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Sudão: Iminente chacina em Darfur pode estimular a vingança

Jennifer Holleis
13 de maio de 2024

Observadores e organizações de defesa dos direitos humanos temem o pior, caso o cerco em curso das Forças de Apoio Rápido do Sudão a El Fasher, o último reduto das Forças Armadas Sudanesas em Darfur, culmine num ataque.

O cerco a El Fasher, incluindo os campos de refugiados, está a agravar a vida dos deslocados internos
O cerco a El Fasher, incluindo os campos de refugiados, está a agravar a vida dos deslocados internosFoto: Albert Gonzalez Faran/Unamid/Han/dpa/picture alliance

Desde o início da guerra no Sudão, em abril de 2023, El Fasher transformou-se no maior centro humanitário do Darfur. Atualmente, alberga cerca de 1,5 milhões de pessoas, incluindo 800.000 deslocados internos.

Um acordo de paz informal entre as Forças Armadas Sudanesas, sob o comando do General Abdel Fattah Burhan, e o seu rival, o chefe das Forças de Apoio Rápido, o General Mohammed Hamdan Dagalo, manteve até agora uma relativa segurança na cidade.

No entanto, esta situação alterou-se no mês passado, quando dois grupos armados de El Fasher, o Exército de Libertação do Sudão e o Movimento para a Justiça e a Igualdade, anunciaram planos para se aliarem às Forças Armadas do Sudão.

Hager Ali, investigadora do instituto alemão GIGA para estudos globais, considera que este ataque pode ser dificil de travar. "Estabeleceram-se com as suas próprias redes regionais e têm as Forças de Apoio Rápido como inimigo comum de muitas destas facções armadas opostas. É um fator bastante potente para as unir de novo e para levar a cabo ataques coordenados contra as forças de apoio rápido", afirma.

A investigadora acredita, no entanto, que do outro lado da barricada as forças paramilitares preparam alianças rivais. "O aprofundamento e a concentração dos esforços militares das RSF no norte do Sudão garantem o controlo ou a limitação da força destas novas alianças potenciais e asseguram a antecipação de grandes contra-campanhas militares das milícias opositoras das RSF naquela região", explica.

Devido ao cerco de El Fasher, a ajuda humanitária foi bloqueada pelas Forças de Apoio RápidoFoto: Unamid Handout/Albert Gonzalez F/picture alliance

Tensão aumenta de dia para dia

Constantin Grund, diretor do gabinete alemão da Friedrich Ebert Stiftung em Cartum, capital do Sudão, descreve um cenário fatal: se houver um ataque, será uma batalha sangrenta.

"El Fasher é o último bastião das SAF e dos seus aliados no Darfur, atualmente cercado pelas RSF, e as tensões aumentam todos os dias. A cidade está inundada por centenas de milhares de refugiados. Se a cidade for atacada, será uma batalha muito sangrenta porque o que está em jogo é extremamente elevado, especialmente para as FAS."

No início deste mês, Toby Harward, coordenador humanitário adjunto da ONU para o Sudão, afirmou num relatório que a ajuda humanitária à cidade sudanesa tem sido impedida pelas forças militares.

No relatório, vem ainda descrito a deterioração significativa da segurança, com o aumento dos assassinatos arbitrários, o roubo de gado, o incêndio sistemático de aldeias inteiras nas zonas rurais, a escalada dos bombardeamentos aéreos em partes da cidade e um cerco cada vez mais apertado em torno de El Fasher.

Resta saber se as RSF vão lançar um ataque em grande escala para tomar o controlo de El Fasher e, consequentemente, de um terço do território nacional, incluindo as fronteiras internacionais do Sudão com a Líbia, o Chade e a República Centro-Africana.

Para Constantin Grund, uma vitória militar das RSF em El Fasher teria um preço político muito elevado. "Por um lado, aceleraria ainda mais o declínio atualmente observado no apoio local e, por outro lado, os enormes esforços que estão a ser feitos, incluindo e especialmente nos meios de comunicação internacionais, para dar à RSF uma aparência de legitimidade, seriam anulados de uma só vez", argumenta.

Sudão em pé de guerra civil

08:16

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Apelos internacionais ignorados

Os apelos internacionais para um cessar-fogo e a reabertura dos corredores de ajuda humanitária continuam a não ser ouvidos por ambas as partes.

A 2 de maio, o ministro saudita dos Negócios Estrangeiros fez telefonemas aos dois generais e instou-os a "parar com os combates para proteger as instituições do Estado e a nação do Sudão”.

A investigadora Hager Ali lembra que esta situação poderia mudar se a atenção internacional aumentasse ou se fossem introduzidas sanções reais às RSF. "O ponto mais preocupante é a repressão contra civis. E isso é, sem dúvida, algo que demonstra a forma como as forças de apoio rápido se consideram, atualmente, completamente imunes a quaisquer consequências reais", destaca.

"Nem sequer existe a perceção de que possa haver sanções ou consequências ou impactos negativos no facto de cometerem atrocidades em massa contra civis neste momento, porque não é no Sudão que estão as atenções, mas também porque a comunidade internacional não fez exatamente um bom trabalho no passado ao processar as forças de apoio rápido por crimes contra a humanidade", lembra ainda Hager Ali.

De acordo com a ONU, a guerra no Sudão, que dura há quase 400 dias, já provocou mais de 15 mil mortos, deslocou mais de 8,6 milhões de pessoas e deixou quase 18 milhões de civis à beira da fome.

 

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