Conselho Militar de Transição diz que manifestantes serão responsabilizados por eventuais mortes ou danos materiais. Movimento da oposição convoca um milhão de pessoas para exigir transição de poder aos civis.
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O Conselho Militar de Transição no poder no Sudão advertiu este sábado (29.06) que grupos opositores serão responsabilizados por qualquer morte ou danos materiais causados pelos protestos em massa convocados para este domingo (30.06).
A coalizão Forças para a Liberdade e Mudança (FFC) convocou um milhão de pessoas a ir às ruas da capital Cartum para pressionar os militares a entregarem o poder aos civis. "Nós alertamos sobre a gravidade da crise em que o nosso país se encontra", disse o Conselho Militar num comunicado divulgado pela agência de notícias governamental SUNA.
"A FFC será totalmente responsável por qualquer espírito perdido nesta marcha ou quaisquer danos causados aos cidadãos ou às instituições do Estado", acrescenta o documento.
O vice-chefe do Conselho Militar, o general Mohamed Hamdan Dagalo, alertou sobre alegados "vândalos" com uma "agenda oculta" que podem tentar tirar vantagem dos protestos. "Nós não queremos problemas, nós não precisamos de um conflito", afirmou.
Esta sexta-feira (28.06), a União Europeia (UE) disse que o direito do povo sudanês de protestar e expressar suas opiniões é "fundamental" e é amparado pela União Africana (UA).
O Departamento de Estado norte-americano pediu este sábado ao Conselho Militar que permita os protestos pacíficos e evite usar "qualquer tipo de violência" contra os sudaneses, que devem ter direito à liberdade de expressão.
Na passada quinta-feira, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas decidiu estender por mais quatro meses a sua missão de manutenção de paz na região de Darfur (UNAMID). A ONU justificou a continuação dos capacetes azuis na região devido aos últimos desenvolvimentos em Cartum.
Impasse
Depois de vários meses de manifestações, iniciados em dezembro de 2018, o exército sudanês liderou um golpe de Estado contra o antigo Presidente Omar al-Bashir em abril deste ano. Desde então, o Sudão é palco de um impasse entre o Conselho Militar e os líderes da oposição, que exigem a transferência de poder para os civis.
As negociações entre a contestação e os militares foram suspensas a 20 de maio por falta de acordo. A 3 de junho, protestos foram duramente reprimidos pelos militares, deixando mais de uma centena de mortos.
Mediadores liderados pela UA e o Presidente da Etiópia, Abiy Ahmed, estão a tentar promover o diálogo entre as partes. Na sexta-feira, o Conselho Militar disse que a proposta submetida pelos mediadores a 27 de junho era adequada para a retomada das negociações com os líderes dos protestos.
Este sábado, a Associação de Profissionais Sudaneses (SPA) informou que o chefe do comité de professores e um líder da FFC foram detidos. Os militares não comentaram a denúncia. "Apelamos à comunidade internacional para que exija a imediata soltura dos detidos. Essa ação do Conselho Militar de Transição é altamente prejudicial para o estabelecimento de confiança neste momento crucial", diz a SPA em comunicado.
O povo contra o exército - Cronologia da luta pelo poder no Sudão
A evacuação violenta de um campo de protesto na capital sudanesa, Cartum, exacerbou as tensões entre manifestantes e militares. A luta pelo poder documentada em imagens.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Protesto
Durante semanas, manifestantes sudaneses resistiram diante do Ministério da Defesa. Milhares exigiram um conselho de transição que incluísse civis, para poderem também decidir sobre o futuro do país. No início de junho, os militares atacaram violentamente os manifestantes. Dezenas de pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Em nome da nação
Um manifestante com a bandeira nacional perto do quartel-general do exército. A bandeira representa a exigência dos manifestantes de civis nos comandos para moldarem o futuro do país juntamente com os militares. A acontecer, este seria um passo importante para a democracia.
Foto: Reuters
Sinais de alarme
Os militares aumentaram massivamente a presença nas ruas, nos dias que antecederam o massacre no início de junho. Muitos manifestantes interpretaram a situação como prova de que o exército não queria abandonar o poder. Mas esta tinha sido a grade esperança de muitos sudaneses após a queda do ditador Omar al-Bashir.
