Sudão: Governo e rebeldes assinam acordo preliminar de paz
tms | com agências
25 de janeiro de 2020
Nove grupos rebeldes de áreas em conflito no Sudão assinaram um acordo preliminar com o Governo após semanas de negociações, num passo fundamental para um acordo final de paz. Discussões prosseguem no Sudão do Sul.
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As negociações de paz no Sudão começaram em outubro do ano passado e visam acabar com os conflitos em Darfur, Nilo Azul e Kordofan do Sul, onde rebeldes travaram campanhas sangrentas contra a marginalização por Cartum, com o ex-Presidente Omar al-Bashir.
O acordo preliminar assinado esta sexta-feira (24.01) cobre questões importantes em relação à propriedade da terra, dando às autoridades locais o direito de fazer as suas próprias leis, partilhar o poder e também criar um exército nacional unificado.
O documento foi assinado por grupos da região do Nilo Azul e Darfur, no entanto os rebeldes do Kordofan do Sul - que exigem um Estado autónomo - não o fizeram, pois tinham outras demandas.
"Este acordo abrange tantos detalhes, incluindo as questões de terra que foram resolvidas", disse Alhadi Idris, presidente da coligação Frente Revolucionária do Sudão.
Questões fundiárias
As questões fundiárias referem-se a um acordo contencioso assinado no Governo de Omar al-Bashir, que deu aos investidores terras férteis sob arrendamentos de 100 anos. Isso foi descartado e os arrendamentos serão reduzidos para menos de 20 anos.
Idris também disse que o acordo cobre a criação de um exército nacional. "No Sudão, existem tantos exércitos e milícias, e os rebeldes também têm suas forças. Fala-se sobre como reintegrar todas essas forças num exército nacional", disse o líder da Frente Revolucionária do Sudão.
Mais detalhes sobre o que foi acordado em relação à partilha do poder e autonomia local não foram avançados.
Vontade do Governo
O comandante paramilitar sudanês Mohamed Hamdan Daglo, mais conhecido por seu apelido "Hemeti", assinou o acordo em nome de Cartum. "A assinatura deste acordo mostra a nossa vontade política como Governo do Sudão em relação à paz e esta paz mudará a vida de todo o povo para a melhor".
Os rebeldes das três regiões atingidas por conflitos assinaram uma declaração de princípios para permitir o acesso humanitário às montanhas de Nuba, no Kordofan do Sul, Darfur e Nilo Azul.
As negociações decorrem em Juba, no Sudão do Sul, que se separou de Cartum em 2011 para tornar-se um Estado independente.
O povo contra o exército - Cronologia da luta pelo poder no Sudão
A evacuação violenta de um campo de protesto na capital sudanesa, Cartum, exacerbou as tensões entre manifestantes e militares. A luta pelo poder documentada em imagens.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Protesto
Durante semanas, manifestantes sudaneses resistiram diante do Ministério da Defesa. Milhares exigiram um conselho de transição que incluísse civis, para poderem também decidir sobre o futuro do país. No início de junho, os militares atacaram violentamente os manifestantes. Dezenas de pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Em nome da nação
Um manifestante com a bandeira nacional perto do quartel-general do exército. A bandeira representa a exigência dos manifestantes de civis nos comandos para moldarem o futuro do país juntamente com os militares. A acontecer, este seria um passo importante para a democracia.
Foto: Reuters
Sinais de alarme
Os militares aumentaram massivamente a presença nas ruas, nos dias que antecederam o massacre no início de junho. Muitos manifestantes interpretaram a situação como prova de que o exército não queria abandonar o poder. Mas esta tinha sido a grade esperança de muitos sudaneses após a queda do ditador Omar al-Bashir.
Foto: Getty Images/AFP
Uma era chega ao fim
Omar al-Bashir governou o Sudão desde 1993 até sua queda, em abril de 2019. Os seus críticos foram violentamente reprimidos. Para manter o poder, al-Bashir chegou a dissolver o Parlamento, em 1999. Na mesma altura, concedeu asilo ao líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. Acima de tudo, porém, o seu nome continua associado à guerra sangrenta contra os separatistas na província de Darfur.
