Sudão do Sul à beira de uma nova guerra civil?
14 de março de 2025
A Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD) da África Priental advertiu na quarta-feira (12.03) que os recentes confrontos no Sudão do Sul colocam o país à beira de uma nova guerra civil.
O mais jovem país do mundo viveu recentemente uma guerra civil que durou cinco anos, de 2013 a 2018, e que terminou com a assinatura de um acordo de partilha de poder entre o Presidente Salva Kiir e o primeiro vice-presidente Riek Machar.
Nas últimas semanas, os dois dirigentes têm-se envolvido em divergências políticas que conduziram a confrontos mortais. O ataque, na semana passada, a um helicóptero das Nações Unidas, na região de Nasir, no nordeste do país, que matou um membro da tripulação da ONU e um general sul-sudanês, atiçou as tensões.
Como surgiu a última discórdia?
Daniel Akech, analista do Sudão do Sul no International Crisis Group, explica que as clivagens entre Salva Kiir e Riek Machar pioraram quando o Presidente decidiu reestruturar a segurança e remodelar o governo. Nomeou em fevereiro, dois novos vice-presidentes, o que para Riek Machar viola o acordo de paz de 2018.
Akech lembra que há muitas desconfianças entre o Presidente e vice-presidente do Sudão do Sul. "Há muitas tensões não resolvidas entre os dois líderes, que remontam ao tempo da guerra civil. Alguns dos episódios de conflito a que estamos a assistir agora estão relacionados com essas feridas."
A capital Juba continua calma, disse à DW Daniel Akech. No entanto, as forças armadas de Salva Kiir e Riek Machar estão estacionadas em áreas próximas à capital.
"Portanto, se houver alguma movimentação agressiva entre as duas forças, essa pode ser uma área potencial de conflito. Mas até agora as coisas têm-se mantido calmas, mas tensas", relata o analista, lembrando que a falta de um exército único e uma Constituição periga a pacificação do país.
"Cada líder tem as suas próprias forças armadas em todo o país e esse é o problema", sublinha Akech.
Mediadores e Uganda intervêm
O Uganda, um dos membros da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), anunciou ter enviado esta semana forças especiais para o Sudão do Sul, segundo informou na rede social X o chefe do exército do país, Muhoozi Kainerugaba.
Kainerugaba declarou que o seu país só reconhece Salva Kiir como Presidente do Sudão do Sul e avisou que "qualquer ação contra Kiir é uma declaração de guerra contra o Uganda".
Mas as autoridades sul-sudanesas negam a presença de tropas ugandesas no país, de acordo com o ministro da Informação, Michael Lueth.
EUA retiram funcionários do país
As tensões no Sudão do Sul preocupam a comunidade internacional. Os Estados Unidos ordenaram, entretanto, a saída dos funcionários públicos norte-americanos que não se encontrem em situação de emergência, no Sudão do Sul.
Porém, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Sudão do Sul garantiu que a situação permanece "calma e segura", acrescentando que o país está "aberto e seguro para visitantes, investidores e parceiros de desenvolvimento".
A ONU estima que as disputas de poder no Sudão do Sul provocaram uma grave crise de direitos humanos no país. Estima-se que mais de metade da população enfrenta uma insegurança alimentar aguda e que 2 milhões de sul-sudaneses estão deslocados internamente e outros 2,28 procuraram refúgio nos países vizinhos.