Em plena crise humanitária, Governo sul-sudanês anuncia que registo de organizações não-governamentais locais e internacionais passa a ser gratuito. IGAD ameaça sancionar responsáveis pelas violações do cessar-fogo.
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O Sudão do Sul suspendeu temporariamente algumas das taxas cobradas a ONG locais e internacionais numa tentativa de encorajar o trabalho para resolver a crise humanitária.
O Governo e a Organização das Nações Unidas anunciaram no mês passado que o Sudão do Sul precisa de 1,7 mil milhões de dólares em ajuda humanitária este ano para apoiar 6 milhões de pessoas afetadas pela guerra, a fome e a crise económica.
Paul Dhel, vice-presidente da Comissão Humanitária e da Reconstrução Sul-Sudanesa, justifica a decisão de abandonar a taxa de 3 mil e 500 dólares para ONG internacionais e 500 para as locais com a situação humanitária atual.
"O registo é completamente gratuito. Isto vai impulsionar o trabalho humanitário no país”, disse Dhel à agência de notícias Reuters. A isenção vai durar um ano.
No passado, o Sudão do Sul foi alvo de críticas por cobrar elevadas taxas aos grupos humanitários e aos seus funcionários para que se pudessem registar para operar no país.
A embaixadora norte-americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, saúda a isenção, mas afirma que as taxas cobradas por vistos de trabalho também devem ser revistas. "Estas taxas – que muitas vezes vão dos 2 mil aos 4 mil dólares por cada funcionário internacional – continuam a ser um encargo financeiro enorme”, disse Haley, em comunicado.
Sanções para os responsáveis
A nação mais jovem do mundo está mergulhada na guerra civil desde 2013, depois do início dos confrontos entre as tropas leais ao Presidente Salva Kiir e o seu ex-vice-Presidente Riek Machar. Os rivais assinaram um acordo de paz em 2015 mas, desde então, o documento tem sido ignorado. Um cessar-fogo alcançado em dezembro foi violado em poucas horas.
Este sábado, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos Estados-membros da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento na África Oriental (IGAD) afirmaram que as violações não podem "continuar impunes”, acrescentando que os responsáveis serão alvo de sanções como o congelamento de bens.
A resolução vai agora ser enviada para o Conselho de Paz e Segurança da União Africana para aprovação, antes de um pedido ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Membros do Conselho de Segurança da ONU já se mostraram dispostos a apoiar medidas contra os responsáveis pelas violações do cessar-fogo.
O Governo de Juba ainda não reagiu às declarações da IGAD. Na quinta-feira, um porta-voz do Executivo afirmou que os observadores da trégua são "injustos” e acusou-os de se basearem em informações de terceiros.
Sudão do Sul: Crianças da zona de guerra
No Sudão do Sul, deslocados internos são acolhidos nos campos de proteção das Nações Unidas. Muitos são crianças sem os pais. A Nonviolent Peaceforce (NP), uma organização não-governamental, tem ajudado essas crianças.
Foto: DW / F. Abreu
Entre os deslocados, pais desaparecidos
Mais de 30.000 pessoas vivem nos campos de acolhimento das Nações Unidas em Juba, capital do Sudão do Sul. Cerca de 7.000 são crianças que perderam contacto com os pais. Agora, a ONG Nonviolent Peaceforce está tentando reunir as famílias.
Foto: DW / F. Abreu
Encontrando as famílias
O primeiro passo é definir a identidade da criança. Em seguida, recolhe-se o máximo de informações possíveis que possam ajudar a localizar os pais. Os dados ficam então disponíveis na internet e podem ser acessados por todas as organizações que trabalham pela protecção das crianças no Sudão do Sul. Se uma família não pôde ser localizada, as crianças são encaminhadas para adoção.
Foto: DW / F. Abreu
Forças de Paz femininas
No Sudão do Sul, a Nonviolent Peaceforce protege mulheres e crianças. Esses grupos raramente participam dos conflitos armados, mas são muito afetados. Por isso, a organização está a criar equipas femininas de luta pela paz. Essas mulheres são especialmente treinadas para combater a violência sexual e de gênero nas comunidades.
Foto: DW / F. Abreu
Mulheres pela Paz
Além de treinamento, as equipas de Mulheres pela Paz recebem acompanhamento constante. Elas ajudam outras mulheres vulneráveis nas comunidades contra a violência sexual, de gênero e também a identificarem os riscos. Em contacto com as autoridades, contribuem para que os culpados sejam levados à justiça.
Foto: DW / F. Abreu
Ulang, no Estado do Alto Nilo
A guerra civil começou como uma disputa política. Entretanto, reacendeu o conflito entre as etnias Dinka, do Presidente Salva Kiir; e Nuer, liderada pelo rebelde Riek Machar. Ulang, região localizada no Estado do Alto Nilo, é dominada pelos Nuer. Em maio de 2015, foi alvo das tropas do Governo. O resultado? Dezenas de pessoas mortas. A única área de paz tornou-se palco de mais um conflito.
Foto: DW / F. Abreu
Proteção para as crianças de Ulang
Em Ulang, a Nonviolent Peaceforce desenvolve um projeto de proteção para as crianças. Esse é um dos seis projetos dessa organização não-governamental no Sudão do Sul. Tais projetos variam de acordo com as necessidades locais. Em Ulang, por exemplo, voluntários da comunidade garantem o lazer e o esporte às crianças.
Foto: DW / F. Abreu
Futebol num antigo campo de batalha
Na escola primária Kopuot, em Ulang, as crianças que participam do projeto agora podem jogar futebol. O prédio ao fundo ainda tem as marcas de balas nas paredes. Uma triste lembrança de que, durante a ofensiva de maio, essa escola foi alvo das tropas do Governo.
Foto: DW / F. Abreu
De volta à escola
Em maio, durante a ofensiva do Governo, todos os materiais escolares e muitos outros materiais foram destruídos. Agora, em salas de aula improvisadas, luta-se para que as crianças da comunidade tenham acesso à educação. Autoria: Fellipe Abreu