Foto: Reuters/M. Nureldin Abdallah
Ditador em tribunal
Ver o ditador em tribunal era um sonho antigo de muitos sudaneses. A 16 de junho, Omar al-Bashir apareceu no processo contra ele instaurado. Para já, é acusado de corrupção e posse ilegal de moeda estrangeira. Depois da sua queda, a polícia encontrou na sua residência sacos de dinheiro no valor de mais de cem milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Hjaj
As mulheres querem ser ouvidas
Muitas mulheres participaram nos protestos. As mulheres no Sudão sempre beneficiaram de uma liberdade relativamente significante. Agora, não só reforçam quantitativamente as manifestações, como também lhes dão um rosto diferente. A sua presença expressa o desejo de democracia e igualdade de muitos cidadãos.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Ícone da revolução
A estudante de arquitetura Alaa Salah tornou-se a face da revolução. Quando subiu ao telhado de um carro em abril para falar com os manifestantes, um fotógrafo atento fez esta imagem. Desde então, ela tem sido partilhada inúmeras vezes nas redes sociais. Fotos como estas tornaram-se uma parte importante da revolução, porque convidam os cidadãos a identificarem-se com os protestos.
Foto: Getty Images/AFP
Solidariedade internacional
Graças às plataformas sociais online, a notícia dos protestos no Sudão rapidamente correu o mundo. E logo mereceram apoio internacional, como aqui em Edimburgo, Escócia. Recentemente os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia também se fizeram ouvir: "A UE apela ao fim imediato de toda a violência contra o povo sudanês", disseram numa declaração oficial.
No entanto, a oposição ao exército no poder não é consensual. Muitos sudaneses apoiam os militares, porque acreditam que só uma governação autoritária pode conduzir o país a um futuro próspero. Os apoiantes dos militares consideram que o General Abdel Fattah Burhan, presidente do Conselho Militar, representado no cartaz, reúne as condições para cumprir a tarefa.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
À espera
Mas a eminência parda General Mohammed Hamdan Daglu, conhecido por Hemeti, é tido como o homem forte do regime de transição. Daglu comandou a tropa que reprimiu os protestos em frente ao quartel-general militar. Durante a guerra do Darfur, liderou as milícias Janjaweed, que combateram brutalmente os rebeldes. Os manifestantes temem que ele possa vir a ser o novo governante do país.
Foto: Reuters/M.N. Abdallah
O Golfo preocupado
Políticos de outros países árabes também olham com nervosismo para o Sudão. Por exemplo, Mohamed bin Zayad al-Nahyan, o Príncipe Herdeiro dos Emirados Árabes Unidos. Tal como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos temem que o protesto possa ser um exemplo de uma revolução popular bem-sucedida na região, pondo em questão governos autoritários. Ambos os países apoiam os militares sudaneses.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Ministry of Presidential Affairs/M. Al Hammadi
Os vizinhos a norte
Também no Cairo se olha com preocupação para Cartum. O Governo do Presidente Abdel-Fattah al-Sisi receia que a Irmandade Muçulmana possa ganhar influência no Sudão - precisamente o grupo contra o qual o Governo egípcio está a agir com todas as suas forças no seu próprio país. Se a Irmandade Muçulmana se estabelecesse no Sudão, poderia, a partir daí, voltar a exercer uma forte influência no Egito.
Foto: picture-alliance/Photoshot/MENA
Protestos sem fim à vista
No Sudão prosseguem os protestos. No dia 14 de junho, Sadiq al-Mahdi, uma das principais figuras da oposição do país durante décadas, exigiu uma investigação da evacuação violenta do campo de protesto. É algo que não pode agradar aos militares. As tensões poderão voltar a agravar-se.