Foto: Getty Images/AFP
Uma era chega ao fim
Omar al-Bashir governou o Sudão desde 1993 até sua queda, em abril de 2019. Os seus críticos foram violentamente reprimidos. Para manter o poder, al-Bashir chegou a dissolver o Parlamento, em 1999. Na mesma altura, concedeu asilo ao líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. Acima de tudo, porém, o seu nome continua associado à guerra sangrenta contra os separatistas na província de Darfur.
Foto: Reuters/M. Nureldin Abdallah
Ditador em tribunal
Ver o ditador em tribunal era um sonho antigo de muitos sudaneses. A 16 de junho, Omar al-Bashir apareceu no processo contra ele instaurado. Para já, é acusado de corrupção e posse ilegal de moeda estrangeira. Depois da sua queda, a polícia encontrou na sua residência sacos de dinheiro no valor de mais de cem milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Hjaj
As mulheres querem ser ouvidas
Muitas mulheres participaram nos protestos. As mulheres no Sudão sempre beneficiaram de uma liberdade relativamente significante. Agora, não só reforçam quantitativamente as manifestações, como também lhes dão um rosto diferente. A sua presença expressa o desejo de democracia e igualdade de muitos cidadãos.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Ícone da revolução
A estudante de arquitetura Alaa Salah tornou-se a face da revolução. Quando subiu ao telhado de um carro em abril para falar com os manifestantes, um fotógrafo atento fez esta imagem. Desde então, ela tem sido partilhada inúmeras vezes nas redes sociais. Fotos como estas tornaram-se uma parte importante da revolução, porque convidam os cidadãos a identificarem-se com os protestos.
Foto: Getty Images/AFP
Solidariedade internacional
Graças às plataformas sociais online, a notícia dos protestos no Sudão rapidamente correu o mundo. E logo mereceram apoio internacional, como aqui em Edimburgo, Escócia. Recentemente os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia também se fizeram ouvir: "A UE apela ao fim imediato de toda a violência contra o povo sudanês", disseram numa declaração oficial.
No entanto, a oposição ao exército no poder não é consensual. Muitos sudaneses apoiam os militares, porque acreditam que só uma governação autoritária pode conduzir o país a um futuro próspero. Os apoiantes dos militares consideram que o General Abdel Fattah Burhan, presidente do Conselho Militar, representado no cartaz, reúne as condições para cumprir a tarefa.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
À espera
Mas a eminência parda General Mohammed Hamdan Daglu, conhecido por Hemeti, é tido como o homem forte do regime de transição. Daglu comandou a tropa que reprimiu os protestos em frente ao quartel-general militar. Durante a guerra do Darfur, liderou as milícias Janjaweed, que combateram brutalmente os rebeldes. Os manifestantes temem que ele possa vir a ser o novo governante do país.
Foto: Reuters/M.N. Abdallah
O Golfo preocupado
Políticos de outros países árabes também olham com nervosismo para o Sudão. Por exemplo, Mohamed bin Zayad al-Nahyan, o Príncipe Herdeiro dos Emirados Árabes Unidos. Tal como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos temem que o protesto possa ser um exemplo de uma revolução popular bem-sucedida na região, pondo em questão governos autoritários. Ambos os países apoiam os militares sudaneses.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Ministry of Presidential Affairs/M. Al Hammadi
Os vizinhos a norte
Também no Cairo se olha com preocupação para Cartum. O Governo do Presidente Abdel-Fattah al-Sisi receia que a Irmandade Muçulmana possa ganhar influência no Sudão - precisamente o grupo contra o qual o Governo egípcio está a agir com todas as suas forças no seu próprio país. Se a Irmandade Muçulmana se estabelecesse no Sudão, poderia, a partir daí, voltar a exercer uma forte influência no Egito.
Foto: picture-alliance/Photoshot/MENA
Protestos sem fim à vista
No Sudão prosseguem os protestos. No dia 14 de junho, Sadiq al-Mahdi, uma das principais figuras da oposição do país durante décadas, exigiu uma investigação da evacuação violenta do campo de protesto. É algo que não pode agradar aos militares. As tensões poderão voltar a agravar-se.