Sudão: Movimento de protesto promete ataques em todo o país
Lusa
6 de novembro de 2021
Movimento deixou claro que não quer iniciativas internacionais que visem um acordo de divisão de poder com os militares e anunciou dois dias de greve em todo o país, a começar este domingo (07.11).
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O movimento de protesto no Sudão recusou iniciativas internacionais para atingir um acordo de divisão de poder com os militares e anunciou dois dias de greves a nível nacional, que começam este domingo (06.11).
A recusa foi manifestada após o líder do principal partido do Sudão ter pedido à comunidade internacional que aumentasse a pressão exercida junto dos generais no poder para impedir uma "escalada infeliz" do conflito.
Os militares sudaneses tomaram o poder em 25 de outubro, tendo dissolvido o governo de transição e detido dezenas de funcionários do governo e políticos.
O golpe foi recebido com protestos internacionais e com enormes protestos nas ruas de Cartum e em outros locais do país.
A Associação de Profissionais do Sudão, que liderou o levantamento popular contra al-Bashir, considerou na sexta-feira (05.11) que as iniciativas de mediação que "buscam um novo acordo" entre os líderes militares e civis iriam "reproduzir e agravar" a crise do país.
Esta associação prometeu manter os protestos até que um governo civil pleno seja empossado para liderar a transição democrática.
Sob o lema "Sem negociações, sem compromisso, sem divisão de poder", a mesma associação, que tem presença em todo o país, convocou greves e desobediência civil para os domingos e segundas-feiras, não dando tréguas aos militares.
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"Militares sem sinais de boa vontade", diz Umma
Al-Wathig al-Berier, secretário-geral do partido Umma, principal partido do Sudão, exortou, na sexta-feira (05.11), a comunidade internacional a pressionar os militares para diminuir a escalada, numa altura em que os generais continuam a desmantelar o governo de transição e a deter líderes pró-democracia. O Umma é o maior partido político do Sudão e tinha ministros no governo agora deposto.
"Precisamos de criar uma atmosfera e diminuir as tensões para que possamos sentar à mesma mesa. Mas é evidente que os militares continuam com o seu plano e sem sinais que evidenciem boa vontade", disse Al-Wathig al-Berier à AP.
O responsável aludia à detenção, na passada quinta-feira, de três líderes das Forças pela Liberdade e Mudança.
Segundo Al-Berier, os esforços de mediação não foram até agora frutíferos e culpou os militares pelo fracasso, alertando simultaneamente para a possibilidade de haver um derramamento de sangue iminente, já que os movimentos de protesto e os chamados Comités de Resistência não abdicam de afastar os militares de qualquer futuro governo.
O povo contra o exército - Cronologia da luta pelo poder no Sudão
A evacuação violenta de um campo de protesto na capital sudanesa, Cartum, exacerbou as tensões entre manifestantes e militares. A luta pelo poder documentada em imagens.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Protesto
Durante semanas, manifestantes sudaneses resistiram diante do Ministério da Defesa. Milhares exigiram um conselho de transição que incluísse civis, para poderem também decidir sobre o futuro do país. No início de junho, os militares atacaram violentamente os manifestantes. Dezenas de pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Em nome da nação
Um manifestante com a bandeira nacional perto do quartel-general do exército. A bandeira representa a exigência dos manifestantes de civis nos comandos para moldarem o futuro do país juntamente com os militares. A acontecer, este seria um passo importante para a democracia.
Foto: Reuters
Sinais de alarme
Os militares aumentaram massivamente a presença nas ruas, nos dias que antecederam o massacre no início de junho. Muitos manifestantes interpretaram a situação como prova de que o exército não queria abandonar o poder. Mas esta tinha sido a grade esperança de muitos sudaneses após a queda do ditador Omar al-Bashir.
