processo contra ele instaurado. Para já, é acusado de corrupção e posse ilegal de moeda estrangeira. Depois da sua queda, a polícia encontrou na sua residência sacos de dinheiro no valor de mais de cem milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Hjaj
As mulheres querem ser ouvidas
Muitas mulheres participaram nos protestos. As mulheres no Sudão sempre beneficiaram de uma liberdade relativamente significante. Agora, não só reforçam quantitativamente as manifestações, como também lhes dão um rosto diferente. A sua presença expressa o desejo de democracia e igualdade de muitos cidadãos.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Ícone da revolução
A estudante de arquitetura Alaa Salah tornou-se a face da revolução. Quando subiu ao telhado de um carro em abril para falar com os manifestantes, um fotógrafo atento fez esta imagem. Desde então, ela tem sido partilhada inúmeras vezes nas redes sociais. Fotos como estas tornaram-se uma parte importante da revolução, porque convidam os cidadãos a identificarem-se com os protestos.
Foto: Getty Images/AFP
Solidariedade internacional
Graças às plataformas sociais online, a notícia dos protestos no Sudão rapidamente correu o mundo. E logo mereceram apoio internacional, como aqui em Edimburgo, Escócia. Recentemente os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia também se fizeram ouvir: "A UE apela ao fim imediato de toda a violência contra o povo sudanês", disseram numa declaração oficial.
No entanto, a oposição ao exército no poder não é consensual. Muitos sudaneses apoiam os militares, porque acreditam que só uma governação autoritária pode conduzir o país a um futuro próspero. Os apoiantes dos militares consideram que o General Abdel Fattah Burhan, presidente do Conselho Militar, representado no cartaz, reúne as condições para cumprir a tarefa.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
À espera
Mas a eminência parda General Mohammed Hamdan Daglu, conhecido por Hemeti, é tido como o homem forte do regime de transição. Daglu comandou a tropa que reprimiu os protestos em frente ao quartel-general militar. Durante a guerra do Darfur, liderou as milícias Janjaweed, que combateram brutalmente os rebeldes. Os manifestantes temem que ele possa vir a ser o novo governante do país.
Foto: Reuters/M.N. Abdallah
O Golfo preocupado
Políticos de outros países árabes também olham com nervosismo para o Sudão. Por exemplo, Mohamed bin Zayad al-Nahyan, o Príncipe Herdeiro dos Emirados Árabes Unidos. Tal como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos temem que o protesto possa ser um exemplo de uma revolução popular bem-sucedida na região, pondo em questão governos autoritários. Ambos os países apoiam os militares sudaneses.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Ministry of Presidential Affairs/M. Al Hammadi
Os vizinhos a norte
Também no Cairo se olha com preocupação para Cartum. O Governo do Presidente Abdel-Fattah al-Sisi receia que a Irmandade Muçulmana possa ganhar influência no Sudão - precisamente o grupo contra o qual o Governo egípcio está a agir com todas as suas forças no seu próprio país. Se a Irmandade Muçulmana se estabelecesse no Sudão, poderia, a partir daí, voltar a exercer uma forte influência no Egito.
Foto: picture-alliance/Photoshot/MENA
Protestos sem fim à vista
No Sudão prosseguem os protestos. No dia 14 de junho, Sadiq al-Mahdi, uma das principais figuras da oposição do país durante décadas, exigiu uma investigação da evacuação violenta do campo de protesto. É algo que não pode agradar aos militares. As tensões poderão voltar a agravar-se.