Acordo para governo de transição assinado no Sudão
EFE | AP
4 de agosto de 2019
Plataforma civil da oposição e junta militar que controla o poder no Sudão assinaram este domingo, de forma preliminar, o documento que define as bases para um governo de transição durante os próximos três anos.
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O texto estipulado no sábado, que define as bases para um governo de transição durante os próximos três anos no Sudão, foi assinado pelo vice-presidente do Conselho Militar Transitório, o general Mohammed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, e o representante da plataforma civil da oposição Forças da Liberdade e da Mudança, Ahmad Rabea, durante uma cerimónia na presença dos mediadores da Etiópia e da União Africana (UA).
A assinatura definitiva da Carta Magna terá lugar no próximo dia 17 de agosto, segundo anunciou durante o ato o mediador da UA, Mohammed Hassan Labat.
Por sua vez, Hemedti disse que a assinatura deste domingo representa o "encerramento de uma página da história do Sudão caracterizada pelas guerras", um passo no qual "não há vencedores nem derrotados", já que a prioridade do pacto foi "a pátria". "Entrámos nestas negociações como parceiros e saímos como uma equipa", acrescentou.
O chefe militar, líder das controversas Forças de Apoio Rápido (FAR), que a oposição acusa de matar dezenas de pessoas nos últimos meses, prometeu também julgar "todos os que cometeram crimes contra a pátria".
Omar al-Dagir, um dos líderes do movimento de protesto sudanês, afirmou também que uma investigação "justa e transparente" à violência das forças de segurança contra manifestantes e a paz com os grupos rebeldes serão prioridades do governo de transição.
"Não haverá democracia sem paz", afirmou. "A reconciliação nacional será o slogan do período de transição".
União Africana pede que acordo seja respeitado
Já o enviado da UA pediu a todas as partes envolvidas no acordo que sejam fiéis ao Estado, respeitem os aparelhos de segurança, mantenham a "independência" das suas decisões e cuidem das mulheres e dos jovens sudaneses.
O acordo constitucional complementa o pacto alcançado há três semanas para a formação de um Conselho Soberano que governe o país durante os próximos três anos e três meses, período durante o qual se tentará assentar as bases institucionais para a realização de eleições democráticas com garantias.
De acordo com o texto referendado este domingo, o Sudão terá um Conselho Soberano, um Conselho Legislativo e um Conselho de Ministros, este último dirigido por um primeiro-ministro nomeado pelas Forças da Liberdade e da Mudança e referendado pelo Conselho Soberano.
O país tenta sair assim da instabilidade surgida após meses de protestos contra o o aumento dos preços e a escassez dos produtos básicos que resultaram num golpe de Estado no último dia 11 de abril que pôs fim a 30 anos de Governo do ex-Presidente Omar al Bashir.
O povo contra o exército - Cronologia da luta pelo poder no Sudão
A evacuação violenta de um campo de protesto na capital sudanesa, Cartum, exacerbou as tensões entre manifestantes e militares. A luta pelo poder documentada em imagens.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Protesto
Durante semanas, manifestantes sudaneses resistiram diante do Ministério da Defesa. Milhares exigiram um conselho de transição que incluísse civis, para poderem também decidir sobre o futuro do país. No início de junho, os militares atacaram violentamente os manifestantes. Dezenas de pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Em nome da nação
Um manifestante com a bandeira nacional perto do quartel-general do exército. A bandeira representa a exigência dos manifestantes de civis nos comandos para moldarem o futuro do país juntamente com os militares. A acontecer, este seria um passo importante para a democracia.
Foto: Reuters
Sinais de alarme
Os militares aumentaram massivamente a presença nas ruas, nos dias que antecederam o massacre no início de junho. Muitos manifestantes interpretaram a situação como prova de que o exército não queria abandonar o poder. Mas esta tinha sido a grade esperança de muitos sudaneses após a queda do ditador Omar al-Bashir.
