Sudão: Grupos armados e junta militar prometem cessar-fogo
Lusa | EFE | AFP | nn
28 de julho de 2019
Os dois braços do Movimento Popular de Libertação do Sudão reuniram-se este sábado (27.07) com a junta militar, que governa o país, e comprometeram-se a manter o cessar-fogo e a prosseguir com o processo de paz.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
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O Setor Norte do Movimento, liderado por Malek Eqar, chegou a um acordo com as autoridades militares, no poder desde a queda do Presidente Omar al-Bashir, segundo o qual seriam perdoados todos os presos políticos e anuladas as condenações à morte que tinham sido decididas contra os líderes dos movimentos armados rebeldes.
O próprio Eqar disse, numa conferência de imprensa na capital sudanesa, Cartum, que o seu grupo renova o compromisso de cessar as hostilidades que mantém com o Exército sudanês desde o ano passado e que foi também renovado por ambas as partes pouco depois do derrube de al-Bashir no passado 11 de abril.
Eqar assegurou que a paz é a "reivindicação principal" sempre e quando dela participam todos os movimentos armados, sem excluir nenhuma fação. Por seu lado, o porta-voz da junta militar, Shamsaldín Kabashi, reiterou que "as partes sudanesas devem chegar a uma paz real com a participação de todas as fações armadas".
Também o braço do Movimento de Libertação do Sudão, liderado por Abdelaziz Adam al Helu, compromete-se, em Juba, a renovar o cessar-fogo por mais três meses e expressou o seu desejo de negociar a paz com o Governo de transição, que está previsto que seja formado pelos militares e pelas forças políticas civis.
Mohamed Hamdan Dagalo (à direita) e um dos líderes dos protestos (à esquerda) assinam um acordo de cessar-fogo a 17 de julhoFoto: Getty Images/AFP/H. El-Tabei
O líder militar daquela fação, Jagod Mukuar, disse numa conferência de imprensa antes desta reunião com as autoridades sudanesas que esperava pela formação do novo executivo para continuar as negociações. Os dois grupos deslocaram-se ao Sudão do Sul a convite do Presidente Salva Kiir para se reunirem com uma delegação dos militares, liderada pelo general Mohamed Hamdan Dagalo, "Hemedti", vice-presidente da junta e novo homem forte do Sudão.
Protestos no país
Centenas de membros do movimento pró-democracia protestaram na sexta-feira (25.07) em várias cidades do país pedindo que o futuro Governo de transição seja constituído por especialistas e tecnocratas e não por partidos políticos.
Os manifestantes exigiram ainda responsabilidade aos implicados na repressão contra os protestos iniciados em dezembro. Segundo os organizadores, mais de 250 pessoas morreram desde o início da revolta contra o então chefe de Estado do país.
O ex-chefe de Estado do Sudão Omar al-Bashir foi destituído pelo Exército a 11 de abril, depois de mais de quatro meses de contestação popular, inicialmente motivada pelo aumento dos preços do pão e de outros bens essenciais. Os protestos acabaram por transformar-se num movimento contra o Presidente, que liderava o país desde 1989, quando chegou ao poder através de um golpe de Estado.
O povo contra o exército - Cronologia da luta pelo poder no Sudão
A evacuação violenta de um campo de protesto na capital sudanesa, Cartum, exacerbou as tensões entre manifestantes e militares. A luta pelo poder documentada em imagens.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Protesto
Durante semanas, manifestantes sudaneses resistiram diante do Ministério da Defesa. Milhares exigiram um conselho de transição que incluísse civis, para poderem também decidir sobre o futuro do país. No início de junho, os militares atacaram violentamente os manifestantes. Dezenas de pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Em nome da nação
Um manifestante com a bandeira nacional perto do quartel-general do exército. A bandeira representa a exigência dos manifestantes de civis nos comandos para moldarem o futuro do país juntamente com os militares. A acontecer, este seria um passo importante para a democracia.
Foto: Reuters
Sinais de alarme
Os militares aumentaram massivamente a presença nas ruas, nos dias que antecederam o massacre no início de junho. Muitos manifestantes interpretaram a situação como prova de que o exército não queria abandonar o poder. Mas esta tinha sido a grade esperança de muitos sudaneses após a queda do ditador Omar al-Bashir.
