Sudão levanta estado de emergência imposto desde golpe
AFP | Lusa | tms
30 de maio de 2022
Junta Militar do Sudão levanta o estado de emergência imposto desde o golpe de Estado de outubro do ano passado. Medida visa "preparar o país para um diálogo frutuoso".
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O chefe do exército sudanês Abdel Fattah al-Burhan levantou, no domingo (29.05), o estado de emergência imposto desde o golpe militar do ano passado, disse o conselho soberano no poder.
O Sudão tem vindo a sofrer uma profunda agitação desde que Burhan liderou o golpe de 25 de outubro, interrompendo uma frágil transição após a expulsão do Presidente Omar al-Bashir, em 2019.
Burhan "emitiu um decreto de levantamento do estado de emergência em todo o país", disse o conselho numa declaração.
A ordem foi dada "para preparar o país para um diálogo frutuoso e significativo que alcance a estabilidade durante o período de transição", acrescentou.
A decisão de domingo foi tomada após uma reunião com altos funcionários militares recomendando o levantamento do estado de emergência e a libertação de pessoas detidas ao abrigo de uma lei de emergência.
A medida veio também após os apelos mais recentes do representante especial da ONU Volker Perthes para o levantamento do estado de emergência, na sequência do assassinato de dois manifestantes durante protestos pró-democracia no sábado.
Morte de manifestantes
Segundo ativistas, centenas de pessoas marcharam sábado em Cartum, onde as forças de segurança dispersaram e perseguiram de forma violenta a multidão.
"Estou chocado com a morte violenta de dois jovens manifestantes em Cartum ontem [sábado]. Mais uma vez: é hora de parar a violência", disse Volker Perthes, enviado da ONU, no Twitter.
As duas mortes ocorreram durante os protestos ocorridos em Kalakla, nos arredores de Cartum. Um foi morto com um tiro pelas forças de segurança enquanto o segundo sufocou após ter inalado gás lacrimogéneo, revelou o Comité de Médicos do Sudão, que integra o movimento pró-democracia.
Perthes instou as autoridades militares a levantar o estado de emergência imposto desde o golpe de estado de 25 de outubro e a encontrar "uma solução pacífica para a crise".
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Repressão
O Sudão tem sido abalado por protestos em massa desde o golpe, que foram marcados por uma violenta repressão que deixou quase 100 mortos e centenas feridos, de acordo com os médicos pró-democracia.
No domingo, os militares também recomendaram que a estação de TV da rede Al Jazeera, sediada no Qatar, fosse autorizada a retomar as operações no Sudão, depois de as autoridades a terem proibido em janeiro para cobertura "não profissional" de protestos.
A tomada do poder pelos militares desencadeou uma condenação internacional generalizada e medidas punitivas, incluindo cortes cruciais de ajuda por parte dos governos ocidentais, enquanto se aguarda o recomeço da transição para um governo civil.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.