Sudão: Grupos pró-democracia criam "conselho revolucionário"
7 de julho de 2022Reunidos esta quinta-feira (07.07) em Cartum perante a imprensa, os sindicatos, partidos e "comités de resistência" - grupos de bairro que organizam as manifestações contra o golpe de Estado de 25 de outubro de 2021 em todo o país - apresentaram o seu plano.
"O conselho revolucionário vai permitir agrupar as forças revolucionárias sob as ordens de uma direção unificada" pró-democracia, disse uma das coordenadoras, Manal Siam.
O conselho deverá ter "100 membros, metade dos quais militantes dos comités de resistência e a outra metade representantes de partidos, de sindicatos e de movimentos rebeldes que recusaram a paz com o regime militar, assim como pessoas próximas de manifestantes mortos na repressão dos protestos, disse outro coordenador do movimento, Mohammed al-Jili.
O líder militar e presidente do mais importante órgão executivo do Sudão, Abddel Fatah al-Burhan, anunciou na segunda-feira (04.07) que as Forças Armadas não participarão no fórum que as Nações Unidas e União Africana estão a promover, para os partidos formarem um Governo civil.
Para o sindicato dos médicos sudaneses, ao deixar os civis discutir sozinhos a formação de um governo, o general Al-Burhan "tentou passar a bola, fingindo que estava agora no campo dos civis (...), mas falhou".
Para o campo civil não se discute um governo enquanto o líder dos golpistas ainda estiver no poder e mantiver a influência dos militares no poder.
O que os preocupa é o plano que o general Al-Burhan começou a colocar em prática na quarta-feira (06.07): O Conselho Soberano, a autoridade máxima da transição até agora, foi expurgado dos seus membros civis e será transformado num Conselho Supremo das Forças Armadas, que será responsável pelas tarefas de segurança e defesa.
Este órgão, acusam ativistas e especialistas, permitirá que o exército tenha voz na política e na economia -- sob o pretexto de gerir questões de "defesa e segurança".
Pela rua, com gestão unificada ou não, o movimento continua. Após oito meses de uma mobilização que perdeu força nos últimos meses, os protestos voltaram a florescer, desafiando uma repressão que já deixou 114 mortos - muitos por balas - e milhares de feridos, segundo o sindicato de médicos.