Foto: Getty Images/AFP
Uma era chega ao fim
Omar al-Bashir governou o Sudão desde 1993 até sua queda, em abril de 2019. Os seus críticos foram violentamente reprimidos. Para manter o poder, al-Bashir chegou a dissolver o Parlamento, em 1999. Na mesma altura, concedeu asilo ao líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. Acima de tudo, porém, o seu nome continua associado à guerra sangrenta contra os separatistas na província de Darfur.
Foto: Reuters/M. Nureldin Abdallah
Ditador em tribunal
Ver o ditador em tribunal era um sonho antigo de muitos sudaneses. A 16 de junho, Omar al-Bashir apareceu no processo contra ele instaurado. Para já, é acusado de corrupção e posse ilegal de moeda estrangeira. Depois da sua queda, a polícia encontrou na sua residência sacos de dinheiro no valor de mais de cem milhões de dólares.
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As mulheres querem ser ouvidas
Muitas mulheres participaram nos protestos. As mulheres no Sudão sempre beneficiaram de uma liberdade relativamente significante. Agora, não só reforçam quantitativamente as manifestações, como também lhes dão um rosto diferente. A sua presença expressa o desejo de democracia e igualdade de muitos cidadãos.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Ícone da revolução
A estudante de arquitetura Alaa Salah tornou-se a face da revolução. Quando subiu ao telhado de um carro em abril para falar com os manifestantes, um fotógrafo atento fez esta imagem. Desde então, ela tem sido partilhada inúmeras vezes nas redes sociais. Fotos como estas tornaram-se uma parte importante da revolução, porque convidam os cidadãos a identificarem-se com os protestos.
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Solidariedade internacional
Graças às plataformas sociais online, a notícia dos protestos no Sudão rapidamente correu o mundo. E logo mereceram apoio internacional, como aqui em Edimburgo, Escócia. Recentemente os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia também se fizeram ouvir: "A UE apela ao fim imediato de toda a violência contra o povo sudanês", disseram numa declaração oficial.
No entanto, a oposição ao exército no poder não é consensual. Muitos sudaneses apoiam os militares, porque acreditam que só uma governação autoritária pode conduzir o país a um futuro próspero. Os apoiantes dos militares consideram que o General Abdel Fattah Burhan, presidente do Conselho Militar, representado no cartaz, reúne as condições para cumprir a tarefa.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
À espera
Mas a eminência parda General Mohammed Hamdan Daglu, conhecido por Hemeti, é tido como o homem forte do regime de transição. Daglu comandou a tropa que reprimiu os protestos em frente ao quartel-general militar. Durante a guerra do Darfur, liderou as milícias Janjaweed, que combateram brutalmente os rebeldes. Os manifestantes temem que ele possa vir a ser o novo governante do país.
Foto: Reuters/M.N. Abdallah
O Golfo preocupado
Políticos de outros países árabes também olham com nervosismo para o Sudão. Por exemplo, Mohamed bin Zayad al-Nahyan, o Príncipe Herdeiro dos Emirados Árabes Unidos. Tal como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos temem que o protesto possa ser um exemplo de uma revolução popular bem-sucedida na região, pondo em questão governos autoritários. Ambos os países apoiam os militares sudaneses.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Ministry of Presidential Affairs/M. Al Hammadi
Os vizinhos a norte
Também no Cairo se olha com preocupação para Cartum. O Governo do Presidente Abdel-Fattah al-Sisi receia que a Irmandade Muçulmana possa ganhar influência no Sudão - precisamente o grupo contra o qual o Governo egípcio está a agir com todas as suas forças no seu próprio país. Se a Irmandade Muçulmana se estabelecesse no Sudão, poderia, a partir daí, voltar a exercer uma forte influência no Egito.
Foto: picture-alliance/Photoshot/MENA
Protestos sem fim à vista
No Sudão prosseguem os protestos. No dia 14 de junho, Sadiq al-Mahdi, uma das principais figuras da oposição do país durante décadas, exigiu uma investigação da evacuação violenta do campo de protesto. É algo que não pode agradar aos militares. As tensões poderão voltar a agravar-se.