Sudão do Sul: Formação de governo volta a ser adiada
Lusa | Reuters | AFP
4 de maio de 2019
Depois de encontro entre as partes na Etiópia, prazo para constituir Governo de transição, que expirava a 12 de maio, foi novamente adiado para 12 de novembro. Governo e rebeldes garantem empenho pela paz do país.
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Os representantes do Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, e o líder da oposição armada, Riek Machar, concordaram em estender por mais seis meses o prazo para a formação de um Governo transitório de unidade nacional.
O prazo para constituir o Governo, que expirava a 12 de maio, foi adiado até 12 de novembro. Até lá, o Governo de transição deve estar criado, com Kiir a dirigí-lo e Machar como um dos vice-presidentes, mantendo-se durante 36 meses até à realização de eleições.
As partes chegaram a este acordo no fim de dois dias de reunião, em Adis Abeba, na Etiópia, sob os auspícios da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento da África Oriental (IGAD, na sigla em inglês), que está a supervisionar o processo de paz no país.
"A falta de vontade política, o financiamento e restrições de tempo são, de acordo com os partidos, os principais desafios, e que justificam este atraso", disse a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento da África Oriental.
Fontes próximas ao processo deram conta que das 59 tarefas-chave a serem implementadas antes do prazo de 12 de maio, apenas 27 haviam sido concluídas. As restantes 17 estão em andamento, e outras 15 não foram ainda avaliadas.
Guerra civil agrava fome no Sudão do Sul
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O acordo para a criação de um governo unitário com os rebeldes, aprovado em setembro, e que exigia que Machar fosse reintegrado como vice-presidente, foi o mais recente de uma série de acordos entre as duas partes desde o início de uma guerra civil, em 2013.
"Paz duradoura"
De acordo com os representantes de Machar, o atraso de seis meses era necessário para resolver questões de segurança e outras que, alegadamente, estão a impedir Machar de regressar a Juba. Machar está no exílio desde 2016, altura em que o acordo de paz anterior entrou em colapso.
No entanto, e apesar do atraso, Henry Dawar, vice-presidente do partido de Machar, garantiu que, "desta vez, a paz vai ser implementada e vai ser uma paz duradoura".
Por sua vez, o Governo admitiu que os partidos voltaram a "atrasar" o cessar-fogo e o acordo de segurança transitório.
A vice-ministra dos Negócios Estrangeiros da Etiópia, Hirut Zemene, que coordenou as negociações, pediu que Governo e oposição resolvam as questões pendentes nos próximos seis meses, para que seja possível chegar a uma "paz duradoura" para a população do Sudão do Sul.
O Governo de Salva Kiir e os rebeldes liderados por Machar formaram um Governo de unidade nacional em 2016, que caiu poucos meses depois, devido a um reinício da violência, tendo essa sido a primeira tentativa de pacificação do jovem país africano, em guerra desde 2013, apenas dois anos depois de se ter tornado independente do Sudão.
Em cinco anos de conflito, estima-se que este tenha provocado a morte de 400.000 pessoas e levado a que quatro milhões ficassem deslocadas.
Sudão do Sul: Crianças da zona de guerra
No Sudão do Sul, deslocados internos são acolhidos nos campos de proteção das Nações Unidas. Muitos são crianças sem os pais. A Nonviolent Peaceforce (NP), uma organização não-governamental, tem ajudado essas crianças.
Foto: DW / F. Abreu
Entre os deslocados, pais desaparecidos
Mais de 30.000 pessoas vivem nos campos de acolhimento das Nações Unidas em Juba, capital do Sudão do Sul. Cerca de 7.000 são crianças que perderam contacto com os pais. Agora, a ONG Nonviolent Peaceforce está tentando reunir as famílias.
Foto: DW / F. Abreu
Encontrando as famílias
O primeiro passo é definir a identidade da criança. Em seguida, recolhe-se o máximo de informações possíveis que possam ajudar a localizar os pais. Os dados ficam então disponíveis na internet e podem ser acessados por todas as organizações que trabalham pela protecção das crianças no Sudão do Sul. Se uma família não pôde ser localizada, as crianças são encaminhadas para adoção.
Foto: DW / F. Abreu
Forças de Paz femininas
No Sudão do Sul, a Nonviolent Peaceforce protege mulheres e crianças. Esses grupos raramente participam dos conflitos armados, mas são muito afetados. Por isso, a organização está a criar equipas femininas de luta pela paz. Essas mulheres são especialmente treinadas para combater a violência sexual e de gênero nas comunidades.
Foto: DW / F. Abreu
Mulheres pela Paz
Além de treinamento, as equipas de Mulheres pela Paz recebem acompanhamento constante. Elas ajudam outras mulheres vulneráveis nas comunidades contra a violência sexual, de gênero e também a identificarem os riscos. Em contacto com as autoridades, contribuem para que os culpados sejam levados à justiça.
Foto: DW / F. Abreu
Ulang, no Estado do Alto Nilo
A guerra civil começou como uma disputa política. Entretanto, reacendeu o conflito entre as etnias Dinka, do Presidente Salva Kiir; e Nuer, liderada pelo rebelde Riek Machar. Ulang, região localizada no Estado do Alto Nilo, é dominada pelos Nuer. Em maio de 2015, foi alvo das tropas do Governo. O resultado? Dezenas de pessoas mortas. A única área de paz tornou-se palco de mais um conflito.
Foto: DW / F. Abreu
Proteção para as crianças de Ulang
Em Ulang, a Nonviolent Peaceforce desenvolve um projeto de proteção para as crianças. Esse é um dos seis projetos dessa organização não-governamental no Sudão do Sul. Tais projetos variam de acordo com as necessidades locais. Em Ulang, por exemplo, voluntários da comunidade garantem o lazer e o esporte às crianças.
Foto: DW / F. Abreu
Futebol num antigo campo de batalha
Na escola primária Kopuot, em Ulang, as crianças que participam do projeto agora podem jogar futebol. O prédio ao fundo ainda tem as marcas de balas nas paredes. Uma triste lembrança de que, durante a ofensiva de maio, essa escola foi alvo das tropas do Governo.
Foto: DW / F. Abreu
De volta à escola
Em maio, durante a ofensiva do Governo, todos os materiais escolares e muitos outros materiais foram destruídos. Agora, em salas de aula improvisadas, luta-se para que as crianças da comunidade tenham acesso à educação. Autoria: Fellipe Abreu