Foto: Getty Images/AFP
Uma era chega ao fim
Omar al-Bashir governou o Sudão desde 1993 até sua queda, em abril de 2019. Os seus críticos foram violentamente reprimidos. Para manter o poder, al-Bashir chegou a dissolver o Parlamento, em 1999. Na mesma altura, concedeu asilo ao líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. Acima de tudo, porém, o seu nome continua associado à guerra sangrenta contra os separatistas na província de Darfur.
Foto: Reuters/M. Nureldin Abdallah
Ditador em tribunal
Ver o ditador em tribunal era um sonho antigo de muitos sudaneses. A 16 de junho, Omar al-Bashir apareceu no processo contra ele instaurado. Para já, é acusado de corrupção e posse ilegal de moeda estrangeira. Depois da sua queda, a polícia encontrou na sua residência sacos de dinheiro no valor de mais de cem milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Hjaj
As mulheres querem ser ouvidas
Muitas mulheres participaram nos protestos. As mulheres no Sudão sempre beneficiaram de uma liberdade relativamente significante. Agora, não só reforçam quantitativamente as manifestações, como também lhes dão um rosto diferente. A sua presença expressa o desejo de democracia e igualdade de muitos cidadãos.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Ícone da revolução
A estudante de arquitetura Alaa Salah tornou-se a face da revolução. Quando subiu ao telhado de um carro em abril para falar com os manifestantes, um fotógrafo atento fez esta imagem. Desde então, ela tem sido partilhada inúmeras vezes nas redes sociais. Fotos como estas tornaram-se uma parte importante da revolução, porque convidam os cidadãos a identificarem-se com os protestos.
Foto: Getty Images/AFP
Solidariedade internacional
Graças às plataformas sociais online, a notícia dos protestos no Sudão rapidamente correu o mundo. E logo mereceram apoio internacional, como aqui em Edimburgo, Escócia. Recentemente os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia também se fizeram ouvir: "A UE apela ao fim imediato de toda a violência contra o povo sudanês", disseram numa declaração oficial.
No entanto, a oposição ao exército no poder não é consensual. Muitos sudaneses apoiam os militares, porque acreditam que só uma governação autoritária pode conduzir o país a um futuro próspero. Os apoiantes dos militares consideram que o General Abdel Fattah Burhan, presidente do Conselho Militar, representado no cartaz, reúne as condições para cumprir a tarefa.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
À espera
Mas a eminência parda General Mohammed Hamdan Daglu, conhecido por Hemeti, é tido como o homem forte do regime de transição. Daglu comandou a tropa que reprimiu os protestos em frente ao quartel-general militar. Durante a guerra do Darfur, liderou as milícias Janjaweed, que combateram brutalmente os rebeldes. Os manifestantes temem que ele possa vir a ser o novo governante do país.
Foto: Reuters/M.N. Abdallah
O Golfo preocupado
Políticos de outros países árabes também olham com nervosismo para o Sudão. Por exemplo, Mohamed bin Zayad al-Nahyan, o Príncipe Herdeiro dos Emirados Árabes Unidos. Tal como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos temem que o protesto possa ser um exemplo de uma revolução popular bem-sucedida na região, pondo em questão governos autoritários. Ambos os países apoiam os militares sudaneses.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Ministry of Presidential Affairs/M. Al Hammadi
Os vizinhos a norte
Também no Cairo se olha com preocupação para Cartum. O Governo do Presidente Abdel-Fattah al-Sisi receia que a Irmandade Muçulmana possa ganhar influência no Sudão - precisamente o grupo contra o qual o Governo egípcio está a agir com todas as suas forças no seu próprio país. Se a Irmandade Muçulmana se estabelecesse no Sudão, poderia, a partir daí, voltar a exercer uma forte influência no Egito.
Foto: picture-alliance/Photoshot/MENA
Protestos sem fim à vista
No Sudão prosseguem os protestos. No dia 14 de junho, Sadiq al-Mahdi, uma das principais figuras da oposição do país durante décadas, exigiu uma investigação da evacuação violenta do campo de protesto. É algo que não pode agradar aos militares. As tensões poderão voltar a agravar-se.