Foto: Getty Images/AFP
Uma era chega ao fim
Omar al-Bashir governou o Sudão desde 1993 até sua queda, em abril de 2019. Os seus críticos foram violentamente reprimidos. Para manter o poder, al-Bashir chegou a dissolver o Parlamento, em 1999. Na mesma altura, concedeu asilo ao líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. Acima de tudo, porém, o seu nome continua associado à guerra sangrenta contra os separatistas na província de Darfur.
Foto: Reuters/M. Nureldin Abdallah
Ditador em tribunal
Ver o ditador em tribunal era um sonho antigo de muitos sudaneses. A 16 de junho, Omar al-Bashir apareceu no processo contra ele instaurado. Para já, é acusado de corrupção e posse ilegal de moeda estrangeira. Depois da sua queda, a polícia encontrou na sua residência sacos de dinheiro no valor de mais de cem milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Hjaj
As mulheres querem ser ouvidas
Muitas mulheres participaram nos protestos. As mulheres no Sudão sempre beneficiaram de uma liberdade relativamente significante. Agora, não só reforçam quantitativamente as manifestações, como também lhes dão um rosto diferente. A sua presença expressa o desejo de democracia e igualdade de muitos cidadãos.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Ícone da revolução
A estudante de arquitetura Alaa Salah tornou-se a face da revolução. Quando subiu ao telhado de um carro em abril para falar com os manifestantes, um fotógrafo atento fez esta imagem. Desde então, ela tem sido partilhada inúmeras vezes nas redes sociais. Fotos como estas tornaram-se uma parte importante da revolução, porque convidam os cidadãos a identificarem-se com os protestos.
Foto: Getty Images/AFP
Solidariedade internacional
Graças às plataformas sociais online, a notícia dos protestos no Sudão rapidamente correu o mundo. E logo mereceram apoio internacional, como aqui em Edimburgo, Escócia. Recentemente os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia também se fizeram ouvir: "A UE apela ao fim imediato de toda a violência contra o povo sudanês", disseram numa declaração oficial.
No entanto, a oposição ao exército no poder não é consensual. Muitos sudaneses apoiam os militares, porque acreditam que só uma governação autoritária pode conduzir o país a um futuro próspero. Os apoiantes dos militares consideram que o General Abdel Fattah Burhan, presidente do Conselho Militar, representado no cartaz, reúne as condições para cumprir a tarefa.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
À espera
Mas a eminência parda General Mohammed Hamdan Daglu, conhecido por Hemeti, é tido como o homem forte do regime de transição. Daglu comandou a tropa que reprimiu os protestos em frente ao quartel-general militar. Durante a guerra do Darfur, liderou as milícias Janjaweed, que combateram brutalmente os rebeldes. Os manifestantes temem que ele possa vir a ser o novo governante do país.
Foto: Reuters/M.N. Abdallah
O Golfo preocupado
Políticos de outros países árabes também olham com nervosismo para o Sudão. Por exemplo, Mohamed bin Zayad al-Nahyan, o Príncipe Herdeiro dos Emirados Árabes Unidos. Tal como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos temem que o protesto possa ser um exemplo de uma revolução popular bem-sucedida na região, pondo em questão governos autoritários. Ambos os países apoiam os militares sudaneses.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Ministry of Presidential Affairs/M. Al Hammadi
Os vizinhos a norte
Também no Cairo se olha com preocupação para Cartum. O Governo do Presidente Abdel-Fattah al-Sisi receia que a Irmandade Muçulmana possa ganhar influência no Sudão - precisamente o grupo contra o qual o Governo egípcio está a agir com todas as suas forças no seu próprio país. Se a Irmandade Muçulmana se estabelecesse no Sudão, poderia, a partir daí, voltar a exercer uma forte influência no Egito.
Foto: picture-alliance/Photoshot/MENA
Protestos sem fim à vista
No Sudão prosseguem os protestos. No dia 14 de junho, Sadiq al-Mahdi, uma das principais figuras da oposição do país durante décadas, exigiu uma investigação da evacuação violenta do campo de protesto. É algo que não pode agradar aos militares. As tensões poderão voltar a agravar-se.