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Sudão do Sul rejeita relatório da ONU sobre violência sexual

Lusa
17 de fevereiro de 2019

As autoridades do Sudão do Sul negaram este domingo (17.02) os dados de um relatório das Nações Unidas que implica militares em 134 casos de violação de mulheres e crianças entre setembro e dezembro passado.

Foto de arquivo (2016): Soldados da UNMISS, a missão da ONU no Sudão do SulFoto: Getty Images/A.G.Farran

A presidente do comité governamental que investiga o caso, Awut Deng Acuil, disse à agência de notícias EFE que o organismo não conseguiu qualquer prova que corrobore as alegações de que houve violações no estado de Unity, no norte do país, como refere a ONU.

"As mulheres e crianças com quem falámos em Bentiu, capital do estado, afirmaram que esses relatórios não são verídicos", afirmou Deng Acuil, que é também ministra do Género e Bem-Estar Social.

A missão das Nações Unidas no Sudão do Sul recebeu denúncias de pelo menos 134 violações a mulheres e crianças entre setembro e dezembro do ano passado na região de Unity, em zonas controladas por tropas governamentais, segundo um relatório divulgado na sexta-feira.

A Missão dos Direitos Humanos das Nações Unidas no Sudão do Sul denunciou que persiste na região norte do país a violência sexual, cometida com "impunidade generalizada" e "premeditada".

As denúncias foram igualmente feitas pela organização não governamental Médicos Sem Fronteiras.

A ministra do Sudão do Sul acusou a Médicos Sem Fronteiras de "não colaborar" com o comité governamental e de não dar detalhes sobre o relatório em que surgiu a denúncia de que um grupo armado violou um grupo de mulheres na localidade de Koch.

Violência sexual endémica

De acordo com a ONU, pelo menos 134 mulheres foram violadas, incluindo algumas com apenas oito anos, entre setembro e dezembro do ano passado. Outras 41 mulheres sofreram diferentes formas de violência sexual e física, indica o relatório da ONU, realizado após uma investigação dos Médicos Sem Fronteiras ter detetado que 125 mulheres, entre as quais meninas, foram violadas e espancadas num período de 10 dias, na região de Unity, no final de novembro.

Capacetes azuis em BentiuFoto: DW/J.P. Scholz

Embora o Sudão do Sul tenha assinado um frágil acordo de paz, em 12 de setembro, para pôr fim à guerra civil de cinco anos, que matou quase 400 mil pessoas, a ONU advertiu que a violência sexual é endémica no norte do país.

Quase 90% das mulheres, entre as quais mulheres grávidas - uma de nove meses de gestação - e raparigas, foram vítimas de violação por mais de um perpetrador e muitas vezes por várias horas no Sudão do Sul.

"A volatilidade da situação no Sudão do Sul, combinada com a falta de responsabilidade por violações e abusos cometidos em Unity, provavelmente leva os atores armados a acreditarem que podem escapar da violação e de outras formas horríveis de violência sexual", disse Michelle Bachelet, Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

A maioria dos ataques foi realizada por grupos milicianos leais ao primeiro vice-Presidente Taban Deng Gai, bem como ao exército do Governo do Sudão do Sul, sublinhou o relatório.

Documentos internos a que a agência de notícias Associated Press teve acesso detalham os locais, a escala das violações e as datas dos ataques, além de mostrarem que as áreas onde ocorreram estão sob controlo de forças aliadas a Gai, segundo um especialista em segurança do Sudão do Sul que falou sob condição de anonimato. 

O aumento da violência sexual é parcialmente atribuído a um grande número de combatentes em espera, aguardando a implementação de medidas de segurança sob o novo acordo de paz, referiu o relatório.

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